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ARGENTINA
Governo decide impedir manifestações dos desempregados, depois de convivência pacífica que incluiu oferta de cargos
Kirchner muda e endurece com piqueteiros
MAELI PRADO
DE BUENOS AIRES
A um mês e meio das eleições legislativas de outubro, que renovarão parte do Congresso, o governo do presidente da Argentina,
Néstor Kirchner, mudou o trato
com os chamados piqueteiros,
grupos de desempregados que
protestam pedindo trabalho e
medidas sociais.
Desde o final da semana retrasada, os chamados "piqueteiros duros", que fazem oposição ao atual
governo, estão sendo impedidos
por um forte operativo policial de
bloquear vias de acesso à capital
federal, Buenos Aires, e de protestar na praça de Maio.
Até agora, o governo Kirchner
vinha evitando confronto com os
manifestantes. Chegou inclusive a
estabelecer uma ligação forte com
uma parcela dos piqueteiros
-representantes de alguns grupos chegam inclusive a ocupar
cargos dentro do governo.
Parte dos grupos, entretanto,
continuou na oposição, e nos últimos meses intensificou os protestos, realizando bloqueios para pedir aumento nos benefícios sociais que recebem do Estado.
A partir daí, os piquetes se
transformaram em outro capítulo
da briga entre Kirchner e o ex-presidente Eduardo Duhalde
(2002-2003) pela vitória de seus
candidatos nas eleições. Ambos
pertencem ao Partido Justicialista, mas apresentaram listas separadas para o pleito.
Em discursos no início da semana passada, o presidente argentino afirmou que há um pacto entre
Duhalde e o também ex-presidente Carlos Menem (1989-99)
para "desestabilizar" seu governo
-Duhalde e Menem sempre disputaram espaço entre si dentro do
partido. O pacto a que se referiu
Kirchner, sem provas, seria o financiamento de grupos piqueteiros para que realizem protestos
contra o governo.
Conseguir que candidatos
apoiados por Kirchner ganhem as
eleições é uma das principais metas do governo. O presidente argentino já afirmou que é fundamental que a população "aprove"
sua gestão no pleito para ter aval
para seguir governando.
Feridos
Com a aproximação das eleições legislativas, o governo decidiu impedir os piquetes. O primeiro sinal mais forte da mudança de atitude aconteceu na quinta-feira da semana retrasada, quando a política reprimiu um protesto no centro de eventos La Rural,
em Buenos Aires, em um dia em
que estava prevista a presença do
ministro da Economia argentino,
Roberto Lavagna.
Nesse dia, 15 piqueteiros foram
detidos. Sete pessoas ficaram feridas: dois manifestantes, quatro
policiais e um segurança do La
Rural. Além disso, ao longo da semana passada a polícia não deixou que piqueteiros bloqueassem
a ponte Pueyrredón, um dos principais acessos à cidade.
O ministro do Interior da Argentina, Aníbal Fernández, advertiu na semana passada que o
governo não permitiria um novo
acampamento de manifestantes
na praça de Maio, como ocorreu
há algumas semanas.
"A praça de Maio não é um
camping", afirmou Fernández.
Foi o que aconteceu no final da
tarde da última sexta-feira, quando uma grande marcha de manifestantes foi impedida pela polícia
de entrar na praça de Maio.
Houve momentos de tensão
quando um grupo forçou a passagem através da barreira de policiais.
Participaram da mobilização
piqueteiros, empregados em greve de um dos principais hospitais
públicos da cidade, militantes de
partidos de esquerda e estudantes
universitários.
A praça é um emblemático ponto de manifestações em Buenos
Aires. É onde as Mães da Praça de
Maio protestam há mais de duas
décadas pelos seus filhos e netos
desaparecidos durante a ditadura
militar (1976-83) no país.
"Brandos"
Os principais grupos piqueteiros que apóiam Kirchner são a Federação de Terras e Casas, cujo líder, Luis D'Elía, se autodenomina
um "soldado a serviço do presidente", e a Bairros de Pé.
Esses grupos, chamados de piqueteiros "brandos", têm trânsito
fácil na Casa Rosada e, de acordo
com a imprensa, são mais beneficiados pelos benefícios sociais
que o governo concede aos desempregados do que os que fazem
oposição a Kirchner. O governo
nega a acusação.
Quando o presidente argentino
convocou a população a boicotar
a Shell, como reação à alta nos
preços dos combustíveis, grupos
piqueteiros que apóiam o governo bloquearam vários postos da
multinacional. Segundo os jornais locais, foram coordenados
pelo governo.
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