São Paulo, domingo, 04 de setembro de 2005

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MISSÃO NO CARIBE

Para eleições, jipes ganham blindagem, e Urutus, escavadeiras

Brasil se prepara para aumento da violência no Haiti

RICARDO BONALUME NETO
DA REPORTAGEM LOCAL

O contingente brasileiro no Haiti está se preparando para o quase certo aumento da violência com a aproximação das eleições no país caribenho, previstas para outubro. Um veículo blindado Urutu está sendo adaptado às pressas em ambulância. Os jipes Land Rover Defender receberão blindagem. E dois outros Urutus estão recebendo lâminas escavadeiras para remoção de obstáculos e barricadas.
O Urutu é um blindado de transporte de tropas de cerca de dez toneladas, fabricado pela Engesa, empresa que não existe mais. Cerca de mil Urutus foram fabricados em várias versões -além da mais comum de transporte de tropas, havia veículo porta-morteiro, veículo-oficina e veículo-ambulância, entre outras.
O Exército Brasileiro comprou cerca de 300, e os outros foram exportados para onze países. Apenas Chile e Tunísia compraram a versão ambulância.
O Exército viu agora a necessidade de ocupar o Batalhão Haiti com uma ambulância blindada, dotada de duas macas e equipamento médico de emergência.
Por sorte, o ex-gerente de protótipos da finada Engesa, Riccardo Furlan, trabalha hoje como gerente industrial na O'Gara-Hess & Eisenhardt, empresa americana especializada em blindagem de veículos que tem filial no Brasil.
Mais sorte ainda, Furlan está no momento alugando espaço nas oficinas do Arsenal de Guerra de São Paulo para montar um grupo de caminhões blindados encomendado pela polícia da Líbia. E ainda mais outro lance de sorte foi encontrar um teto blindado de ambulância disponível.
Em tempo recorde, pouco mais que uma semana, Furlan e sua equipe estão adaptando os três Urutus. Os veículos têm que estar prontos até o próximo dia 13, quando devem seguir provavelmente para o Rio para embarcar em navio para o Haiti.
Além do teto mais alto, o Urutu-ambulância vai ter uma novidade criada por Furlan, um posto de pilotagem com vidro blindado em vez de periscópios. O vidro, de seis centímetros de espessura, permite uma visão muito melhor, além de ser capaz de resistir à munição comum de fuzil.
Já os Land Rover deverão receber no próprio Haiti os kits de blindagem da O'Gara-Hess & Eisenhardt. A mesma empresa é responsável pela blindagem dos jipões Hummer do exército dos EUA no Iraque.
Incidentes ocorridos em fevereiro passado mostram que a blindagem veicular poderia ter evitado alguns ferimentos.
No início da tarde do dia 25 de fevereiro, uma bala atravessou a porta de um veículo e atingiu um soldado brasileiro no coturno, sem causar ferimento.
Por volta das 16h30 um soldado foi ferido no braço por estilhaços, sem gravidade. E às 19h outro soldado também foi ferido no braço. No dia seguinte, ainda outro militar foi ferido, no braço e no rosto, com estilhaços da bala e do vidro do pára-brisa do veículo.
Cada contingente brasileiro é formado por cerca de 1.200 soldados e fuzileiros navais e permanece por seis meses no Haiti. O primeiro contingente, enviado em maio do ano passado, teve um ferido. O segundo continente teve sete militares baleados.
O terceiro contingente chegou em junho passado. O Brasil comanda a força de paz da ONU de cerca de 6.700 soldados, muitos dos quais latino-americanos.
O terceiro contingente tem um maior reforço na tropa de engenharia, necessária devido ao péssimo estado das ruas haitianas. Além disso, há quantidades formidáveis de lixo que precisam ser removidas. As gangues colocam obstáculos debaixo do lixo para furar pneus dos veículos das Nações Unidas.


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