São Paulo, terça-feira, 04 de setembro de 2007

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Crise em Darfur piora com confronto entre árabes

Milícias antes aliadas disputam espólio de conflito que fez centenas de milhares de mortos

Rixa expulsa assistentes humanitários e dificulta recuperação da região do Sudão, que deve receber força internacional logo

JEFFREY GETTLEMAN
DO "NEW YORK TIMES", NO SUDÃO

Tribos árabes acusadas de massacrar civis em Darfur passaram a usar umas contra as outras o poder de fogo que acumularam, em uma disputa por espólios de guerra que deixa centenas de mortos e dezenas de milhares de desabrigados na já combalida região sudanesa.
Muitas vezes descrita como ataques de tribos de etnia árabe, com apoio do governo, contra tribos não-árabes, a violência em Darfur ganha nova dimensão com os confrontos entre grupos árabes rivais. O que começou há quatro anos como uma rebelião e uma brutal campanha de repressão aos insurgentes, no oeste do Sudão, se expandiu e virou uma guerra generalizada, aberta, caótica e confusa, envolvendo dezenas de grupos armados e provocando alta no banditismo e uma seqüência crônica de ataques a organizações de assistência.
Nos últimos meses, a tribo dos terjem e a dos mahria -grupos árabes armados que, segundo a ONU, faziam parte das milícias janjaweed e saqueavam a região juntas, matando e estuprando- começaram a combater no sul de Darfur. Trocando ataques às respectivas aldeias, têm forçado a população árabe a buscar campos de refugiados que abrigam vítimas de ataques anteriores.
Funcionários da ONU dizem que milhares de combatentes de ambas as tribos se concentram em um estratégico vale fluvial conhecido como Bulbul. Segundo esses funcionários, disputas entre as tribos estão matando mais gente do que as batalhas entre governo e forças rebeldes -as quais, exceto em áreas específicas, diminuíram.

Fora de controle
Ainda que a recente onda de confrontos entre grupos antes aliados não tenha causado mortes na escala de centenas de milhares vista no pico do conflito (2003-4), organizações assistenciais temem que a situação fuja mais de controle.
"A fragmentação dos grupos armados é uma de nossas maiores preocupações", disse Maurizio Giuliano, porta-voz do Serviço de Coordenação de Assuntos Humanitários da ONU no Sudão. "Isso vem tornando a situação ainda mais complexa e mais difícil para os civis e para os que tentam ajudá-los."
Funcionários da ONU crêem que as milícias tentem conquistar território antes que a força de paz híbrida sob comando da ONU e da União Africana comece a chegar, neste ano. Segundo diversos observadores independentes no local, desta vez não é o governo que está propelindo o conflito.
O governador da região, Ali Mahamoud Mohammed, enviou tropas ao vale do Bulbul para reprimir os combates, mas declarou que confrontos como esses "são parte da vida natural das tribos". A desavença, alimentada pelo excesso de armas na região e pelo rompimento do sistema de ordem pública, parece estar se difundindo com rapidez maior do que as autoridades ou tribos poderiam controlar. "Não há lei ou ordem aqui", disse Annette Rehrl, do Serviço de Assistência a Refugiados da ONU. A insegurança levou assistentes humanitários a deixar a região -no momento, há 12,3 mil deles em Darfur, 16% a menos do que no passado.


Tradução de PAULO MIGLIACCI

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