São Paulo, domingo, 04 de setembro de 2011 |
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CLÓVIS ROSSI Em busca da "demo-islam"
As revoluções em curso no mundo árabe darão origem a uma batalha entre os instintos primordiais de cada sociedade envolvida e a modernidade. É a avaliação de Uzi Rabi, diretor do Centro Moshe Dayan de Estudos Africanos e do Oriente Médio da Universidade de Tel Aviv. Decodificação: para Rabi, as revoltas nasceram de uma rejeição frontal às tiranias, de parte das bases da sociedade, o que ele festeja. Mas as elites tradicionais tratarão de impor seus "instintos primordiais" (tribais, étnicos, religiosos, clânicos, autoritários). Quem vai ganhar essa disputa é algo que ninguém está em condições de dizer. Mas Rabi escolhe o seu lado: "Tomara que surjam muitas Turquias no Oriente Médio". Entenda-se por Turquias o surgimento do que o professor chama de "demo-islam", a combinação entre democracia e islamismo, até hoje presente apenas na Turquia dos últimos dez anos, mais ou menos. É curioso que no mesmo dia em que Uzi Rabi usava essa expressão, em conversa com jornalistas brasileiras, o presidente do Conselho Nacional de Transição da Líbia, Mustafa Abdel Jalil, dizia algo muito parecido, em sua reunião com a comunidade internacional em Paris: assegurava que o líbio "é um povo muçulmano comprometido com a liberdade e a democracia". Fácil de falar, muito difícil de por em prática, como admite até mesmo um torcedor do modelo como Uzi Rabi. É sempre relevante ouvir opiniões de especialistas israelenses por ao menos dois motivos: vêm do único país do Oriente Médio e adjacências em que o fluxo de informações é absolutamente livre. Dois -e mais importante: estudar a evolução da vizinhança é uma questão existencial, em se tratando de país que vive em um ambiente hostil. Tão hostil que o professor Rabi reconhece que, para Israel, é mais confortável ter Bashar Assad no comando na Síria, apesar de ser um país ainda tecnicamente em guerra com o Estado judeu, do que um eventual governo rebelde. É a velha história: melhor um demônio antigo e por isso conhecido do que uma entidade ainda sem rosto como o movimento rebelde. O que complica ainda mais a vida para Israel é o fato de que as revoltas e alguns eventos anteriores levaram a uma situação inédita na região, conforme a avaliação do especialista: as potências que emergem como dominantes não são árabes. São persa (Irã) e turca. Pior: o Irã já foi bom amigo de Israel, até a queda do xá, em 1979; hoje, é seu maior inimigo. A Turquia substituiu o Irã como o grande aliado israelense no mundo muçulmano, até a invasão de Gaza, em 2009. A partir daí, começou um processo de distanciamento que atingiu o pico esta semana: degradou as relações diplomáticas ao nível de segundo secretário, cortou os laços militares e, acima de tudo, "Israel está sendo desprovido da amizade da Turquia", disse o chanceler Ahmet Davutoglu. Tudo isso no momento em que o xadrez regional está para ser dramaticamente afetado pela petição da Autoridade Palestina para que seu Estado seja plenamente reconhecido pelas Nações Unidas, tema a que voltarei mais adiante. crossi@uol.com.br AMANHÃ EM MUNDO Rubens Ricupero Texto Anterior: Rússia critica sanções à Síria enquanto a UE defende mais rigidez Próximo Texto: Segredos do Itamaraty - Folha Transparência: Brasil sofreu pressão dos EUA contra 'Lei do Abate' Índice | Comunicar Erros |
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