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REFERENDO
Quase 80% optaram pela independência, anuncia a ONU; região teme reação dos grupos pró-Indonésia
Independência vence em Timor
RENATO FRANZINI
enviado especial a Timor Leste
Timor Leste votou maciçamente a favor da independência da região em relação à Indonésia, com
78,5% dos votos do referendo da
última segunda-feira a favor da
separaçã e apenas 21% a favor da
autonomia dentro da Indonésia,
anunciou ontem em Nova York o
secretário-geral da ONU, Kofi
Annan.
"O povo de Timor Leste assim
rejeitou a proposta de autonomia
especial e expressou seu desejo de
iniciar um processo de transição
para a independência", afirmou
Annan.
Há temor de que o resultado gere reação violenta de grupos armados pró-Jacarta. Agências de
ajuda humanitária disseram estar
se preparando para uma situação
de emergência. Espera-se que entre 50 mil e 100 mil pessoas tentem deixar o território.
Grupos antiindependência invadiram ontem cidades, queimando casas e matando opositores, o que aumentou a onda de
terror em Timor Leste.
O lugar em que os grupos executaram o maior ataque foi na cidade de Maliana (60 km a sudoeste da capital, Dili), perto da fronteira com o Timor Oeste.
A ONU confirma a morte de
dois funcionários seus no local.
Mas o número total deve passar
de 20, segundo testemunhas. Ontem, a ONU retirou com urgência
todo seu pessoal da cidade.
Ataques também causaram
mortes em Same (15) e no bairro
de Bekora (4), em Dili, segundo
números não oficiais da agência
"Australian Associated Press".
Em Dili, ontem à noite, as ruas
ficaram desertas. Só circulavam
veículos militares e de membros
dos grupos pró-Indonésia.
Na cidade, mais de 30 mil pessoas buscaram refúgio em escolas
e outros locais oferecidos pela Acnur (Alto Comissariado das Nações Unidas para Refugiados). No
território, já são mais de 55 mil
desalojados.
O Ministério das Relações Exteriores de Portugal pediu para 35
jornalistas do país, constantemente ameaçados de morte, se
reunirem em um único hotel em
Dili. Já há um plano para tirá-los
do país em caso de emergência.
Os ataques começaram após a
votação de segunda, que ocorreu
sob relativa tranquilidade.
Desde então, segundo a ONU,
quatro timorenses contratados
para ajudar na eleição foram
mortos e seis estão desaparecidos.
Os grupos pró-Jacarta acusam
funcionários da ONU de fazer
campanha pró-independência.
Testemunhas dizem que tropas
indonésias não têm feito esforços
para deter os grupos armados.
Um comboio trazendo 54 funcionários da Unamet (Missão da
ONU para Timor Leste) de Maliana chegou ontem a Dili. Três dessas pessoas descreveram a situação para a Folha sob a condição
de não serem identificadas.
Segundo eles, um grupo pró-Jacarta teria anunciado que não atacaria, mas abriu fogo contra algumas pessoas que circularam pela
cidade após o anúncio.
O jornalista Renato Franzini viajou à Indonésia a convite da Associação ONU- Brasil
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