São Paulo, Sábado, 04 de Setembro de 1999
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REFERENDO
Quase 80% optaram pela independência, anuncia a ONU; região teme reação dos grupos pró-Indonésia
Independência vence em Timor

RENATO FRANZINI
enviado especial a Timor Leste

Timor Leste votou maciçamente a favor da independência da região em relação à Indonésia, com 78,5% dos votos do referendo da última segunda-feira a favor da separaçã e apenas 21% a favor da autonomia dentro da Indonésia, anunciou ontem em Nova York o secretário-geral da ONU, Kofi Annan.
"O povo de Timor Leste assim rejeitou a proposta de autonomia especial e expressou seu desejo de iniciar um processo de transição para a independência", afirmou Annan.
Há temor de que o resultado gere reação violenta de grupos armados pró-Jacarta. Agências de ajuda humanitária disseram estar se preparando para uma situação de emergência. Espera-se que entre 50 mil e 100 mil pessoas tentem deixar o território.
Grupos antiindependência invadiram ontem cidades, queimando casas e matando opositores, o que aumentou a onda de terror em Timor Leste.
O lugar em que os grupos executaram o maior ataque foi na cidade de Maliana (60 km a sudoeste da capital, Dili), perto da fronteira com o Timor Oeste.
A ONU confirma a morte de dois funcionários seus no local. Mas o número total deve passar de 20, segundo testemunhas. Ontem, a ONU retirou com urgência todo seu pessoal da cidade.
Ataques também causaram mortes em Same (15) e no bairro de Bekora (4), em Dili, segundo números não oficiais da agência "Australian Associated Press".
Em Dili, ontem à noite, as ruas ficaram desertas. Só circulavam veículos militares e de membros dos grupos pró-Indonésia.
Na cidade, mais de 30 mil pessoas buscaram refúgio em escolas e outros locais oferecidos pela Acnur (Alto Comissariado das Nações Unidas para Refugiados). No território, já são mais de 55 mil desalojados.
O Ministério das Relações Exteriores de Portugal pediu para 35 jornalistas do país, constantemente ameaçados de morte, se reunirem em um único hotel em Dili. Já há um plano para tirá-los do país em caso de emergência.
Os ataques começaram após a votação de segunda, que ocorreu sob relativa tranquilidade.
Desde então, segundo a ONU, quatro timorenses contratados para ajudar na eleição foram mortos e seis estão desaparecidos.
Os grupos pró-Jacarta acusam funcionários da ONU de fazer campanha pró-independência.
Testemunhas dizem que tropas indonésias não têm feito esforços para deter os grupos armados.
Um comboio trazendo 54 funcionários da Unamet (Missão da ONU para Timor Leste) de Maliana chegou ontem a Dili. Três dessas pessoas descreveram a situação para a Folha sob a condição de não serem identificadas.
Segundo eles, um grupo pró-Jacarta teria anunciado que não atacaria, mas abriu fogo contra algumas pessoas que circularam pela cidade após o anúncio.


O jornalista Renato Franzini viajou à Indonésia a convite da Associação ONU- Brasil

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