São Paulo, Sábado, 04 de Setembro de 1999
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CRISE NO MERCOSUL
Assunção convoca embaixadoras em protesto contra a não-extradição de asilados políticos
Paraguai age contra Argentina e Uruguai

das agências internacionais

O Paraguai vai retirar suas embaixadoras da Argentina e do Uruguai em protesto contra a negativa desses países de extraditar o ex-general Lino Oviedo e o ex-ministro da Defesa José Segovia.
Oviedo foi condenado a dez anos de prisão por tentativa de golpe de Estado em 96 e pediu asilo na Argentina após a renúncia do presidente Raúl Cubas, ocorrida em 28 de março.
Ele também é acusado de ser o mentor do assassinato do vice-presidente paraguaio Luis María Argaña, seu rival político, em março deste ano.
José Segovia (ministro do governo Raúl Cubas), acusado de apropriação ilícita de recursos públicos, obteve asilo político no Uruguai. Ele teria desviado cerca de US$ 600 mil de "fundos reservados" ao Ministério da Defesa do Paraguai.
"As relações diplomáticas com a Argentina e o Uruguai começarão a piorar a partir de hoje porque os governos desses países estão prejudicando o trabalho normal da Justiça paraguaia ao rejeitar o pedido de extradição de Oviedo e de Segovia, acusados de delitos comuns", afirmou Carlos Mateo Balmelli, vice-chanceler paraguaio.
O Paraguai "não fechará suas embaixadas em Buenos Aires e Montevidéu porque isso seria uma determinação muito grave. Com Rachid (Leila Rachid, embaixadora em Buenos Aires) e Velilla (Julia Velilla, embaixadora em Montevidéu) em Assunção (capital do Paraguai), no entanto, estamos exteriorizando nosso descontentamento", afirmou Balmelli.
"Estamos dizendo ao governo da Argentina e do Uruguai: olhem, estamos descontentes com vocês porque não respeitam o Paraguai, não respeitam seu povo, não respeitam sua Justiça", afirmou o vice-chanceler paraguaio.
A Argentina afirmou ontem que concedeu asilo a Oviedo para garantir sua "proteção física". O país tem "a prática invariável de respeito à instituição do asilo", declarou comunicado do Ministério das Relações Exteriores da Argentina.
Manifestantes paraguaios irritados com a recusa argentina de extraditar Oviedo fizeram um protesto diante da embaixada argentina em Assunção, jogando ovos e batendo em seus portões.
O ministro das Relações Exteriores do Uruguai, Didier Opertti, exortou ontem o Paraguai a "defender o Mercosul".
"Não podemos parar o Mercosul por causa de situações bilaterais. O Mercosul tem instituições próprias. Temos o dever de protegê-lo", disse Opertti.
A recusa em extraditar os dois abalaria o Mercosul, "pois ele não é apenas um bloco comercial, mas também político", disse o chanceler paraguaio, Miguel Abdón Saguier.
Familiares de Argaña e dezenas de manifestantes da organização não-governamental "Jovens pela Democracia" pediram a renúncia de Saguier.


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