São Paulo, Sábado, 04 de Setembro de 1999
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ANÁLISE
Crise Brasil-Argentina é mais grave

CLÓVIS ROSSI
do Conselho Editorial

Vista isoladamente, a reação do governo paraguaio à negativa argentina e uruguaia de extraditar personalidades requisitadas pelo Paraguai não chega a ser uma crise séria no Mercosul.
O Paraguai é, de longe, o mais fraco dos quatro membros do bloco, e suas queixas raramente têm eco entre os parceiros, ainda que tenha razão.
Aliás, pela lógica elementar, o Paraguai dessa vez tem razão. Se Brasil e Argentina endossaram uma saída para a crise paraguaia que passasse pela renúncia do então presidente Raúl Cubas, estavam automaticamente aceitando a culpabilidade do esquema Cubas/Oviedo, por ação ou omissão, no atentado que matou o vice-presidente Luiz Maria Argaña.
Logo, não parece lógico a Argentina rechaçar o pedido de extradição do general Lino Oviedo (o poder por trás do trono, no período Cubas). Ainda mais que a rejeição se deu sem nem sequer o passo elementar e protocolar de encaminhar a petição paraguaia à Justiça argentina. Foi, pois, uma decisão política exclusivamente.

Sócios divergentes
Mas, ainda assim, a ira paraguaia não tenderia a provocar maiores consequências se o Mercosul já não tivesse entrado em uma espécie de estado de suspensão temporária, em consequências das profundas divergências entre os dois sócios principais, Brasil e Argentina.
Os dois estão sendo incapazes de resolver entre eles pendências comerciais, quando é justamente o comércio o eixo em torno do qual gira o Mercosul.
Nesse cenário, tudo o que o bloco regional dispensa é o surgimento de uma querela política como a atual.
Ainda mais que o Mercosul está a dois meses de entrar em negociações comerciais com o resto do mundo, e a unidade interna seria um instrumento valioso.


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