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COMENTÁRIO
Confrontos dos últimos dias colocam os dois lados desempenhando antigo papel de inimigos
Violência revela a volátil relação Israel-palestinos
DEBORAH SONTAG
DO "THE NEW YORK TIMES", EM JERUSALÉM
Na semana passada, Iasser Arafat e Ehud Barak conversaram,
comeram juntos e contaram piadas num aprazível jardim da casa
do primeiro-ministro israelense,
no interior de Israel.
Agora, seus povos se matam.
A cada dia de violência, um líder
vê o outro com mais desconfiança. Ambos voltam aos seus antigos papéis de inimigos.
Quaisquer que sejam as causas,
o que se viu é que as coisas podem
virar de cabeça para baixo com
grande rapidez por aqui. Em pouco tempo, a linguagem da força
derruba as cuidadosas declarações de paz. Num instante, as relações dão lugar às mais primitivas
animosidades étnico-religiosas,
pondo em risco o que se obteve
desde os acordos de Oslo (93).
Ainda não se sabe quanto tempo o conflito durará. Tampouco
qual será o impacto em termos
políticos e diplomáticos.
Com tanta incerteza, tudo o que
havia nas manchetes da semana
passada está agora paralisado: dificuldades de Barak para manter
sua coalizão, especulações sobre
um retorno do ex-premiê Binyamin Netanyahu, propostas norte-americanas de consenso.
Na última semana, os israelenses discutiam os prós e os contras
de permitir que os ônibus públicos fizessem viagens até as praias
durante os dias religiosos. Nesta
semana, não é nem preciso dizer
que não falam mais disso.
Muitos aqui acreditam que os
surtos de violência levaram, historicamente, a grandes avanços em
direção à paz -à Guerra do Yom
Kippur, em 1973, seguiu-se o
acordo de paz com o Egito, em
1978; depois da Intifada (revolta
popular palestina), que começou
em 1987, veio o acordo de Oslo,
em 1993. Durante as duas semanas da cúpula de Camp David
(EUA), em julho, muitos analistas
estavam céticos quanto às chances de um acordo de paz, pois, diziam, eram necessários ainda
"uns dois banhos de sangue".
Mas, mesmo agora, é difícil para
muitos imaginar que a violência
corrente possa levar à paz.
Os palestinos dizem que os israelenses os provocaram, para então forcá-los a assinar sua versão
de paz. Eles afirmam que Barak
nunca deveria ter autorizado a visita de Ariel Sharon (líder do partido oposicionista Likud) à Esplanada das Mesquitas, o estopim
dos confrontos. Avisaram antes
que seria o mesmo que abrir a caixa de Pandora. Algumas autoridades israelenses, por sua vez,
afirmam que os palestinos estão
entrando num perigoso caminho,
tentando obter concessões à força. Os árabes, dizem, disfarçam
sob a forma de levante popular
sua resolução de usar a violência.
Outros membros do governo
reconhecem que Sharon foi o início de tudo. Mas declaram que os
palestinos aproveitaram a oportunidade como uma esperada
desculpa para liberar sua ira.
As intenções de Sharon? Ele disse que era uma visita comum de
um israelense ao Monte do Templo -nome dado pelos judeus ao
local, onde foram edificados os
dois templos da época bíblica.
Entre os especialistas, porém,
corre a especulação de que Sharon buscava tirar dos holofotes
Netanyahu, seu rival na liderança
do partido. Seria um ato de nacionalismo de Sharon, que não ignorava o potencial do ato contra o
processo de paz e Barak.
Alguns dos vários aspectos da
relação entre palestinos e Israel
têm sido cuidadosamente observados. Economia, por exemplo. O
fluxo de trabalhadores árabes para Israel manteve-se. Nos distúrbios passados, o fechamento das
cidades palestinas era imediato.
Os otimistas vêem a atual crise
como um doloroso lembrete sobre o caos que virá se as negociações forem abandonadas.
"O que vemos hoje é a gloriosa
alternativa à paz", ironizou o ex-premiê Shimon Peres.
Outros perguntam a si mesmos
por que deveriam se importar
com o processo de paz. "Com
nosso sangue demarcamos as
fronteiras do nosso Estado", disse
Bashir Barghouti, um palestino
que recebeu um tiro no olho.
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