São Paulo, quarta-feira, 04 de outubro de 2000

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Exército admite ter matado menino

DAS AGÊNCIAS INTERNACIONAIS


O Exército israelense admitiu ontem a responsabilidade pela morte do menino Mohammed Jamal al Durah, 12, durante tiroteio, no sábado, entre manifestantes palestinos e soldados israelenses na faixa de Gaza.
A morte do menino, registrada pelas câmeras de TV, chocou o mundo e transformou-se no símbolo do terror e da violência que atingiu Israel e os territórios palestinos nos últimos dias.
"Foi um incidente grave, um acontecimento que todos lamentamos", disse o chefe de operações do Exército israelense, Giora Eiland. "Fizemos uma investigação. Pelo que sabemos, os disparos parecem ter partido do posto militar (israelense) de Netzarim".
Segundo ele, os soldados estavam se defendendo de disparos de forças palestinas, geralmente misturadas com civis. "Essa não é a primeira vez que civis são feridos, mas nunca é intencional", afirmou Eiland, acrescentando que o menino morto havia participado de manifestações contra as forças israelenses no passado.
O pai do menino afirma, no entanto, que ele e o filho não estavam envolvidos nos confrontos. Falando da cama do hospital em Amã, capital da Jordânia, onde se recupera dos ferimentos que sofreu, Jamal al Durah, 37, fez um apelo para que "o mundo não esqueça Mohammed e vingue a morte dele".
Al Durah, um pintor de paredes e pai de sete crianças, contou que ele e o filho estavam voltando de um mercado de carros usados quando ficaram presos no tiroteio. "Eles começaram a atirar contra o táxi em que estávamos e saímos em busca de proteção".
Al Durah e o filho se esconderam atrás de um bloco de concreto encostado em uma parede. O menino chorava aterrorizado. Momentos depois, foi atingido. "Os israelenses estavam atirando pesado. Eu gritei e implorei para que eles parassem pela vida do garoto, mas eles não pararam, e Mohammed morreu no meu colo", relembrou Al Durah, que trabalha em Israel e foi atingido no ombro e nas pernas.
O cinegrafista da TV France 2, Talal Abu Rhame, que registrou as imagens, disse que não pôde fazer nada para ajudar os dois. Ele estava escondido atrás de uma camionete, no outro lado da rua. "A qualquer movimento caía sobre nós uma chuva de balas", disse Rhame. "O tiroteio durou 45 minutos. Quando acabou, o menino já estava morto", disse.



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