São Paulo, quinta-feira, 04 de outubro de 2001

Próximo Texto | Índice

No Oriente Médio, EUA costuram ação militar

Secretário da Defesa começa a definir com autoridades da região detalhes do ataque a Bin Laden

MARCIO AITH
DE WASHINGTON

O secretário da Defesa norte-americano, Donald H. Rumsfeld, começou a definir ontem na Arábia Saudita os detalhes finais do ataque militar contra bases do terrorista saudita Osama Bin Laden, que estaria no Afeganistão e é apontado pelos EUA como o principal suspeito dos atentados de 11 de setembro contra Nova York e o Pentágono, que deixaram quase 6.000 mortos.
Dos cerca de 30 mil militares norte-americanos concentrados na região, mil já teriam sido deslocados ao Uzbequistão e ao Tadjiquistão, países da Ásia Central que, quando integravam a extinta União Soviética, serviram como principal base de ataques militares de Moscou em sua invasão do Afeganistão.
Tropas especiais russas já estariam nesses dois países e se uniriam aos norte-americanos num eventual ataque.
O Uzbequistão será a última etapa da viagem de Rumsfeld ao Oriente Médio e à Ásia Central. O secretário visitará Omã e o Egito, retornando aos EUA na sexta-feira próxima.
Rumsfeld disse que quer aprofundar a troca de informações secretas sobre a localização exata de Bin Laden e de seus assessores e negou que vá solicitar que o governo saudita reconsidere sua decisão de não permitir o uso de bases militares no país para um possível ataque. "Respeitamos e entendemos as circunstâncias dos países da região", disse ele.
Segundo o secretário, "não será um míssil ou um bombardeio o fator decisivo" para capturar o terrorista saudita, e sim o trabalho de inteligência dos países aliados dos EUA na região". Indagado se os EUA têm alguma noção da localização de Bin Laden, Rumsfeld disse ter "pistas, mas não coordenadas".
Além do desconhecimento sobre a localização de Bin Laden, outros fatores também estariam afetando o cronograma de um possível ataque.
Como o primeiro-ministro britânico, Tony Blair, deve partir para o Paquistão na sexta-feira e depois pode seguir a outros países da área, avalia-se que uma ofensiva militar não deva começar enquanto ele e Rumsfeld estiverem na região.
Aliado mais fiel dos Estados Unidos, Blair foi o primeiro líder a dizer que não há dúvidas sobre a participação de Bin Laden nos atentados. Sua presença no Paquistão, país que apóia os EUA mas é o único a manter relações diplomáticas com o Afeganistão, deverá reforçar a coalizão montada pelos EUA.
Apesar das dificuldades estratégica -falta de alvos precisos para atacar- e diplomática -falta de apoio de países islâmicos importantes- e da presença de autoridades ocidentais na região, uma fonte do Departamento de Estado disse ontem à Folha que a Casa Branca tem muita pressa e receio de que a disposição dos aliados para agir militarmente possa se enfraquecer com o tempo.

Ramadã
Os EUA querem realizar ataques "mais visíveis" antes de 16 de novembro, quando começa o Ramadã, mês sagrado dos muçulmanos. A Casa Branca quer "respeitar" esse mês para garantir a participação de países islâmicos na coalizão antiterrorismo e impedir o crescimento do sentimento antiamericano na região num ataque durante o período sagrado, quando os muçulmanos jejuam parte do dia.
Durante a crise de seu processo de impeachment, em 1998, o então presidente Bill Clinton usou o Ramadã como justificativa para antecipar ataques militares contra o Iraque na operação batizada de "Raposa do Deserto".
Num discurso da época, Clinton disse que "iniciar ação militar durante o Ramadã seria profundamente ofensivo para o mundo islâmico e prejudicaria nossas relações com os países árabes".
Os EUA também relutam em iniciar um ataque antes de solucionar o problema dos refugiados do Afeganistão. "Vi fotos aéreas do Afeganistão, e as imagens são de cortar o coração", disse Rumsfeld ontem. "É possível ver centenas e centenas de pessoas andando por uma terra árida e seca em busca de comida. É uma situação trágica. O que estamos fazendo não tem nada a ver com o povo afegão", disse ele.
Os EUA liberaram US$ 100 milhões em ajuda humanitária ao Afeganistão numa tentativa de deixar claro que sua guerra não é contra a população do país, mas contra Bin Laden e provavelmente contra o Taleban, o grupo extremista islâmico que controla quase todo o território afegão e diz saber o paradeiro do saudita.
Analistas militares consideram que os EUA e o Reino Unido já têm pessoal e equipamento militares suficiente na região do Afeganistão para iniciar suas operações, que seriam de caráter pontual, provavelmente usando comandos infiltrados no país para minar as defesas do Taleban e buscar Bin Laden.


Próximo Texto: Taleban diz que Bin Laden "está bem e com moral alto"
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.