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No Oriente Médio, EUA costuram ação militar
Secretário da Defesa começa a definir com autoridades da região detalhes do ataque a Bin Laden
MARCIO AITH
DE WASHINGTON
O secretário da Defesa norte-americano, Donald H. Rumsfeld,
começou a definir ontem na Arábia Saudita os detalhes finais do
ataque militar contra bases do terrorista saudita Osama Bin Laden,
que estaria no Afeganistão e é
apontado pelos EUA como o
principal suspeito dos atentados
de 11 de setembro contra Nova
York e o Pentágono, que deixaram quase 6.000 mortos.
Dos cerca de 30 mil militares
norte-americanos concentrados
na região, mil já teriam sido deslocados ao Uzbequistão e ao Tadjiquistão, países da Ásia Central
que, quando integravam a extinta
União Soviética, serviram como
principal base de ataques militares de Moscou em sua invasão do
Afeganistão.
Tropas especiais russas já estariam nesses dois países e se uniriam aos norte-americanos num
eventual ataque.
O Uzbequistão será a última
etapa da viagem de Rumsfeld ao
Oriente Médio e à Ásia Central. O
secretário visitará Omã e o Egito,
retornando aos EUA na sexta-feira próxima.
Rumsfeld disse que quer aprofundar a troca de informações secretas sobre a localização exata de
Bin Laden e de seus assessores e
negou que vá solicitar que o governo saudita reconsidere sua decisão de não permitir o uso de bases militares no país para um possível ataque. "Respeitamos e entendemos as circunstâncias dos
países da região", disse ele.
Segundo o secretário, "não será
um míssil ou um bombardeio o
fator decisivo" para capturar o
terrorista saudita, e sim o trabalho
de inteligência dos países aliados
dos EUA na região". Indagado se
os EUA têm alguma noção da localização de Bin Laden, Rumsfeld
disse ter "pistas, mas não coordenadas".
Além do desconhecimento sobre a localização de Bin Laden,
outros fatores também estariam
afetando o cronograma de um
possível ataque.
Como o primeiro-ministro britânico, Tony Blair, deve partir para o Paquistão na sexta-feira e depois pode seguir a outros países
da área, avalia-se que uma ofensiva militar não deva começar enquanto ele e Rumsfeld estiverem
na região.
Aliado mais fiel dos Estados
Unidos, Blair foi o primeiro líder a
dizer que não há dúvidas sobre a
participação de Bin Laden nos
atentados. Sua presença no Paquistão, país que apóia os EUA
mas é o único a manter relações
diplomáticas com o Afeganistão,
deverá reforçar a coalizão montada pelos EUA.
Apesar das dificuldades estratégica -falta de alvos precisos para
atacar- e diplomática -falta de
apoio de países islâmicos importantes- e da presença de autoridades ocidentais na região, uma
fonte do Departamento de Estado
disse ontem à Folha que a Casa
Branca tem muita pressa e receio
de que a disposição dos aliados
para agir militarmente possa se
enfraquecer com o tempo.
Ramadã
Os EUA querem realizar ataques "mais visíveis" antes de 16 de
novembro, quando começa o Ramadã, mês sagrado dos muçulmanos. A Casa Branca quer "respeitar" esse mês para garantir a
participação de países islâmicos
na coalizão antiterrorismo e impedir o crescimento do sentimento antiamericano na região num
ataque durante o período sagrado, quando os muçulmanos jejuam parte do dia.
Durante a crise de seu processo
de impeachment, em 1998, o então presidente Bill Clinton usou o
Ramadã como justificativa para
antecipar ataques militares contra
o Iraque na operação batizada de
"Raposa do Deserto".
Num discurso da época, Clinton
disse que "iniciar ação militar durante o Ramadã seria profundamente ofensivo para o mundo islâmico e prejudicaria nossas relações com os países árabes".
Os EUA também relutam em
iniciar um ataque antes de solucionar o problema dos refugiados
do Afeganistão. "Vi fotos aéreas
do Afeganistão, e as imagens são
de cortar o coração", disse Rumsfeld ontem. "É possível ver centenas e centenas de pessoas andando por uma terra árida e seca em
busca de comida. É uma situação
trágica. O que estamos fazendo
não tem nada a ver com o povo
afegão", disse ele.
Os EUA liberaram US$ 100 milhões em ajuda humanitária ao
Afeganistão numa tentativa de
deixar claro que sua guerra não é
contra a população do país, mas
contra Bin Laden e provavelmente contra o Taleban, o grupo extremista islâmico que controla
quase todo o território afegão e
diz saber o paradeiro do saudita.
Analistas militares consideram
que os EUA e o Reino Unido já
têm pessoal e equipamento militares suficiente na região do Afeganistão para iniciar suas operações, que seriam de caráter pontual, provavelmente usando comandos infiltrados no país para
minar as defesas do Taleban e
buscar Bin Laden.
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