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Taleban diz que Bin Laden "está bem e com moral alto"
KENNEDY ALENCAR
DO ENVIADO ESPECIAL A ISLAMABAD
O ministro do Interior do Taleban, Abdul Razzaq Akhund, disse
ao jornal italiano "Il Sole 24 Ore"
que Osama bin Laden "está bem e
com o moral alto". Akhund disse
que esteve com Bin Laden anteontem. "Rimos juntos e contamos piadas", afirmou ele ao jornal econômico de Milão.
"Expliquei a ele [Bin Laden] como os EUA agem como um pastor que toca a flauta para dirigir o
rebanho contra o Afeganistão",
disse o ministro de Cabul, em entrevista telefônica ao jornal.
Akhund disse que Bin Laden
não está em Cabul, mas negou relatos em jornais paquistaneses de
que o terrorista saudita estaria escondido em montanhas no norte.
O ministro afirmou que o Taleban, grupo extremista islâmico
que controla quase todo o Afeganistão, não está sofrendo baixas
devido à pressão externa, mas admitiu que o rei deposto do Afeganistão, Zahir Shah, conta com
"certo apoio" entre a população.
Já Abdullah Abdullah, ministro
das Relações Exteriores da Aliança do Norte, grupo que domina
pequena parte do Afeganistão e
combate o Taleban, disse que dezenas de comandantes do Taleban perto da cidade de Jabal-us-Saraj, 70 km ao norte de Cabul,
desertaram e trouxeram cerca de
10 mil combatentes para o lado
dos oposicionistas, informação
que não foi confirmada por fonte
independente.
A Aliança do Norte e o rei deposto firmaram acordo nesta semana, com o apoio dos EUA, para
formar um governo de união após
a eventual queda do Taleban, cada vez mais isolado.
Um novo sinal do isolamento
ocorreu ontem, quando uma delegação de religiosos islâmicos do
Paquistão cancelou uma segunda
viagem ao Afeganistão para tentar uma saída negociada da crise.
O Taleban diz que não entregará Bin Laden aos EUA sem provas. Os EUA dizem que não dialogarão com o grupo.
Paquistão
Em um lance de teatro político
para mostrar à opinião pública interna que não age injustamente
contra o Afeganistão, o governo
do Paquistão divulgou ontem que
está estudando as supostas evidências que os EUA apresentaram ao país a respeito do envolvimento de Bin Laden nos atentados contra os EUA.
O ministro das Relações Exteriores do Paquistão, Abdul Sattar,
disse ontem que as supostas evidências devem ser tornadas públicas. Afirmou que seu país tem
extremistas islâmicos que podem
querer enganar a população se
elas não forem apresentadas.
O porta-voz de Sattar, Riaz Mohammad Khan, confirmou que o
Paquistão avalia informações dos
EUA responsabilizando Bin Laden e a organização capitaneada
por ele, a Al Qaeda, pelos ataques.
Os EUA têm procurado não alimentar os extremistas islâmicos
do Paquistão que são simpáticos
ao Taleban. Por isso tomou atitudes para ajudar o presidente paquistanês, Pervez Musharraf, a
tentar minimizar a contestação
interna. Além de muçulmano como o Afeganistão, o Paquistão
tem na Província da Fronteira
Noroeste predominância da etnia
pashtu, a mesma do Taleban e da
maioria dos afegãos.
O governo paquistanês é o único que mantém relações com o
Taleban, grupo que apoiou desde
seu surgimento, em meados dos
anos 90, e teme que a queda do regime extremista leve ao poder forças contrárias a seus interesses.
O Departamento de Estado
americano disse ontem que planeja limitar sua eventual necessidade de usar bases aéreas e navais
no Paquistão, como acertado no
acordo de colaboração entre os
dois países. Segundo o subsecretário de Estado dos EUA, Richard
Armitage, essa decisão tem o objetivo de evitar abalar "a frágil estrutura da sociedade" paquistanesa. Armitage disse que não pretende obter ajuda do país "além
da absolutamente necessária".
Há um clima no Paquistão de
que um ataque dos EUA ao Taleban é iminente e que isso poderá
gerar distúrbios no país, onde são
feitas manifestações diárias contra o apoio a Washington.
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