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ESPIONAGEM
Operação, que visava atacar Bin Laden, foi suspensa após golpe de Estado no país, em 99
CIA treinou comandos no Paquistão
DA REDAÇÃO
A CIA treinou e equipou paquistaneses em 1999 para atacar o
líder terrorista Osama bin Laden
no Afeganistão, mas o plano foi
prejudicado por um golpe militar
no Paquistão, disse ontem o jornal "The Washington Post".
Segundo o jornal, que baseou a
reportagem em declarações de
fontes não identificadas dos serviços de inteligência dos EUA, a
CIA (serviço secreto americano)
treinou em segredo 60 comandos
paquistaneses em coordenação
com o governo do então primeiro-ministro do Paquistão, Nawaz
Sharif. Em troca de sua participação na operação, o país receberia
auxílio financeiro e teria sanções
contra si suspensas pelos EUA.
Os relatos citados pelo jornal,
confirmados por fontes que falaram à TV CNN e à agência "Reuters", indicam que a idéia foi
abandonada quando o atual líder
do Paquistão, general Pervez
Musharraf, derrubou Sharif em
um golpe de Estado em 1999.
Natal
"Era um empreendimento",
disse um funcionário do governo,
citado pelo diário. Segundo ele,
funcionários do governo Clinton
estavam "maravilhados" com a
operação, que, segundo acreditavam, representava uma oportunidade real de eliminar Bin Laden.
"Era como se fosse Natal", disse.
Mas tentativas "substanciais"
de persuadir o novo governante a
aprovar o plano foram frustradas,
afirmou o "Post".
Musharraf se tornaria, depois
dos ataques de 11 de setembro em
Nova York e Washington, um
aliado-chave dos EUA em sua
busca por Bin Laden, acusado de
planejar os atentados.
O treinamento dos paquistaneses, após os atentados a bomba a
embaixadas dos EUA na África
em 1998 -os quais Bin Laden foi
acusado de planejar-, foi apenas
a última dentre várias tentativas
americanas de capturar ou matar
Bin Laden durante o governo
Clinton (1990-2000).
Os EUA já haviam tentado
prender Bin Laden em 1996. Na
época, ele era suspeito de planejar
uma tentativa fracassada, em
1992, de explodir o hotel utilizado
por tropas americanas no Iêmen.
Bin Laden era então uma figura
menos conhecida, mas, mesmo
assim, preocupava Washington.
Ainda em 1996, a CIA montaria
uma unidade especial para lidar
com o "caso Bin Laden" depois de
obter evidências que o associavam ao atentado a bomba ao
World Trade Center em 1993.
O Sudão, onde Bin Laden morava, chegou a se oferecer para extraditá-lo à Arábia Saudita. Os
sauditas já haviam expulsado Bin
Laden em 1991 e cassado sua cidadania em 1994, mas se recusaram
a recebê-lo por temer represálias
de extremistas islâmicos. Em
1996, o Sudão decidiu expulsá-lo.
Bin Laden mudou-se então para
o Afeganistão. Em fevereiro de
1998, ele se tornou um foco importante de ações de espionagem
dos EUA após emitir uma fatwa
(decreto religioso) pedindo o assassinato de americanos.
Por um triz
Em agosto de 1998, após os ataques às embaixadas, Clinton ordenou o lançamento de mísseis
Cruise contra supostos campos
de treinamento terroristas no
Afeganistão. As fontes ouvidas
pelo "Post" disseram que os EUA
haviam obtido informações que
Bin Laden estaria em um dos
campos e que acreditavam não tê-lo atingido "por um triz". Segundo as fontes, Bin Laden deixou o
campo algumas horas antes, talvez após ter sido informado por
agentes do Taleban, milícia que
controla a maior parte do Afeganistão, infiltrados nos serviços de
inteligência do Paquistão.
Os mísseis estavam equipados
com bombas de fragmentação,
que lançam estilhaços, para matar
o maior número de pessoas possível. Informações sobre o impacto
do ataque nunca foram confirmadas, mas acredita-se que 30 pessoas tenham morrido.
Mas, além de não ter conseguido matar Bin Laden, o ataque pode ter ajudado a fortalecê-lo. "Por
causa desse ataque tão limitado e
incompetente, transformamos
esse cara em um herói folclórico",
disse Harlan Ullman, analista do
Centro de Estudos Internacionais
e Estratégicos, com sede em Washington, ao "Post".
Os EUA mantiveram tropas de
forças especiais e helicópteros militares em estado de alerta na região por algum tempo, disse o
"Post". Caso informações sólidas
sobre o paradeiro de Bin Laden
fossem obtidas, as forças atacariam imediatamente.
Walter Slocombe, ex-subsecretário de Defesa dos EUA, disse
que recebeu inúmeros telefonemas dos serviços de inteligência
com informações sobre o paradeiro de Bin Laden, mas elas não
eram precisas o suficiente para
permitir um ataque militar.
Em 1999, disse o "Post", informações de que Bin Laden poderia
estar em um certo vilarejo do Afeganistão chegaram duas vezes. Segundo as fontes ouvidas pelo jornal, "houve discussões sobre a
possibilidade de destruir os vilarejos, mas as informações não foram consideradas críveis o suficiente para justificar um possível
massacre de civis".
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