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REPERCUSSÃO
Reações incluem apoio, críticas aos EUA e até uma teoria conspiratória, no Paquistão
Mídia de países islâmicos se divide
PAULO DANIEL FARAH
DA REDAÇÃO
Países majoritariamente islâmicos vêm promovendo um debate
em torno dos atentados contra a
Costa Leste norte-americana e da
provável operação militar no Afeganistão. Em jornais locais, vêem-se reações que vão do apoio quase
acrítico aos EUA a advertências
de uma possível recorrência do
terror e pedidos de cautela, passando por "recomendações" para
uma nova política externa.
"Ante o horror, pois não há outra palavra, e os apelos de vingança tanto nos EUA quanto na Europa, convém lembrar que essa
"história" de kamikazes, bombas
humanas e aviões lançados contra
torres não acabará nunca se o
conflito no Oriente Médio não for
resolvido. Vemos todos os dias na
Palestina (e agora em Nova York)
homens e mulheres desesperados", diz a publicação semanal
marroquina "Demain Magazine".
"Eles estão dispostos a sacrificar
a vida para combater Israel e seu
grande aliado americano. Toda a
chave do problema está aí, nesse
pequeno pedaço de terra. Enquanto os palestinos não tiverem
uma pátria, e os EUA apoiarem
cegamente o Estado judaico, não
haverá jamais paz no Oriente Médio, nem, como vimos no dia 11,
em qualquer outro lugar. Mesmo
na maior potência do mundo."
Para o "Al Hayat", jornal árabe
publicado em Londres, "o mundo
não se preocupa em diferenciar
resistência de terrorismo". "Falar
de política e de direitos é um luxo." O diário diz que "a "culpa" de
milhões de muçulmanos que vivem no Ocidente" põe em perigo
"a integridade física e a liberdade"
da comunidade islâmica.
O "Al Hayat" prevê um cenário
tenso: "enfraquecimento no Ocidente de todas as partes suscetíveis de mostrar uma certa compreensão dos argumentos islâmicos, enfraquecimento da prática
democrática nessas sociedades e
enfraquecimento da sensibilidade
anti-racista, além do fortalecimento de sentimentos chauvinistas e xenófobos, ou seja, o "choque
de civilizações" generalizado".
O jornal senegalês "Sud Quotidien" alerta contra a tentação maniqueísta: "O horror do World
Trade Center e do Pentágono despertou velhos demônios fundadores de todas as vertentes racistas. Fala-se em ameaças contra "os
países civilizados", da "civilização"
em perigo, da democracia em perigo. O presidente americano
trouxe uma dose extra de dramaticidade insistindo em que se trata
da "guerra do bem contra o mal'".
O jornal palestino "Al Quds"
trouxe na semana passada uma
caricatura em que um palestino
diz "o sensato... não apóia os EUA
nem os outros", em referência a
frase de George W. Bush -"Ou
estão conosco ou estão com os
terroristas". Diante dele, dois norte-americanos afirmam: "Com
certeza, é um terrorista".
Já o diário "Al Ayyam", também
palestino, diz que os EUA "deveriam ter adotado, desde o princípio, uma posição justa em relação
ao conflito árabe-israelense, que
concerne qualquer pessoa no
mundo árabe e islâmico por questões nacionais e religiosas, e isso
se faz por meio da implementação
das resoluções da ONU".
"Os ataques suicidas levaram a
causa palestina à linha de frente
dos conflitos regionais que a comunidade internacional deve
abordar", disse o pesquisador Abdel Salam, do Centro Al Ahram de
Estudos Políticos e Estratégicos. O
jornal estatal "Al Ahram" é um
dos principais do Egito. Para Salam, líderes muçulmanos devem
exigir de Washington "garantias
concretas" de que o processo de
paz na região será retomado.
"Da simpatia às vítimas, as ruas
do Cairo foram tomadas pela decepção, pela suspeita e pelo temor
de ver muçulmanos e árabes na linha de tiro", complementa.
Coalizão antiterrorismo
Segundo o diário libanês "Assafir", para os árabes, "ficar fora da
"aliança" antiterrorismo não será
confortável. Mas o mais perigoso
será se engajar incondicionalmente. É possível definir uma política árabe comum que rejeitaria
contentar-se apenas com soluções de segurança? Quem pediria
uma justa solução para os problemas da região e do mundo?".
Já o "The Daily Star", de Bangladesh, manifesta um apoio quase
incondicional aos EUA. "Alguns
americanos batizaram o que houve de segundo Pearl Harbor talvez
por causa do efeito surpresa e da
escolha dos alvos, símbolos nacionais. Mas é pior que isso. Enquanto Pearl Harbor era um alvo
militar, o World Trade Center não
era, e milhares de inocentes morreram... Daí a necessidade de nosso governo apoiar e ajudar qualquer campanha antiterrorista. Pedimos, porém, que os EUA limitem sua resposta à luta contra o
terrorismo, evitando o preconceito contra alguma crença."
Na Indonésia, maior país muçulmano em número de adeptos
(200 milhões do 1,3 bilhão no
mundo), o "The Jakarta Post" argumenta que, "no momento em
que os EUA ressoam os tambores
da guerra, convém lembrar que a
retaliação, qualquer que seja o alvo, deve ser pautada mais pelo
bom senso do que pela ira. O governo dos EUA deve agir com base nas leis internacionais e prestar
contas de todas as suas ações".
De acordo com o jornal indonésio, "o combate ao terrorismo é
uma guerra de outra natureza, como os próprios responsáveis norte-americanos admitiram. Resta
saber se os soldados dos EUA estão prontos para levar adiante essa guerra, para a qual eles não receberam nenhuma formação específica. Após as cenas horríveis
do dia 11, o mundo não pode mais
viver outros dramas durante os
quais outros inocentes percam a
vida. Se isso tivesse de acontecer,
seria uma guerra puramente
americana, da qual o restante do
mundo não participaria".
Teoria conspiratória
"É bastante possível que os ataques realizados contra o World
Trade Center e o Pentágono, seguidos de uma chuva de mísseis
contra Cabul [lançada pela oposição afegã", façam parte de um
vasto plano satânico concebido e
realizado por pessoas bem posicionadas na administração militar norte-americana", diz o "Business Recorder", de Karachi (Paquistão). O jornal deu destaque
para a notícia de que os EUA vão
combater separatistas pró-Paquistão que atuam na parte da Caxemira sob controle indiano.
O diário libanês "Annahar" diz
que "os atentados suicidas provocam uma rejeição crescente de tudo o que é muçulmano e árabe".
A previsão: "As ações nos EUA
vão levar Israel a tomar medidas
de segurança draconianas para
proteger as fronteiras, o espaço
aéreo e os habitantes, tendo como
consequência a aceleração de um
processo de separação visando
isolar os territórios palestinos".
Para o "Annahar", "com cada um
assumindo sua responsabilidade
política, as duas partes podem
frear o ardor dos extremistas".
Faiçal Oukasi, do jornal argelino "L'Expression", argumenta
que o verdadeiro desafio que se
coloca é o seguinte: como promover uma operação militar "eficaz e
de envergadura" sem passar por
"um elefante enraivecido em uma
loja de porcelana"?
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