São Paulo, sexta-feira, 04 de outubro de 2002

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IRAQUE

França, China e Rússia discordam de proposta de resolução que prevê uso da força se Bagdá obstruir inspeções mais rigorosas

Plano dos EUA aprofunda divisão na ONU

Luke Frazza/France Presse
O presidente Bush discursa a líderes hispânicos na Casa Branca


DA REDAÇÃO

A divisão entre os membros permanentes do Conselho de Segurança (CS) da ONU nas discussões sobre o Iraque se aprofundou ontem. Rússia, China e França manifestaram oposição à proposta de resolução dos EUA, apoiada pelo Reino Unido, que autorizaria o uso da força militar caso Bagdá não cooperasse totalmente com um novo regime mais rigoroso de inspeção de armas.
Críticos da posição americana dizem que sua proposta linha-dura tem como objetivo criar condições para justificar uma guerra para depor Saddam Hussein.
O presidente dos EUA, George W. Bush, nega ter essa intenção. "A opção militar é minha última escolha, não a primeira", disse, antes de destacar sua disposição para um ataque. Ele ameaça ação unilateral caso o CS não tome medidas para eliminar as armas de destruição em massa iraquianas. A Câmara dos Deputados autorizou o presidente a lançar campanha militar contra Bagdá, se isso se mostrar necessário. O projeto ainda precisa de aprovação do Senado, que iniciou debate ontem.
O vice-chanceler russo, Alexander Saltanov, disse ser inaceitável a menção ao uso da força na proposta de resolução dos EUA na ONU. A posição de Moscou se aproxima daquela da França, que defende um processo em duas etapas, concedendo inicialmente ao Iraque a oportunidade de colaborar com as inspeções. A China também fez um chamado por uma solução política para a crise.
Os três países possuem, ao lado dos EUA e do Reino Unido, direito a veto no CS. A discordância entre eles deve atrasar o reinício das inspeções de armas já autorizadas pelo Iraque (leia texto na próxima página).
A França estaria ameaçando introduzir sua própria proposta de resolução para votação no CS se Washington não apresentar um texto capaz de agradar a todos.
Um diplomata do CS disse que Paris deseja ver retiradas do documento algumas das determinações mais duras da proposta americana -como o parágrafo que autoriza o uso da força se Bagdá não cumprir suas obrigações. O chanceler francês, Dominique de Villepin, declarou que a força "só pode ser o último recurso".
Um funcionário do Departamento de Estado dos EUA, que preferiu não ter seu nome revelado, admitiu: "É muito complicado. Está claro que temos problemas com os franceses e os russos. Ninguém sabe a esta altura o que sairá de tudo isso".
O secretário de Estado americano, Colin Powell, reconheceu que as negociações são "complexas", mas se disse "otimista". "Trabalhamos duro em Nova York pelo que acreditamos ser necessário."

Com agências internacionais

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