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Doutrina Bush, não EUA, é alvo de críticas européias
MÁRCIO SENNE DE MORAES
DA REDAÇÃO
A recente contenda diplomática que opõe os EUA a alguns
de seus aliados europeus pareceu agravar-se anteontem,
quando o chanceler (premiê)
alemão, Gerhard Schröder, e o
presidente francês, Jacques
Chirac, expressaram "firme
oposição" à intenção de Washington de incluir, numa resolução do Conselho de Segurança da ONU, a possibilidade de
usar força militar caso Bagdá
não cumpra seus deveres ligados à inspeção de seus arsenais.
O diário "Le Monde" mencionou até a criação de uma
"frente comum" (Paris-Berlim) contra a iniciativa diplomática dos EUA . Todavia analistas ouvidos pela Folha não
crêem numa real degradação
das relações transatlânticas.
"Alguns países europeus sentem que chegou o momento
em que ao menos parte do continente deve ter uma posição
firme em relação ao que vêem
como uma atitude unilateralista dos EUA. Além disso, a Alemanha e a França, que são o
motor da União Européia, com
essa posição, se distanciam de
algo que é malvisto pela maioria da população", explicou
Anne-Marie Le Gloannec, do
Centro Marc Bloch (Berlim).
"Isso não significa, porém,
que as relações da França ou da
Alemanha com os EUA estejam em risco. Trata-se de algo
normal em diplomacia. Ademais, esse não é o único ponto
de divergência entre a França
ou a Alemanha e os EUA. Há,
por exemplo, o Protocolo de
Kyoto [que cria metas para o
combate do efeito estufa" e o
Tribunal Penal Internacional."
Davis Bobrow, do Centro
Ridgway para Estudos sobre
Segurança Internacional
(EUA), ressaltou que esse tipo
de disputa diplomática marca a
história das relações transatlânticas "desde a década de
50". "A Europa quer ter certeza
de que os EUA continuarão
sendo um aliado preferencial,
mas não quer ser arrastada a
um conflito por conta da atitude americana", analisou.
"Na Guerra Fria, houve ocasiões em que a França expressou descontentamento com os
EUA. Mas essas rixas duravam
pouco, pois as relações franco-americanas eram mais importantes do que qualquer problema "menor". O mesmo ocorrerá agora", avaliou Bobrow.
Segundo os analistas, a "forte
oposição" franco-alemã é mais
ligada aos sinais confusos enviados pela atual administração americana ao continente
europeu do que à "superpotência" dos EUA em si, já que, no
governo de Bill Clinton (1993-2001), esse tipo de desavença
não ocorreu. "As mensagens
dúbias dos EUA confundem os
europeus, que desconfiam das
verdadeiras intenções dos
americanos", afirmou Bobrow.
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