São Paulo, sexta-feira, 04 de outubro de 2002

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Doutrina Bush, não EUA, é alvo de críticas européias

MÁRCIO SENNE DE MORAES
DA REDAÇÃO

A recente contenda diplomática que opõe os EUA a alguns de seus aliados europeus pareceu agravar-se anteontem, quando o chanceler (premiê) alemão, Gerhard Schröder, e o presidente francês, Jacques Chirac, expressaram "firme oposição" à intenção de Washington de incluir, numa resolução do Conselho de Segurança da ONU, a possibilidade de usar força militar caso Bagdá não cumpra seus deveres ligados à inspeção de seus arsenais.
O diário "Le Monde" mencionou até a criação de uma "frente comum" (Paris-Berlim) contra a iniciativa diplomática dos EUA . Todavia analistas ouvidos pela Folha não crêem numa real degradação das relações transatlânticas.
"Alguns países europeus sentem que chegou o momento em que ao menos parte do continente deve ter uma posição firme em relação ao que vêem como uma atitude unilateralista dos EUA. Além disso, a Alemanha e a França, que são o motor da União Européia, com essa posição, se distanciam de algo que é malvisto pela maioria da população", explicou Anne-Marie Le Gloannec, do Centro Marc Bloch (Berlim).
"Isso não significa, porém, que as relações da França ou da Alemanha com os EUA estejam em risco. Trata-se de algo normal em diplomacia. Ademais, esse não é o único ponto de divergência entre a França ou a Alemanha e os EUA. Há, por exemplo, o Protocolo de Kyoto [que cria metas para o combate do efeito estufa" e o Tribunal Penal Internacional."
Davis Bobrow, do Centro Ridgway para Estudos sobre Segurança Internacional (EUA), ressaltou que esse tipo de disputa diplomática marca a história das relações transatlânticas "desde a década de 50". "A Europa quer ter certeza de que os EUA continuarão sendo um aliado preferencial, mas não quer ser arrastada a um conflito por conta da atitude americana", analisou.
"Na Guerra Fria, houve ocasiões em que a França expressou descontentamento com os EUA. Mas essas rixas duravam pouco, pois as relações franco-americanas eram mais importantes do que qualquer problema "menor". O mesmo ocorrerá agora", avaliou Bobrow.
Segundo os analistas, a "forte oposição" franco-alemã é mais ligada aos sinais confusos enviados pela atual administração americana ao continente europeu do que à "superpotência" dos EUA em si, já que, no governo de Bill Clinton (1993-2001), esse tipo de desavença não ocorreu. "As mensagens dúbias dos EUA confundem os europeus, que desconfiam das verdadeiras intenções dos americanos", afirmou Bobrow.


Texto Anterior: Iraque: Plano dos EUA aprofunda divisão na ONU
Próximo Texto: Análise: Na diplomacia, Iraque joga com habilidade
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.