São Paulo, sexta-feira, 04 de outubro de 2002

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CRIME

Holanda revela operação que desviou para a Europa remédios que deveriam ser vendidos a preços mais baixos em países africanos

Contrabando tira droga anti-Aids da África

DA REDAÇÃO

Autoridades médicas holandesas revelaram ontem estar tentando recuperar medicamentos de combate à Aids importados ilegalmente, após descobrir uma operação de contrabando que vendia na Europa remédios enviados à África para serem comercializados a preços reduzidos.
Cerca de 36 mil caixas de Combivir e Epivir, enviadas da França à África, acabaram em prateleiras de farmácias na Holanda e na Alemanha, afirmou o porta-voz do Serviço Geral de Inspeção da Saúde da Holanda, Raymond Salet.
Segundo ele, 6.000 caixas teriam sido vendidas na Holanda, e as outras 30 mil, na Alemanha.
Quase 80% das pílulas, que na Europa valem cerca de 14,5 milhões, já foram usadas por pacientes infectados com o HIV porque foram vendidas para fornecedores há vários meses, disse Salet.
Várias multinacionais farmacêuticas começaram a vender remédios de combate ao HIV, o vírus que causa a Aids, a preços reduzidos na África depois de serem criticadas por ter grandes lucros à custa de doentes pobres.
Durante anos, as empresas defenderam sua política de preços dizendo que incorporavam os altos custos de pesquisas médicas e combateram a venda de genéricos em países em desenvolvimento.
Autoridades holandesas, após receber informações de autoridades belgas recentemente, descobriram que milhares de caixas de medicamentos fabricadas na França pela GlaxoSmithKline haviam sido enviadas da África de volta à Europa e vendidas por quatro vezes o preço sugerido.
Uma caixa com 60 cápsulas de Combivir que custa cerca de 90 na África pode ser vendida na Europa por 400.
Promotores disseram que estão investigando uma companhia holandesa, que não quiseram identificar, por supostamente enviar os remédios para a Holanda.
Farmácias receberam uma carta nesta semana pedindo que retirassem de suas prateleiras as caixas contrabandeadas e receberam os números de série dos remédios que deveriam ter sido vendidos na África. Os países para os quais os remédios deveriam ter sido enviados são Congo, Senegal, Costa do Marfim, Togo e Guiné-Bissau.
Segundo um relatório da ONU publicado no início do ano, há 28,5 milhões de pessoas infectadas com o HIV na África Subsaariana. Apenas 30 mil delas, ou cerca de 0,1%, contudo, têm acesso aos medicamentos antiretrovirais que tornaram a Aids uma doença controlável em países ricos.
Saskia Doorweerd, porta-voz da GlaxoSmithKline, afirmou que o incidente parecia ser isolado e que a companhia não deve mudar sua política. "Participamos de projetos de auxílio em países em desenvolvimento há 20 anos. Isso não será motivo para parar", afirmou.


Com agências internacionais


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