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São Paulo, sábado, 04 de outubro de 2003

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IRAQUE OCUPADO

Presidente cita trechos de relatório inconclusivo sobre armas para reiterar que ditador era uma ameaça

Bush diz que Saddam "enganou o mundo"

DA REDAÇÃO

Um dia após a divulgação de um relatório afirmando que não foram achadas armas proibidas no Iraque, o presidente dos EUA, George W. Bush, voltou a dizer ontem que o ex-ditador Saddam Hussein violou a resolução da ONU que exigia o desarmamento de Bagdá e "enganou a comunidade internacional".
Mas Bush evitou uma resposta direta ao ser indagado se ainda estava certo de que as armas proibidas seriam achadas. A suposta existência do arsenal foi a maior justificativa usada pelos EUA e pelo Reino Unido para invadir o Iraque em março.
"O relatório afirma que o regime de Saddam Hussein mantinha uma rede clandestina de laboratórios biológicos, uma amostra da toxina mortal que provoca o botulismo, iniciativas para encobrir as atividades e um trabalho já em estágio avançado para desenvolver mísseis de longo alcance", disse Bush na Casa Branca antes de embarcar para Milwaukee.
Na quinta-feira, David Kay, o especialista da CIA que trabalhou como consultor do Grupo de Pesquisa do Iraque, apresentou um relatório de trabalho sobre as buscas pelo arsenal proibido em que afirma não ser possível tirar conclusões sobre sua existência.
Kay, que trabalhou à frente de um grupo de 1.200 especialistas em uma operação que consumiu três meses e US$ 300 milhões, disse ter encontrado equipamentos, que não foram declarados aos inspetores da ONU, relacionados ao suposto programa de armas proibidas e que as buscas continuariam. Mas não foi achado vestígio das armas em si.

Diferenças
Bush, no entanto, usou trechos do relatório para defender sua decisão de invadir o Iraque.
"A equipe do doutor Kay descobriu o que o relatório chamou de dezenas de atividades dentro de programas relacionados a armas de destruição em massa", disse. "Não consigo pensar em ninguém que ache que o mundo seria um lugar mais seguro se Saddam Hussein estivesse no poder."
Mas a oposição contestou o argumento. A deputada Nancy Pelosi, líder democrata na Câmara, afirmou que, segundo o relatório, o Iraque não representava uma ameaça iminente e que havia tempo para insistir na diplomacia, enfatizando que "há uma grande diferença" entre manter programas de armas e ter as armas em si.
O secretário de Estado americano, Colin Powell, também saiu em defesa da decisão pela guerra e afirmou que o relatório de Kay deixou o governo "mais convicto de ter tomado a medida correta".
Em Londres, o chanceler Jack Straw disse que as armas proibidas ainda serão achadas e que o documento de Kay continha "mais evidências inquestionáveis" de que o Iraque violara a resolução da ONU.
A AIEA, agência nuclear da ONU, afirmou que, segundo uma avaliação inicial, o relatório de Kay se ampara primordialmente em depoimentos de cientistas iraquianos e que não daria tanta relevância a um documento produzido dessa forma.
Mas o porta-voz do organismo, Mark Gwozdecky, advertiu que a agência não tivera acesso ao relatório e por isso não emitiria um parecer mais detalhado.

Iraquianos mortos
Em incidentes distintos no norte do país, quatro iraquianos morreram -dois quando deixavam uma bomba em uma estrada em Kirkuk e dois na explosão de outro artefato em Tikrit. Um soldado dos EUA se afogou em Bagdá.
Sem divulgar nomes, o comando americano também anunciou a prisão, em Baquba, de um homem que trabalhava como executor para Saddam Hussein.


Com agências internacionais

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