São Paulo, domingo, 04 de outubro de 2009
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Casa reúne companheiros improváveis
Hóspedes menos "ilustres" da embaixada brasileira em Honduras incluem um "médico da resistência", um padre e um bailarino
Amanhã, o presidente deposto de Honduras, Manuel Zelaya, e sua mulher, Xiomara,
completam duas semanas como "hóspedes" da Embaixada
do Brasil em Tegucigalpa. Com
eles estão outras 66 pessoas,
que dividem os cerca de 400
metros e seis banheiros da casa
sob o cerco de dezenas de policiais e militares fortemente armados e encapuzados. ![]() ![]() O "jornalista militante" americano Andrés Conteris, 48, só consome líquidos desde 15 de setembro. Foi ele quem convenceu Estrada a começar um jejum total. Inspirado por Gandhi, diz que será a "etapa final" da resistência. "O enfoque é a insurreição não violenta." O diplomata brasileiro de plantão, Lineu de Paula, proibiu a iniciativa na embaixada. "Mas queremos falar com Amorim para pedir sua permissão." ![]() Com experiência em missões difíceis, como o resgate de brasileiros durante a guerra no Líbano, em 2006, o diplomata Lineu de Paula, 55, brinca que agora é o "diretor da cadeia". Suas tarefas nos últimos dias incluíram assistir a uma reunião de Zelaya com um enviado da OEA, impedir atos proselitistas dentro da casa e procurar a chave de um banheiro trancado pelo lado de fora. ![]() Autodeclarado "médico da resistência", Marco Girón, 39, cuida de todos e monitora constantemente Zelaya. "Sua saúde está bem, mas nos preocupa que ele seja o alvo. Temos fortes suspeitas de que os militares usam aparelhos infrasônicos, que podem provocar confusão e dor de cabeça." Girón entrou na embaixada depois de um hora no teto da casa vizinha, durante confrontos entre policiais e manifestantes. Com autorização do Zelaya, pulou o muro. ![]() Já a parte espiritual da casa está a cargo do padre Andrés Tamayo, 52. Salvadorenho de nascimento, perdeu a mãe aos três meses e foi entregue pelo pai a uma família pobre. "Meu compromisso nasce da minha condição de vida. Do contrário, seria uma traição." Ligado a disputas de terra, ele já sofreu cinco atentados. ![]() Talvez o único socialista da casa, o escritor Milton Benítez, 33, não votou em Zelaya e é parte desse realinhamento político que uniu o presidente deposto à esquerda em torno da Constituinte. Diz que está lá para garantir a "transparência" do diálogo e impedir que a Constituinte seja descartada. "Que os acordos não passem por cima do sangue." ![]() Se fosse um reality show de verdade (ou de mentira), o guianense naturalizado hondurenho Mahadeo Emmo, 53, ganharia disparado. Quando abre a boca, arranca risadas com seu forte sotaque e frases otimistas. É professor de inglês e tem 11 filhos. Está em Honduras há 34 anos. Queria ir para os EUA, mas o dinheiro acabou, e ele foi ficando. Aqui, sua missão é cuidar da limpeza. ![]() Quando houve o golpe, em 28 de junho, a operária Itália Garcia, 34, foi à rua marchar. Apanhou da polícia e, quando voltou ao trabalho, foi despedida por seu envolvimento político. Dias depois, saiu da igreja evangélica Vida Abundante porque viu o pastor abraçando Micheletti na TV. Viúva, mandou seus três filhos à casa dos pais para se dedicar "por inteiro" às marchas pró-Zelaya. Além de deixar o café pronto todos os dias às 7h, ela limpa todos os banheiros da casa. Com Emmo, toca no grupo de samba Amigos do Mel, com instrumentos improvisados. ![]() Outra das poucas mulheres é Doris García, 48, única membro do gabinete que está na embaixada -em setembro, completaria um ano como ministra da Mulher. Com o golpe, passou a acompanhar Xiomara, da qual é assistente e amiga. "Aqui, ninguém tem um salário, cremos que a causa é justa." ![]() Filho de esquerdistas, Abner Hernandez, 16, deixou o segundo ano do ensino médio para participar da campanha pela Constituinte. "Que importa estudar se eu não ia conseguir um trabalho? Com a Constituição, os pobres vamos ter o poder." Na casa, ajuda na vigilância. ![]() Mario Irias, 36, é um dos 28 seguranças de Zelaya. Sua função é crítica: cuida, por 15 horas diárias, da porta de entrada da embaixada. É ex-militar e trabalha de técnico de manutenção de câmeras de segurança. Leia mais sobre o cotidiano na embaixada brasileira durante a permanência do presidente deposto Manuel Zelaya no blog do enviado especial da Folha a Tegucigalpa, Fabiano Maisonnave www.folha.com.br/0927321 Texto Anterior: Acordo não desatará tensão em Honduras, diz analista Próximo Texto: Protestos põem à prova tolerância kirchnerista Índice |
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