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Acordo não desatará tensão em Honduras, diz analista
Golpe aglutinou setores que cobram mudanças, segundo especialista hondurenho
Fabrico Herrera prevê que
"resistência ao golpe" deve
insistir em Constituinte
e que abstenção deve ser alta nas eleições gerais
FLÁVIA MARREIRO
DA REPORTAGEM LOCAL
Se não havia respaldo social
suficiente à ideia de Manuel
Zelaya de promover uma Constituinte em Honduras, o golpe
contra ele acabou por reforçá-lo, diz o analista político hondurenho Fabrício Herrera, 41.
Por isso, Herrera acredita
que, mesmo na hipótese de um
acordo político entre o deposto
e o governo golpista de Roberto
Micheletti, são poucas as chances de que as tensões sociais e
políticas do país se dissolvam
no curto prazo.
Herrera é assessor político
do Grupo da Sociedade Civil
(GSC), organização que, por lei,
deve ser consultada na aplicação do fundo antipobreza estatal. Em contato com 12 setores
sociais de Honduras, de minorias étnicas a sindicatos, o analista ataca a Carta atual, de
1982, feita à medida das circunstâncias de Honduras numa América Central conflagrada pela Guerra Fria.
Leia trechos da entrevista
com Herrera, coautor de "Do
diálogo à Concertação em Honduras" (Gardabarranco, 2005).
FOLHA- Para onde caminha a crise?
FABRÍCIO HERRERA - Não vejo
uma solução a curto prazo, nem
com acordo e retorno do presidente Zelaya ao poder, muito
menos com a consolidação do
governo de fato. Obviamente, a
volta de Zelaya o mais breve
possível ao poder e a atenção à
demanda por uma Assembleia
Constituinte promoveria o
trânsito em direção a uma solução. Há tantas tensões acumuladas que é o único caminho
viável para uma solução duradoura e sustentável.
FOLHA- Mas a ideia corrente é que
a demanda pela Constituinte não
tem respaldo social. Zelaya só mimetizava o chavismo...
HERRERA - Há algo de certo no
que dizem, mas o problema é
que o golpe de 28 de junho reposicionou tudo, reposicionou
forças políticas e sociais. Uma
mostra é que, no domingo do
golpe, pela manhã, havia 3.000
pessoas na casa presidencial. À
noite, falava-se de 60 mil. Houve duas grandes manifestações
da resistência: quando ele tentou voltar em julho, e na data
pátria de Honduras, em setembro. É possível que a Constituinte antes do golpe não tivesse tanta força. O tema é que o
golpe em si somado às ações
posteriores do governo de fato
pode ter empurrado uma porção de gente nessa direção.
FOLHA- Quem compõe a resistência ao golpe?
HERRERA - É um tecido bastante
complexo, horizontal. É difícil
achar um protagonista. Há
apoios de grupos indígenas, organizações rurais, camponeses,
partidos políticos pequenos,
sindicatos como o dos professores, setores da igreja. Difícil
que eles desistam da Assembleia Constituinte. A Constituição atual foi feita quando a
América Central era um ponto
quente da Guerra Fria, com a
guerrilha em El Salvador, com a
Revolução Sandinista. Saíamos
de 30 anos de governos militares em Honduras. Foi feita com
base nas circunstâncias que a
pressionavam, não foi pensada
para durar tanto tempo. Obviamente, durante quase 30 anos
ela conseguiu funcionar mais
ou menos bem, mas não na
questão econômica ou na efetiva participação democrática.
FOLHA- Mas, se há tanta insatisfação, porque um candidato conservador é o favorito nas eleições?
HERRERA - O sistema político
representativo está em colapso.
Em Honduras vêm aumentando os índices de abstenção. É
provável que, com o golpe, agora seja ainda maior que os 50%
que se prognosticava. Quando
Zelaya foi eleito, a abstenção foi
de 44%. Quando se fala de Porfirio Lobo [Partido Nacional, de
direita] como favorito, falamos
do sistema do jeito que funciona. Mas não me espantaria se o
candidato independente Carlos Reyes tivesse votação expressiva se as eleições fossem
feitas em condições normais.
Nessa conjuntura pós-golpe,
Zelaya se converteu num importante eleitor.
FOLHA- Por que foi golpe?
HERRERA - Não precisa de muita
discussão nem falar que militares o levaram para Costa Rica.
O Congresso baixou o decreto
141-2009 para pôr Roberto Micheletti no poder, e retirar Zelaya por violações administrativas, o que não tem competência para fazer. O decreto nem
fala da Corte Suprema. Eles
apresentaram uma suposta
carta de renúncia de Zelaya,
mas o decreto também não a cita. Também cita que a substituição se dá em caso de "ausência absoluta do presidente", como se ele tivesse desaparecido
ou morrido... A sessão está lá no
Youtube (www.youtube.com/watch?v=tDE2wrP6gGU).
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