São Paulo, segunda-feira, 04 de novembro de 2002

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ELEIÇÃO

Moderada, agremiação tenta aliar democracia e religião

Partido islâmico lidera contagem em eleição parlamentar na Turquia

RODRIGO UCHÔA
DA REDAÇÃO

O Partido da Justiça e do Desenvolvimento (AKP), acusado de promover a idéia de um Estado islâmico, liderava ontem a contagem da eleição parlamentar da Turquia, possuindo 34,3%, com 60% dos votos apurados.
Em segundo lugar estava o Partido Popular Republicano (CHP), social-democrata, que é apoiado pelos mercados, com 19,2%.
O premiê turco, Bulent Ecevit, assumiu a derrota e disse que sua coalizão, com menos de 10% dos votos, cometeu suicídio ao antecipar as eleições, e deve ficar de fora do Parlamento (o mínimo para possuir cadeiras é 10%). Seu partido estava com apenas 1%.
O carismático ex-prefeito de Istambul Recep Erdogan comandou a campanha do AKP, embora tenha sido declarado inelegível pela Justiça, acusado de conspirar contra o caráter secular do Estado. Os democrata-muçulmanos dizem que a ação está eivada de preconceitos. Eles dizem que deveriam ser vistos de modo tão natural quanto os democrata-cristãos são vistos na Europa.
"Talvez o AKP -fundado em 2001- consiga, seguindo sua atual linha moderada, mostrar que democracia e islamismo não são incompatíveis", disse à Folha Nursulan Surayev, especialista em política da região. "Os turcos perderam 40% de seu poder de compra na crise de 2001. A recuperação tem sido lenta e a atuação dos partidos tradicionais têm sido considerada catastrófica pela maioria da população", afirmou.
A existência de um Estado secular é uma das maiores preocupações da Constituição turca. República desde 1923, o país é considerado o mais ocidentalizado entre os de maioria islâmica -mais de 95% dos 66 milhões de habitantes são muçulmanos.
Considerados os "guardiães da herança de Ataturk" ("pai dos turcos", nome adotado por Mustafá Kemal, o fundador da república), os militares têm poderes constitucionais especiais, descreve Eric Rouleau, ex-embaixador da França na Turquia.
Ao menos outros três partidos lutavam para ultrapassar a barreira eleitoral. O conservador Partido da Via Justa, da ex-premiê Tansu Çiller, contava com 10% dos votos, na boca-de-urna.
O Hadep, que defende os direitos dos curdos -uma minoria de cerca de 8 milhões de habitantes-, protestou ontem contra o que chamou de intimidação. Para eles, policiais faziam ameaças contra eleitores dos vilarejos das Províncias curdas para que não votassem no partido. Os analistas acham difícil que o Hadep, mesmo se alcançar o quociente eleitoral para compor o Parlamento, faça parte de alguma coalizão.
O Partido da Ação Nacional, de extrema direita, também oscilava perto dos 10%.
Surayev explica que o presidente turco, Ahmet Sezer, deve convidar, daqui a cerca de duas semana, um membro do Parlamento para tentar formar o governo. A partir de então, os partidos têm 45 dias para negociar um gabinete.
"Se confirmada a votação do AKP, será a primeira vez na história republicana do país que um partido alcança a maioria relativa sem ter um candidato a premiê, já que Erdogan está impedido judicialmente, o que deve complicar a formação de um governo", analisa Surayev. "E dificilmente Erdogan deixará de ser o homem forte de um governo do AKP."


Com agências internacionais


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