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ELEIÇÃO
Moderada, agremiação tenta aliar democracia e religião
Partido islâmico lidera contagem em eleição parlamentar na Turquia
RODRIGO UCHÔA
DA REDAÇÃO
O Partido da Justiça e do Desenvolvimento (AKP), acusado de
promover a idéia de um Estado islâmico, liderava ontem a contagem da eleição parlamentar da
Turquia, possuindo 34,3%, com
60% dos votos apurados.
Em segundo lugar estava o Partido Popular Republicano (CHP),
social-democrata, que é apoiado
pelos mercados, com 19,2%.
O premiê turco, Bulent Ecevit,
assumiu a derrota e disse que sua
coalizão, com menos de 10% dos
votos, cometeu suicídio ao antecipar as eleições, e deve ficar de fora
do Parlamento (o mínimo para
possuir cadeiras é 10%). Seu partido estava com apenas 1%.
O carismático ex-prefeito de Istambul Recep Erdogan comandou a campanha do AKP, embora
tenha sido declarado inelegível
pela Justiça, acusado de conspirar
contra o caráter secular do Estado. Os democrata-muçulmanos
dizem que a ação está eivada de
preconceitos. Eles dizem que deveriam ser vistos de modo tão natural quanto os democrata-cristãos são vistos na Europa.
"Talvez o AKP -fundado em
2001- consiga, seguindo sua
atual linha moderada, mostrar
que democracia e islamismo não
são incompatíveis", disse à Folha
Nursulan Surayev, especialista
em política da região. "Os turcos
perderam 40% de seu poder de
compra na crise de 2001. A recuperação tem sido lenta e a atuação
dos partidos tradicionais têm sido
considerada catastrófica pela
maioria da população", afirmou.
A existência de um Estado secular é uma das maiores preocupações da Constituição turca. República desde 1923, o país é considerado o mais ocidentalizado entre
os de maioria islâmica -mais de
95% dos 66 milhões de habitantes
são muçulmanos.
Considerados os "guardiães da
herança de Ataturk" ("pai dos
turcos", nome adotado por Mustafá Kemal, o fundador da república), os militares têm poderes
constitucionais especiais, descreve Eric Rouleau, ex-embaixador
da França na Turquia.
Ao menos outros três partidos
lutavam para ultrapassar a barreira eleitoral. O conservador Partido da Via Justa, da ex-premiê
Tansu Çiller, contava com 10%
dos votos, na boca-de-urna.
O Hadep, que defende os direitos dos curdos -uma minoria de
cerca de 8 milhões de habitantes-, protestou ontem contra o
que chamou de intimidação. Para
eles, policiais faziam ameaças
contra eleitores dos vilarejos das
Províncias curdas para que não
votassem no partido. Os analistas
acham difícil que o Hadep, mesmo se alcançar o quociente eleitoral para compor o Parlamento, faça parte de alguma coalizão.
O Partido da Ação Nacional, de
extrema direita, também oscilava
perto dos 10%.
Surayev explica que o presidente turco, Ahmet Sezer, deve convidar, daqui a cerca de duas semana, um membro do Parlamento
para tentar formar o governo. A
partir de então, os partidos têm 45
dias para negociar um gabinete.
"Se confirmada a votação do
AKP, será a primeira vez na história republicana do país que um
partido alcança a maioria relativa
sem ter um candidato a premiê, já
que Erdogan está impedido judicialmente, o que deve complicar a
formação de um governo", analisa Surayev. "E dificilmente Erdogan deixará de ser o homem forte
de um governo do AKP."
Com agências internacionais
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