São Paulo, quinta-feira, 04 de novembro de 2010

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Força do Tea Party incomoda até oposição

Republicanos moderados terão de lidar com o grupo, que elegeu ao menos 4 senadores e dezenas de deputados

Tentação republicana é bloquear por completo iniciativas democratas e rejeitar toda reforma aprovada desde 2008

DE WASHINGTON

Ainda comemorando vitórias nas eleições, republicanos já tinham vários problemas nas mãos ontem: controlar a nova força do Tea Party, decidir o formato da oposição à Casa Branca e se preparar para 2012.
É consenso que o novo Congresso será ainda mais conservador e direitista, na Câmara e no Senado.
A tentação para os republicanos é não só de bloqueio total de ações democratas mas também de rejeitar grandes reformas aprovadas nos últimos dois anos.
O bloqueio será fácil de alcançar. Na Câmara eles são maioria; no Senado, não, mas podem usar manobras para impedir votações.
A primeira reforma a sofrer ataque deverá ser a do sistema de saúde, que o novo líder da Câmara, John Boehner, prometeu "substituir por soluções de senso comum para baixar preços".
A impopular reforma é uma das assinaturas do governo de Barack Obama. E, meses atrás, o líder da burocracia do partido, Michael Steele, já avisara: "A tarefa mais importante que temos é garantir que Obama seja presidente de um mandato só".
A partir de agora, porém, as atitudes radicais antigoverno têm riscos. O eleitorado vai cobrar leis concretas e, para isso, republicanos precisarão de acordos.
A história deixou lições nesse sentido. Após a "revolução" de 1994, quando tomaram o Congresso depois de quatro décadas de domínio democrata, os republicanos tentaram paralisar o governo, mas viram o jogo virar nas mãos do então presidente democrata, Bill Clinton (1993-2001).
Ele culpou o Legislativo pelos impasses e levou a reeleição com relativa tranquilidade dois anos depois.

RACHA
Cunhar propostas próprias será desafio à parte, pois o partido está mais diversificado. Sobre o corte do deficit, por exemplo, ninguém concorda.
Uns querem acabar com o Departamento da Educação, outros acham que é o bastante diminuir gastos em emendas para projetos locais.
E, em meio a tudo isso, o "establishment" republicano vai ter que lidar com os ultraconservadores do Tea Party. A eleição consagrou o movimento, que foi visto positivamente por 40% do eleitorado em pesquisas posteriores à votação.
Os ultradireitistas elegeram pelo menos quatro senadores (Rand Paul, Marco Rubio, Pat Toomey e Ron Johnson) e dezenas de deputados federais.
Mas o ativismo foi responsabilizado também por derrotas cruciais em Estados onde seus escolhidos derrubaram a candidatura de republicanos moderados, como em Delaware e Nevada.
Como o grupo funcionará nos corredores do poder é uma incógnita. Eles já deixaram claro sua resistência a ceder para alcançar acordos e chegam com relação conturbada com a liderança.
Também já estão de olho na Presidência. Na manhã seguinte à votação, um dos grupos, o Tea Party Nation, enviou um e-mail a colaboradores intitulado "bem-vindos a 2012". "A corrida presidencial começou oficialmente. O movimento precisa ser uma força decisiva na escolha do candidato republicano", afirmava o texto.
Se se recusarem a fazer acordos, correm o risco de serem jogados para escanteio.
Clyde Wilcox, da Universidade Georgetown, prevê que o Tea Party terá, sim, voz no Congresso. "A questão é que tipo de voz. Os extremistas não são majoritários, mas muitos eleitos têm ideias irracionais sobre Orçamento e políticas."
Para ele, o futuro do Tea Party está ligado à economia. "Se ela melhorar, a raiva será diluída." E, com ela, o apoio aos ultraconservadores. (ANDREA MURTA)


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