São Paulo, quarta, 4 de novembro de 1998

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DIPLOMACIA
Forças Armadas da Colômbia teriam utilizado território brasileiro para atacar guerrilheiros das Farc em Mitú
Brasil protesta contra ação colombiana

da Sucursal de Brasília

O governo brasileiro protestou ontem contra a invasão ao território nacional por tropas das Forças Armadas da Colômbia no extremo noroeste do Estado do Amazonas.
A invasão teria ocorrido domingo passado, quando tropas do Exército da Colômbia utilizaram o território brasileiro para atacar guerrilheiros em Mitú, cidade colombiana ocupada por rebeldes.
A insatisfação do governo foi manifestada por meio da convocação para consultas do embaixador brasileiro em Bogotá, Marcus de Vicenzi. Na diplomacia, esse procedimento é considerado drástico e mostra que as relações entre os dois países ficaram abaladas por causa da invasão militar.
A última vez que o Brasil tomou decisão semelhante foi há dois anos, quando chamou para consultas o embaixador brasileiro em Lagos, na Nigéria, protestando contra o governo do general Sani Abacha. Na ocasião, haviam sido mortos oposicionistas do governo.
O porta-voz da Presidência, Sergio Amaral, afirmou que o Brasil resolveu protestar porque as Forças Armadas da Colômbia realizaram operações contra a guerrilha a partir de território brasileiro.
Na região leste da Colômbia, atua o grupo guerrilheiro das Farc (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia), o mais antigo do país (foi fundado em 1964).
Amaral disse que não daria detalhes porque caberia ao Ministério das Relações Exteriores se manifestar a respeito.
A Folha apurou que o governo colombiano pediu autorização para utilizar a pista de pouso na região de Querari, na fronteira do Brasil com a Colômbia, perto de Mitú. Mas a autorização teria sido negada pelo governo brasileiro.
O presidente Fernando Henrique Cardoso tomou a decisão de manifestar protesto formal ao governo colombiano durante reunião, de aproximadamente duas horas, no Palácio da Alvorada, com os ministros militares, o ministro-chefe da Casa Militar, Alberto Cardoso, o ministro-chefe da SAE (Secretaria de Assuntos Estratégicos), Ronaldo Sardenberg, e ministro das Relações Exteriores, Luiz Felipe Lampreia.
O embaixador da Colômbia no Brasil, Mário Galofe Cano, também foi chamado para uma reunião no Itamaraty. Nela, os diplomatas brasileiros demonstraram a insatisfação do governo em relação à operação das Forças Armadas da Colômbia.
A Folha procurou ontem, por telefone, o embaixador colombiano, mas não conseguiu falar com ele. Até as 20h, ele não havia respondido aos telefonemas.
Em Bogotá, o general Fernando Tapias, comandante das Forças Armadas, disse que o Brasil presta "ajuda humanitária" ao Exército colombiano na fronteira entre os dois países. Ele não falou sobre a invasão do território brasileiro no Estado do Amazonas.
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Colaboraram a Redação e as agências internacionais



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