São Paulo, sexta-feira, 04 de dezembro de 2009

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"Salvamos a pátria", diz Micheletti após derrota de Zelaya

Presidente interino lança selo comemorativo com sua imagem um dia após Congresso barrar a volta de líder deposto ao cargo

EUA se dizem decepcionados com resultado de votação, mas avaliam que Congresso agiu de acordo com cláusula de pacto selado em outubro


FABIANO MAISONNAVE
ENVIADO ESPECIAL A TEGUCIGALPA

Na volta de sua "licença temporária" durante o período eleitoral, o presidente interino de Honduras, Roberto Micheletti, comemorou ontem a decisão do Congresso de não restituir Manuel Zelaya e até lançou um selo postal em que aparece com a faixa presidencial.
"Nós salvamos a pátria. O tempo e as circunstâncias internas e internacionais estão nos dando a razão", discursou Micheletti, em evento na Casa Presidencial para lançar novos selos postais em comemoração à classificação de Honduras para a Copa do Mundo, incluindo um com a sua imagem.
Ao final do evento, questionado por jornalistas sobre o futuro de Zelaya, abrigado há 75 dias na embaixada brasileira, Micheletti disse: "Não tenho o que oferecer a ele, é uma posição que lhe compete".
Anteontem, a votação no Congresso terminou com um placar de 111 a 14 contra Zelaya, que, em nota, acusou os deputados de serem "cúmplices confessos [do golpe], estão de acordo com o sangue derramado dos mártires da ditadura".
Zelaya disse ontem à Folha que ainda não decidiu seu futuro -permanece na embaixada brasileira e não pediu asilo político a nenhum país.
Um dos líderes da chamada resistência, o sindicalista Juan Barahona, disse que uma assembleia realizada ontem decidiu "continuar exigindo a restituição e a convocação de uma Assembleia Constituinte". Ele, no entanto disse que já não haverá mais "luta nas ruas". Barahona afirmou também que a Frente Nacional de Resistência (FNR), que reúne grupos de esquerda, não reconhecerá o governo de Lobo.

"Decepcionados"
Em teleconferência na tarde de ontem, o Departamento de Estado americano se disse "decepcionado" com a não restituição de Zelaya ao poder. "Os EUA esperavam que o Congresso hondurenho fosse aprovar seu retorno", disse Arturo Valenzuela, número um do Departamento de Estado para a América Latina.
Ainda assim, segundo Valenzuela, o processo todo foi feito de maneira "aberta e transparente" pelo Legislativo hondurenho, de acordo com o que previa o artigo 5º do Acordo San José-Tegucigalpa, mediado pelos EUA em outubro.
Segundo um alto funcionário do governo americano, que pediu para não ser identificado, a inclusão de tal artigo foi exigência do próprio Zelaya, que acreditava ter a maioria dos votos. Seja como for, disse Valenzuela, "ainda restam passos importantes para se restabelecer a ordem constitucional em Honduras e promover a reconciliação nacional". Ele citou a formação de um governo de união e a criação de uma comissão da verdade.

Colaborou SÉRGIO DÁVILA, de Washington



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