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São Paulo, quarta-feira, 05 de fevereiro de 2003

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IRAQUE NA MIRA

Presidente francês reitera posição a favor de uma solução pacífica, mas não descarta ação no âmbito da ONU

Blair não convence Chirac a aderir à guerra

Jacky Naegelen/Reuters
O premiê britânico, Tony Blair (à esq.), ouve o presidente francês, Jacques Chirac, durante entrevista após cúpula em Le Touquet


ALCINO LEITE NETO
DE PARIS

O premiê britânico, Tony Blair, fracassou ontem em sua tentativa de convencer o presidente francês, Jacques Chirac, da necessidade de a França apoiar uma ação militar o mais rápido possível para desarmar o Iraque.
"Temos de deixar os inspetores [da ONU] realizarem seu trabalho", afirmou Chirac numa conferência de imprensa após uma reunião de cúpula com Blair, realizada ontem em Le Touquet, cidade litorânea no norte da França.
Principal aliado dos EUA na Europa, Blair quer que o Conselho de Segurança (CS) da ONU aprove rapidamente uma nova resolução autorizando um ataque contra o Iraque.
Segundo afirmou o premiê anteontem, oito semanas já se passaram desde que o CS deu um ultimato ao ditador iraquiano, Saddam Hussein, e há provas inequívocas de que o Iraque não está cooperando com as inspeções de desarmamento, iniciadas no final de novembro. Para Blair, a ONU se tornará "impotente" se não agir para desarmar o Iraque.
Chirac, no entanto, tem sido uma das principais vozes de oposição ao uso da força militar agora. Como a França tem assento permanente e direito a veto no CS da ONU, qualquer nova resolução depende necessariamente de um acordo com o presidente francês.
Por enquanto, Chirac tem mantido sua posição de que as inspeções devem continuar, mas não estabeleceu um prazo definido para que elas sejam concluídas: "A guerra é sempre a pior das soluções. Nós escolhemos uma estratégia, a das inspeções. Devemos deixar [os inspetores] livres nos prazos de que eles necessitam. São eles [os chefes dos inspetores] que tem de decidir".
Ele disse que a comunidade internacional não poderia julgar a situação antes de ter acesso às conclusões do relatório do sueco Hans Blix, chefe dos inspetores da ONU no Iraque, e de Mohamed El Baradei, diretor da Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA). O relatório será apresentado ao CS da ONU neste mês.
Chirac não descartou, no entanto, a possibilidade de seu país participar de uma ação militar. "Ainda estamos longe disso... Muito deve ser feito no caminho do desarmamento por meios pacíficos", disse Chirac.
Ele se negou a dizer se pretende vetar uma nova resolução autorizando um ataque ao Iraque. Em outras oportunidades, o governo francês chegou a ameaçar com um veto, o que provocaria um racha inédito no CS da ONU.
Apesar de deixar clara sua divergência, Chirac também tentou relativizar o embate com seu colega britânico: "Nossas posições são diferentes, mas menos do que parecem." Segundo ele, França e Reino Unido concordam em "duas convicções essenciais": que é preciso desarmar o Iraque e que toda ação deve ser conduzida no âmbito do CS da ONU.
A cúpula representa um sinal de ambos os países de que estão dispostos a enfrentar as suas divergências, que não têm sido poucas e podem colocar em risco o andamento da unificação européia.
No mês passado, a França e a Alemanha firmaram um pacto de colaboração e defenderam planos comuns, o que foi interpretado em alguns países como uma tentativa de assegurar a hegemonia franco-alemã sobre a futura ampliação da União Européia.
Também no mês passado, oito países europeus, liderados pelo Reino Unido, assinaram uma carta afirmando sua unidade de apoio aos EUA em relação ao Iraque. Nem a França nem a Alemanha foram convidadas a assinar o documento, firmado também por Portugal, Espanha, Itália, Dinamarca, República Tcheca, Hungria e Polônia.

Com agências internacionais


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