São Paulo, quinta-feira, 05 de fevereiro de 2004

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ANÁLISE

Edwards dá alento à disputa

TODD S. PURDUM
DO "NEW YORK TIMES"

John Edwards manteve viva a disputa pela indicação do Partido Democrata anteontem ao vencer em seu Estado natal (Carolina do Sul) e assim garantir para si -e talvez para Howard Dean- uma última chance de forçar John Kerry a uma grande luta, entre dois ou três competidores, por delegados nas várias primárias que vão dominar o próximo mês.
Não vai ser fácil. Pela terceira vez consecutiva, Kerry saiu-se muito melhor do que seus rivais, conquistando vitórias mais significativas no Missouri, um Estado que será decisivo em novembro, e no Arizona, onde teve um forte desempenho entre os latinos -um eleitorado importante. Nos tempos modernos, nenhum candidato venceu tantos testes iniciais e perdeu a indicação.
Edwards, e em grau menor Dean e o general da reserva Wesley Clark, tem cada vez menos chances para se apresentar como alternativa não apenas viável como também superior a Kerry.
O general Clark, que tinha esperanças de ir bem na Carolina do Sul, chegou em quarto lá. Mas conseguiu quase o mesmo número de delegados em Oklahoma que Edwards e assim pode, também, afirmar que tem apoio suficiente para continuar lutando.
Agora que a corrida entrou na fase nacional, todos os candidatos, incluindo Kerry, se defrontam com desafios distintos.
Os melhores desempenhos de Edwards aconteceram em Iowa e Carolina do Sul, onde gastou meses e dinheiro para se apresentar aos eleitores e conquistá-los com sua incansável mensagem otimista. Mas até agora ele evitou grandes Estados que decidem o resultado das eleições presidenciais -Missouri anteontem e Michigan nesta semana. Embora tenha prometido combater em Michigan, Edwards deposita suas esperanças no Tennessee e na Virgínia, na próxima terça-feira.
Para ameaçar seriamente Kerry, Edwards precisará se mover com mais rapidez e decisão para se distinguir como o novo rosto, e também como alguém qualificado para a Presidência. Ele já começou a tentar, com ataques aos longos anos de Kerry em Washington e às contribuições que este recebeu de lobistas. Mas falta a Edwards dinheiro -e tempo.
A Dean, cujos esforços iniciais para construir uma aura de invencibilidade desmoronaram de tal forma que decidiu não entrar com tudo nas disputas de anteontem, a única esperança é explorar o estado indefinido da disputa e lutar em lugares como Wisconsin, em 17 de fevereiro, e Nova York e Califórnia, em 2 de março.
Para Kerry, mais do que nunca o favorito inquestionável, o desafio é evitar choques diretos com adversários que irão escolhê-lo como o único alvo e que poderão ganhar delegados à convenção mesmo sem vencer prévias -somando representantes aqui e ali, de forma proporcional às votações que obtiverem. Kerry precisa fazer com que sua conquista da candidatura do partido pareça inevitável, sem ao mesmo tempo alienar os democratas dando a impressão de reivindicar seu direito à vaga antes que eleitores de Estados grandes e importantes dêem seus votos.
No ano passado, Kerry mostrou exercer maior apelo como um azarão do que na posição de todo-poderoso. Nesta semana, ele já pareceu um tanto nervoso e irritado em relação a Edwards, afirmando para um canal de TV que seu rival não tem a experiência necessária para liderar a nação em tempos conturbados. Ainda disse a assessores que Edwards não conseguirá vencer em seu próprio Estado (Carolina do Norte), e muito menos em todo o sul.
De sua parte, Edwards quer realçar o contraste de sua origem humilde em relação à procedência aristocrática de Kerry e do presidente George W. Bush. Com seus modos de advogado de tribunal e o talento no palanque, Edwards pode se tornar um grande desafio populista ao jeito contido e menos emocional de Kerry.
Mas Kerry mais uma vez exibiu muita força em todos os grupos demográficos cruciais da base democrata: mulheres, idosos, sindicatos, negros e latinos. Anteontem, novamente os eleitores declararam ver nele o candidato mais capaz de desafiar Bush.


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