São Paulo, quinta-feira, 05 de fevereiro de 2004

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ELEIÇÃO

Líder supremo do Irã intervém na crise política

MÁRCIO SENNE DE MORAES
DA REDAÇÃO

O líder supremo do Irã, o aiatolá Ali Khamenei, ordenou ontem que a decisão do Conselho de Guardiães de manter o veto à candidatura de mais de 2.000 reformistas à eleição legislativa de 20 de fevereiro fosse reavaliada, segundo um porta-voz do governo.
Khamenei também afirmou que a eleição não seria adiada. No último domingo, 120 deputados reformistas apresentaram sua renúncia e afirmaram que só voltariam atrás se a decisão do Conselho de Guardiães, órgão que zela pelo respeito da Constituição no Irã -cujos 12 membros foram apontados por Khamenei-, fosse revogada e a eleição, adiada.
Foi a segunda vez em que Khamenei teve de intervir para evitar o agravamento da crise política. De acordo com a pesquisadora Shireen Hunter, autora de "Iran and the World: Continuity in a Revolutionary Decade" (Irã e o mundo: continuidade em uma década revolucionária), o líder supremo iraniano tenta impedir que o pleito legislativo sofra uma crise de legitimidade, com baixo comparecimento às urnas.
"A linha dura convive com um Parlamento controlado pelos liberais desde 2000. Khamenei deve ter pensado que a situação ficaria ainda pior se houvesse um boicote às urnas. Mais grave do que ter reformistas à frente de um órgão sem muito poder é ver os jovens tomarem as ruas para exigir reformas", disse Hunter à Folha.
"Khamenei sabe que foram eles que levaram o aiatolá Khomeini ao poder, em 1979. É verdade que os estudantes ainda não demonstram grande interesse pela disputa atual, porém cerca de 60% da população tem menos de 30 anos. Ao compelir o Conselho de Guardiães a reavaliar sua decisão, Khamenei talvez busque evitar que a massa se engaje politicamente."
Para Hunter, todavia, "ainda é necessário aguardar a decisão final do órgão". "Os 12 membros do Conselho de Guardiães [clérigos e juristas conservadores] poderão levantar todos os vetos menos aqueles que incidem sobre os líderes do movimento reformista. Se isso ocorrer, sua intenção será dividir a oposição", analisou.
Outro ponto importante, ainda de acordo com a diretora do programa sobre o islã do Centro para Estudos Estratégicos e Internacionais (EUA), foi a reunião ocorrida anteontem entre Khamenei e o presidente do Irã, o reformista Mohammad Khatami.
"Khatami vem perdendo sua influência sobre seus colegas liberais, que não mais acreditam que ele possa convencer a linha dura a abrir o regime, porém ainda é importante. Ademais, ele é um moderado, e Khamenei sabe que é mais fácil negociar com ele do que com outros líderes reformistas, que são mais radicais", avaliou.
Os liberais aprovaram a intervenção de Khamenei. Contudo eles salientaram que aguardariam a decisão final do Conselho de Guardiães. Como a eleição está marcada para 20 de fevereiro próximo, a ala reformista, que promete manter-se unida, não terá muito tempo para organizar sua campanha eleitoral.


Com agências internacionais


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