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ELEIÇÃO
Líder supremo do Irã intervém na crise política
MÁRCIO SENNE DE MORAES
DA REDAÇÃO
O líder supremo do Irã, o aiatolá
Ali Khamenei, ordenou ontem
que a decisão do Conselho de
Guardiães de manter o veto à candidatura de mais de 2.000 reformistas à eleição legislativa de 20
de fevereiro fosse reavaliada, segundo um porta-voz do governo.
Khamenei também afirmou
que a eleição não seria adiada. No
último domingo, 120 deputados
reformistas apresentaram sua renúncia e afirmaram que só voltariam atrás se a decisão do Conselho de Guardiães, órgão que zela
pelo respeito da Constituição no
Irã -cujos 12 membros foram
apontados por Khamenei-, fosse revogada e a eleição, adiada.
Foi a segunda vez em que Khamenei teve de intervir para evitar
o agravamento da crise política.
De acordo com a pesquisadora
Shireen Hunter, autora de "Iran
and the World: Continuity in a
Revolutionary Decade" (Irã e o
mundo: continuidade em uma
década revolucionária), o líder
supremo iraniano tenta impedir
que o pleito legislativo sofra uma
crise de legitimidade, com baixo
comparecimento às urnas.
"A linha dura convive com um
Parlamento controlado pelos liberais desde 2000. Khamenei deve ter pensado que a situação ficaria ainda pior se houvesse um boicote às urnas. Mais grave do que
ter reformistas à frente de um órgão sem muito poder é ver os jovens tomarem as ruas para exigir
reformas", disse Hunter à Folha.
"Khamenei sabe que foram eles
que levaram o aiatolá Khomeini
ao poder, em 1979. É verdade que
os estudantes ainda não demonstram grande interesse pela disputa atual, porém cerca de 60% da
população tem menos de 30 anos.
Ao compelir o Conselho de Guardiães a reavaliar sua decisão, Khamenei talvez busque evitar que a
massa se engaje politicamente."
Para Hunter, todavia, "ainda é
necessário aguardar a decisão final do órgão". "Os 12 membros
do Conselho de Guardiães [clérigos e juristas conservadores] poderão levantar todos os vetos menos aqueles que incidem sobre os
líderes do movimento reformista.
Se isso ocorrer, sua intenção será
dividir a oposição", analisou.
Outro ponto importante, ainda
de acordo com a diretora do programa sobre o islã do Centro para
Estudos Estratégicos e Internacionais (EUA), foi a reunião ocorrida anteontem entre Khamenei e
o presidente do Irã, o reformista
Mohammad Khatami.
"Khatami vem perdendo sua influência sobre seus colegas liberais, que não mais acreditam que
ele possa convencer a linha dura a
abrir o regime, porém ainda é importante. Ademais, ele é um moderado, e Khamenei sabe que é
mais fácil negociar com ele do que
com outros líderes reformistas,
que são mais radicais", avaliou.
Os liberais aprovaram a intervenção de Khamenei. Contudo
eles salientaram que aguardariam
a decisão final do Conselho de
Guardiães. Como a eleição está
marcada para 20 de fevereiro próximo, a ala reformista, que promete manter-se unida, não terá
muito tempo para organizar sua
campanha eleitoral.
Com agências internacionais
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