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ÁSIA
Hu Jintao deve ser eleito presidente para substituir Jiang Zemin, que conservará fatia do poder com controle das Forças Armadas
China completa hoje transição de poder
JAIME SPITZCOVSKY
FREE-LANCE PARA A FOLHA, EM PEQUIM
A China abre nesta quarta-feira
a sessão do seu Parlamento (Congresso Nacional do Povo) que terá
uma tarefa histórica: anunciar o
novo governo e completar a transição de poder iniciada no ano
passado. Hu Jintao, 60, que já carrega o manto de secretário-geral
do Partido Comunista, deverá obter a Presidência do país, hoje
ocupada por Jiang Zemin, 76, que
planeja manter fatia significativa
de influência.
A troca da guarda representa
uma mudança geracional e não de
curso político ou econômico no
país mais populoso do planeta. Os
novos governantes, no entanto,
chegam a Zhongnanhai (sede do
poder em Pequim) com uma formação universitária mais sofisticada do que seus antecessores e
com a imagem de "tecnocratas".
A sucessão, rigorosamente controlada pelo Partido Comunista,
significa que China vai manter a
alquimia de misturar o monopólio do poder nas estruturas partidárias com reformas pró-capitalismo, baseadas em estímulo à livre iniciativa e à captação de investimentos estrangeiros.
Na China de hoje, existe crescente ampliação de direitos individuais, como de consumir, de
adotar modas ocidentais ou de
viajar ao exterior. Mas não se pode, por exemplo, questionar o regime de partido único. A fórmula
transformou a China em dona de
uma vibrante economia. Apenas
em 2002, ela cresceu 8%, ritmo
mantido há quase duas décadas.
A ascensão de Hu sinaliza a chegada da "quarta geração de líderes
revolucionários", para emprestar
termos ainda usados pelo PC.
Jiang, no poder desde 1989, capitaneia a terceira geração. O emblema da primeira é Mao Tse-tung, que liderou a Revolução de
1949; e o da segunda, Deng Xiaoping, mago que, em 1978, decidiu
mesclar economia de mercado
com regime de partido único.
Na sessão desta semana, os parlamentares vão ratificar decisões
acertadas nos bastidores da hermética política local. Além de Hu
substituir Jiang na Presidência, o
primeiro-ministro Zhu Rongji
dará lugar a seu vice, Wen Jiabao.
Os integrantes da "quarta geração de líderes revolucionários"
são descritos como "tecnocratas"
com sólidos conhecimentos na
área econômica, em contraste
com a "terceira geração" composta por engenheiros que estudaram na extinta União Soviética.
Com formação em universidades
chinesas e em áreas como finanças e ciência da computação, os
"tecnocratas" vão manter as reformas econômicas em ritmo acelerado, descartando mudanças
políticas no futuro próximo.
Entre as várias alterações na cúpula dirigente, uma ganha destaque: Li Peng, presidente do Congresso Nacional do Povo, deverá
ser substituído pelo vice-premiê
Wu Bangguo. Li Peng é o último a
deixar o cenário político entre os
líderes da violenta repressão aos
protestos estudantis na praça Tiananmen (Paz Celestial), em Pequim, no ano de 1989.
Naquele ano, Jiang Zemin chegou ao poder trazido de Xangai,
onde era líder do PC. Deng Xiaoping, que morreu em 1997, escolheu Jiang justamente para colocar em Zhongnanhai uma liderança que não carregasse acusações de envolvimento direto com
a repressão em Tiananmen.
Jiang, tido inicialmente como
uma figura com frágil sustentação
política, se consolidou no poder
ao longo dos anos 90 e vai manter
influência ao conservar a chefia
da Comissão Estatal Militar, cargo
que acumulava com a secretaria-geral do PC e com a Presidência.
Embora não guardem diferenças ideológicas significativas,
Jiang e Hu não são considerados
"aliados incondicionais". O futuro presidente da China foi uma
escolha de Deng Xiaoping, que já
em 1992, acertou a sucessão de
Jiang Zemin. Ao manter o comando da Comissão Estatal Militar, Jiang garante o controle das
Forças Armadas. Hu Jintao ganha
as rédeas do partido e do governo,
mas sempre com a sombra do antecessor. Seu vice na Presidência
do país deverá ser Zeng Qinghong, braço direito de Jiang.
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