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São Paulo, quarta-feira, 05 de março de 2003

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ÁSIA

Hu Jintao deve ser eleito presidente para substituir Jiang Zemin, que conservará fatia do poder com controle das Forças Armadas

China completa hoje transição de poder

JAIME SPITZCOVSKY
FREE-LANCE PARA A FOLHA, EM PEQUIM

A China abre nesta quarta-feira a sessão do seu Parlamento (Congresso Nacional do Povo) que terá uma tarefa histórica: anunciar o novo governo e completar a transição de poder iniciada no ano passado. Hu Jintao, 60, que já carrega o manto de secretário-geral do Partido Comunista, deverá obter a Presidência do país, hoje ocupada por Jiang Zemin, 76, que planeja manter fatia significativa de influência.
A troca da guarda representa uma mudança geracional e não de curso político ou econômico no país mais populoso do planeta. Os novos governantes, no entanto, chegam a Zhongnanhai (sede do poder em Pequim) com uma formação universitária mais sofisticada do que seus antecessores e com a imagem de "tecnocratas".
A sucessão, rigorosamente controlada pelo Partido Comunista, significa que China vai manter a alquimia de misturar o monopólio do poder nas estruturas partidárias com reformas pró-capitalismo, baseadas em estímulo à livre iniciativa e à captação de investimentos estrangeiros.
Na China de hoje, existe crescente ampliação de direitos individuais, como de consumir, de adotar modas ocidentais ou de viajar ao exterior. Mas não se pode, por exemplo, questionar o regime de partido único. A fórmula transformou a China em dona de uma vibrante economia. Apenas em 2002, ela cresceu 8%, ritmo mantido há quase duas décadas.
A ascensão de Hu sinaliza a chegada da "quarta geração de líderes revolucionários", para emprestar termos ainda usados pelo PC. Jiang, no poder desde 1989, capitaneia a terceira geração. O emblema da primeira é Mao Tse-tung, que liderou a Revolução de 1949; e o da segunda, Deng Xiaoping, mago que, em 1978, decidiu mesclar economia de mercado com regime de partido único.
Na sessão desta semana, os parlamentares vão ratificar decisões acertadas nos bastidores da hermética política local. Além de Hu substituir Jiang na Presidência, o primeiro-ministro Zhu Rongji dará lugar a seu vice, Wen Jiabao.
Os integrantes da "quarta geração de líderes revolucionários" são descritos como "tecnocratas" com sólidos conhecimentos na área econômica, em contraste com a "terceira geração" composta por engenheiros que estudaram na extinta União Soviética. Com formação em universidades chinesas e em áreas como finanças e ciência da computação, os "tecnocratas" vão manter as reformas econômicas em ritmo acelerado, descartando mudanças políticas no futuro próximo.
Entre as várias alterações na cúpula dirigente, uma ganha destaque: Li Peng, presidente do Congresso Nacional do Povo, deverá ser substituído pelo vice-premiê Wu Bangguo. Li Peng é o último a deixar o cenário político entre os líderes da violenta repressão aos protestos estudantis na praça Tiananmen (Paz Celestial), em Pequim, no ano de 1989.
Naquele ano, Jiang Zemin chegou ao poder trazido de Xangai, onde era líder do PC. Deng Xiaoping, que morreu em 1997, escolheu Jiang justamente para colocar em Zhongnanhai uma liderança que não carregasse acusações de envolvimento direto com a repressão em Tiananmen.
Jiang, tido inicialmente como uma figura com frágil sustentação política, se consolidou no poder ao longo dos anos 90 e vai manter influência ao conservar a chefia da Comissão Estatal Militar, cargo que acumulava com a secretaria-geral do PC e com a Presidência.
Embora não guardem diferenças ideológicas significativas, Jiang e Hu não são considerados "aliados incondicionais". O futuro presidente da China foi uma escolha de Deng Xiaoping, que já em 1992, acertou a sucessão de Jiang Zemin. Ao manter o comando da Comissão Estatal Militar, Jiang garante o controle das Forças Armadas. Hu Jintao ganha as rédeas do partido e do governo, mas sempre com a sombra do antecessor. Seu vice na Presidência do país deverá ser Zeng Qinghong, braço direito de Jiang.


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