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Referendo é a saída, diz diplomata
CÍNTIA CARDOSO
DE NOVA YORK
O ex-embaixador da Venezuela
nas Nações Unidas, Milos Alcalay,
58, defende um referendo popular como a saída para superar a
atual crise política do seu país.
Para ele, diante dos obstáculos
impostos pelo governo de Hugo
Chávez para levar adiante esse
processo, a única opção era a renúncia. "Não posso ficar aqui nas
Nações Unidas na Comissão de
Direitos Humanos e dizer que
não há nada acontecendo na Venezuela. Não posso ficar aqui dizendo que a nossa democracia é
perfeita", disse. A declaração foi
feita na sede da ONU, em Nova
York, para um grupo de quatro
jornalistas. Leia, a seguir, entrevista concedida à Folha.
Folha - Por que o senhor decidiu
renunciar?
Milos Alcalay - Fiquei muito comovido com os últimos acontecimentos. Esses acontecimentos se
acumularam como uma bola de
neve e chegaram a um ponto sem
retorno. [A decisão] não foi repentina, mas foi profunda. Nunca
tivemos uma repressão tão impressionante como a que vemos
hoje. Não estou justificando a violência dos [manifestantes] violentos, mas certamente há mecanismos em todos os países do mundo para controlar manifestações.
Uma manifestação civil não pode
ser reprimida com tanques. O que
vai acontecer agora? Não sei. Mas
tenho princípios. Não posso ficar
aqui nas Nações Unidas na Comissão de Direitos Humanos e dizer que não há nada acontecendo
na Venezuela. Não posso ficar
aqui dizendo que a nossa democracia é perfeita.
Folha - O governo atual perdeu a
legitimidade?
Alcalay - [Hugo] Chávez é o presidente eleito da Venezuela, e sobre isso não há dúvida. Mas a
Constituição estabelece o referendo [para a revogação do mandato]. Se ele já ganhou tantos referendos, porque não enfrentar um
referendo de novo? Se ele tem a
maioria, como acho que ele possa
vir a ter, por que esperar? Se ele tiver a minoria, ele tem que obedecer às regras do jogo da democracia. Minha preocupação é que vejo muitas ações capciosas feitas
pelo Conselho Nacional Eleitoral.
Folha - Que papel a política externa do Brasil pode exercer?
Alcalay - O Brasil e a Venezuela
são países vizinhos. Têm muito a
construir juntos e devem continuar a construir essa relação. Mas
eu não acho que o presidente Lula
tenha a intenção de ir além das
suas possibilidades. Algumas pessoas da oposição na Venezuela
acham que todos os outros países
têm que correr e salvar a Venezuela. Isso é impossível. A Venezuela tem que ser salva pelos venezuelanos. Não podemos esperar que os Estados Unidos, a OEA
[Organização dos Estados Americanos] e outros intervenham. Temos que fazer o nosso próprio
trabalho. Temos que ser mestres
do nosso destino, mas podemos
acolher orientações dos vizinhos.
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