São Paulo, sexta-feira, 05 de março de 2004

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GUERRA SEM LIMITES

Único condenado pelo 11 de Setembro terá novo julgamento; Justiça alemã quer mais colaboração dos EUA

Alemanha anula julgamento de extremista

DA REDAÇÃO

A única pessoa até agora condenada pelos atentados do 11 de Setembro teve ontem o direito a um novo julgamento concedido pela Justiça alemã. Em fevereiro de 2003, Mounir el Motassadeq, 29, nascido no Marrocos, havia sido sentenciado na Alemanha a 15 anos de prisão após ter sido considerado culpado de conspirar para matar as cerca de 3.000 vítimas dos ataques terroristas de 2001.
Ele também foi considerado culpado de integrar a célula da rede Al Qaeda situada em Hamburgo, noroeste da Alemanha, da qual faziam parte três dos 19 seqüestradores dos aviões utilizados no 11 de Setembro.
Na apelação, Motassadeq argumentou não ter tido conhecimento prévio dos planos do 11 de Setembro. Disse apenas ter ajudado amigos muçulmanos que viviam no estrangeiro (na Alemanha).
Segundo seus advogados, novas provas -que serviram de base para inocentar, também na Alemanha, outro acusado pelo 11 de Setembro, Abdelghani Mzoudi- justificariam a anulação.
A absolvição de Mzoudi, ocorrida no mês passado, baseou-se numa informação, passada à Justiça alemã por investigadores do país, de que nem ele nem Motassadeq pertenceriam ao coração do grupo de terroristas de Hamburgo que sabia com antecedência dos planos para o 11 de Setembro.
A informação teria surgido durante o interrogatório, nos EUA, de um outro membro da célula de Hamburgo sob custódia americana. O governo americano não informou a Justiça alemã sobre o conteúdo desse interrogatório.
No mês passado, o procurador-geral da Alemanha, Kay Nehm, criticou os EUA por não repassarem à Justiça alemã mais informações de inteligência que poderiam garantir a condenação de suspeitos de participação no 11 de Setembro. Ontem, o juiz da Suprema Corte alemã Klaus Tolksdorf voltou a cobrar mais colaboração por parte dos EUA. Disse que um Estado não pode abandonar princípios de justiça, não importa quão grave seja o crime.
"A luta contra o terrorismo não pode ser uma guerra selvagem, sem controles", disse Tolksdorf.
O juiz afirmou que os tribunais alemães devem se precaver ao lidar com um país [os EUA] que tem interesse em obter condenações. "Há o risco de que testemunhas só sejam colocadas à disposição [dos tribunais alemães] de forma seletiva para influenciar o veredicto. Não podemos aceitar isso", afirmou.

Revés
A anulação do julgamento de Motassadeq deve ser recebida pelas autoridades dos EUA e da Alemanha como um significativo revés na chamada guerra contra o terrorismo. O ministro do Interior alemão, Otto Schily, lamentou a decisão. "Está bem claro que obstáculos mais altos foram estabelecidos para a acusação em casos de terrorismo", disse o promotor alemão Rolf Hannich.
A Embaixada dos EUA em Berlim não comentou a decisão. Também não houve reação imediata por parte da Casa Branca.
Familiares de vítimas do 11 de Setembro protestaram. "Tenho certeza de que Motassadeq é culpado", disse Stephen Push, cuja mulher, Lisa, morreu no avião jogado contra o Pentágono.
Os advogados de defesa de Motassadeq comemoraram a decisão e pedirão que o acusado aguarde o novo julgamento em liberdade.
A acusação havia pedido a condenação com base na amizade próxima entre Motassadeq e seis supostos planejadores dos atentados do 11 de Setembro.
Em 1996, ele foi testemunha no testamento de Mohamed Atta, suspeito de ser o líder da célula de Hamburgo e figura central no complô da Al Qaeda, liderada pelo saudita Osama bin Laden.
Motassadeq também transferiu dinheiro para um dos suspeitos de ter pilotado um dos quatro aviões seqüestrados pela Al Qaeda em 2001.
Até agora, os EUA não julgaram nenhum suspeito de participação nos atentados do 11 de Setembro.

Condenações nos EUA
Três americanos muçulmanos foram condenados ontem na Virgínia de conspirar para dar apoio ao terrorismo. Seifullah Chapman, Hammad Abdur-Raheem e Masoud Khan foram a julgamento pela acusação de fazerem batalhas de paintball nas matas do Estado como treinamento para ações de terror. A sentença só será anunciada em junho. Promotores disseram que os condenados faziam parte de uma rede terrorista da Virgínia. Até agora, seis membros do grupo já se declararam culpados de várias acusações.


Com agências internacionais

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