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ORIENTE MÉDIO
Al Assad deve anunciar hoje retirada "parcial" de suas tropas no Líbano, mas o presidente americano não aceita
Síria fala em sair; Bush cobra retirada "total"
DA REDAÇÃO
O ditador sírio, Bashar al Assad,
deverá anunciar hoje a retirada
"parcial" de suas tropas do Líbano, em decisão criticada e qualificada ontem pelo presidente George W. Bush de insuficiente.
"Quando os Estados Unidos e a
França falam em retirada, o que
queremos é uma retirada completa, e não pela metade", disse o presidente americano, em declarações durante visita a Nova Jersey.
Em entrevista ao "New York
Post", Bush especificou que os
militares sírios devem deixar o
país até maio, quando o Líbano
irá às urnas para eleger um novo
Parlamento. Bush se referiu aos 14
mil militares sírios e também aos
serviços secretos com os quais
Damasco exerce forte controle sobre a política do país vizinho.
Para Bush, a retirada integral é
"inegociável", já que seriam impensáveis eleições "razoáveis",
com a paralela presença naquele
país dos militares e dos serviços
de inteligência estrangeiros.
Mas o ditador Al Assad estaria
apenas disposto a acantonar suas
tropas no vale do Bekaa, junto à
fronteira síria, mas dentro do território do Líbano.
O conteúdo do discurso que o
ditador fará hoje foi antecipado
pelo ministro libanês da Defesa,
Abdul Murad, um aberto partidário da presença síria.
Murad evocou os Acordos de
Taif, de 1989, a partir dos quais a
Síria estacionou suas tropas no Líbano, como forma de pôr fim à
Guerra Civil, o que ao mesmo
tempo reduziu o Líbano à condição de mero protetorado.
Ontem, em Washington, o embaixador sírio nos EUA, Imad
Moustapha, disse que seu país se
retiraria do Líbano, mas afirmou
que não era possível para tanto fixar um cronograma.
A pressão sobre a Síria foi desencadeada pelo assassinato, em
14 de fevereiro, de Rafik Hariri,
premiê libanês por dois mandatos, adversário da presença síria
no Líbano e que transformaria a
questão em bandeira eleitoral da
oposição. Suspeita-se que os sírios tenham cometido o ataque.
Ocorreram em Beirute manifestações de rua de dimensões inéditas pelo fim da ocupação militar.
A população aparentemente não
temia mais desafiar a capacidade
de opressão das tropas estrangeiras. Seguiu-se a renúncia do premiê libanês, Omar Karami, também um partidário da Síria.
O ditador Bashar al Assad está
desde então cada vez mais isolado. Perdeu o apoio da Rússia e da
Arábia Saudita, em geral tolerantes para com seu regime. O Egito,
que tem bom diálogo com Damasco, igualmente pressiona para que Assad cumpra a resolução
do Conselho de Segurança da
ONU que, no ano passado, por
iniciativa dos EUA e da França,
exigiu a retirada das "tropas estrangeiras" do Líbano.
O Brasil se absteve quando do
voto da resolução e, embora não
seja um interlocutor de peso na
região, nega-se a somar forças
com a Europa e com os EUA.
Ainda ontem, o ministro britânico das Relações Exteriores, Jack
Straw, exortou Assad a deixar
imediatamente o Líbano, caso
não queira se tornar "um pária"
dentro da comunidade internacional. A palavra é bastante forte e
foi usada, no passado, para designar, por exemplo, o deposto regime do Taleban, no Afeganistão.
Para Straw, "os sírios têm uma
opção estratégica muito clara".
Caso retirem suas forças "de forma sensata e rápida, eles garantirão seu retorno à comunidade internacional. Caso contrário, serão
tratados como párias, não só pelo
Ocidente, mas também por boa
parte de seus vizinhos árabes".
Os partidários da Síria dentro
do Líbano acusam a oposição de
"querer internacionalizar a questão sírio-libanesa", segundo o deputado Bassem Yammut. Outro
deputado, Ghassan Mujeiber, disse que a oposição "quer definir
um programa de governo [o fim
do protetorado sírio] antes da formação de um novo gabinete".
Com agências internacionais
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