São Paulo, sábado, 05 de março de 2005

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ORIENTE MÉDIO

Al Assad deve anunciar hoje retirada "parcial" de suas tropas no Líbano, mas o presidente americano não aceita

Síria fala em sair; Bush cobra retirada "total"

DA REDAÇÃO

O ditador sírio, Bashar al Assad, deverá anunciar hoje a retirada "parcial" de suas tropas do Líbano, em decisão criticada e qualificada ontem pelo presidente George W. Bush de insuficiente.
"Quando os Estados Unidos e a França falam em retirada, o que queremos é uma retirada completa, e não pela metade", disse o presidente americano, em declarações durante visita a Nova Jersey.
Em entrevista ao "New York Post", Bush especificou que os militares sírios devem deixar o país até maio, quando o Líbano irá às urnas para eleger um novo Parlamento. Bush se referiu aos 14 mil militares sírios e também aos serviços secretos com os quais Damasco exerce forte controle sobre a política do país vizinho.
Para Bush, a retirada integral é "inegociável", já que seriam impensáveis eleições "razoáveis", com a paralela presença naquele país dos militares e dos serviços de inteligência estrangeiros.
Mas o ditador Al Assad estaria apenas disposto a acantonar suas tropas no vale do Bekaa, junto à fronteira síria, mas dentro do território do Líbano.
O conteúdo do discurso que o ditador fará hoje foi antecipado pelo ministro libanês da Defesa, Abdul Murad, um aberto partidário da presença síria.
Murad evocou os Acordos de Taif, de 1989, a partir dos quais a Síria estacionou suas tropas no Líbano, como forma de pôr fim à Guerra Civil, o que ao mesmo tempo reduziu o Líbano à condição de mero protetorado.
Ontem, em Washington, o embaixador sírio nos EUA, Imad Moustapha, disse que seu país se retiraria do Líbano, mas afirmou que não era possível para tanto fixar um cronograma.
A pressão sobre a Síria foi desencadeada pelo assassinato, em 14 de fevereiro, de Rafik Hariri, premiê libanês por dois mandatos, adversário da presença síria no Líbano e que transformaria a questão em bandeira eleitoral da oposição. Suspeita-se que os sírios tenham cometido o ataque.
Ocorreram em Beirute manifestações de rua de dimensões inéditas pelo fim da ocupação militar. A população aparentemente não temia mais desafiar a capacidade de opressão das tropas estrangeiras. Seguiu-se a renúncia do premiê libanês, Omar Karami, também um partidário da Síria.
O ditador Bashar al Assad está desde então cada vez mais isolado. Perdeu o apoio da Rússia e da Arábia Saudita, em geral tolerantes para com seu regime. O Egito, que tem bom diálogo com Damasco, igualmente pressiona para que Assad cumpra a resolução do Conselho de Segurança da ONU que, no ano passado, por iniciativa dos EUA e da França, exigiu a retirada das "tropas estrangeiras" do Líbano.
O Brasil se absteve quando do voto da resolução e, embora não seja um interlocutor de peso na região, nega-se a somar forças com a Europa e com os EUA.
Ainda ontem, o ministro britânico das Relações Exteriores, Jack Straw, exortou Assad a deixar imediatamente o Líbano, caso não queira se tornar "um pária" dentro da comunidade internacional. A palavra é bastante forte e foi usada, no passado, para designar, por exemplo, o deposto regime do Taleban, no Afeganistão.
Para Straw, "os sírios têm uma opção estratégica muito clara". Caso retirem suas forças "de forma sensata e rápida, eles garantirão seu retorno à comunidade internacional. Caso contrário, serão tratados como párias, não só pelo Ocidente, mas também por boa parte de seus vizinhos árabes".
Os partidários da Síria dentro do Líbano acusam a oposição de "querer internacionalizar a questão sírio-libanesa", segundo o deputado Bassem Yammut. Outro deputado, Ghassan Mujeiber, disse que a oposição "quer definir um programa de governo [o fim do protetorado sírio] antes da formação de um novo gabinete".


Com agências internacionais

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