São Paulo, domingo, 05 de março de 2006 |
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INFERNO ASTRAL Em baixa, presidente é satirizado até como viciado em cocaína Musicais "off-Broadway" fazem escárnio de Bush
LEILA SUWWAN DE NOVA YORK Luzes apagadas, uma voz anuncia: "Esta é uma peça polêmica. Se você acha que pode se ofender com o que vamos dizer sobre aquele macaco que ocupa a Casa Branca, pode se retirar agora". Assim começa um dos espetáculos "off-Broadway" de Nova York da safra artística que alveja o presidente George W. Bush com escracho e sátira em sua atual fase de baixa popularidade nos Estados Unidos -pesquisas recentes indicam desaprovação de 60%. Os musicais "Bush Wars" (guerras de Bush) e "Bush is Bad" (Bush é mau) são produções pequenas e partidárias, focadas na figura de um presidente bobalhão e sem escrúpulos, manipulado por republicanos e empresários em benefício dos ricos e das empresas petrolíferas. O destaque vai para o escárnio em "Bush Wars", com cena do vice-presidente Dick Cheney na cama com "Halli Burton" e "Shell-don", embalado por Viagra e subornos, e outra do presidente Bush batendo boca com o terrorista Osama bin Laden sobre segurança nacional numa rede de restaurantes, com auxílio das respectivas mães. Desde um jovem Bush cocainômano, vendendo a alma para o diabo, até sua aprendizagem na mentira pública sob tutela do assessor Karl Rove, nenhuma crítica do governo passa sem absurdo exagero. Por exemplo, seu conselheiro pessoal é Jesus Cristo, com quem lamenta: ambos temos o mesmo problema, nossos pais é que mandam... O presidente americano é sempre um caubói atrapalhado e alienado, balbuciando palavras inexistentes ou cochilando na mesa presidencial. As vítimas do furacão Katrina decidem ir para o Iraque, "onde está o dinheiro", a celebrada família cristã é um modelo de disfuncionalidade, e a Suprema Corte passa por uma "hitlerização". Já "Bush is Bad" é um musical ressentido. Começa com um canto de lamúria: "Como podem 59 milhões serem tão burros?", referência à manchete de um tablóide britânico sobre a reeleição de Bush, no já distante ano de 2004. Faz franca campanha por impeachment e ironiza a agenda conservadora política e a suposta manipulação da imprensa. O cardápio de piadas coincide com os pontos baixos da gestão Bush: o suposto envolvimento da Casa Branca no vazamento da identidade da agente secreta Valerie Plame, as falhas federais quando o furacão Katrina atingiu Nova Orleans, violações das liberdades civis em nome da guerra contra o terror etc. Iraque de lado Salva-se apenas a crescente insatisfação dos americanos com a presença no Iraque, ponto sensível no país, explorado por Bush como questão de patriotismo. Ainda assim, muito ao estilo do cineasta norte-americano Michael Moore no documentário "Fahrenheit - 11 de Setembro", é dado como fato que as guerras de Bush são movidas apenas pela sede confessa por petróleo e lucros para as indústrias de armamentos e reconstrução civil. Ambos os musicais celebram, ao fim, a liberdade de poder dizer tudo isso sobre Bush livremente. Texto Anterior: Artigo: Índia tem encontro marcado com desenvolvimento humano Próximo Texto: Eua: Republicano que aceitou propina vai para a cadeia Índice |
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