DA SUCURSAL DO RIO
DA AGÊNCIA FOLHA, EM SALVADOR

Se João Paulo 2º tornou-se popular com suas inúmeras viagens, a condição de peregrino não é garantia de um bom papado nem uma herança a ser obrigatoriamente seguida, disse o cardeal d. Eusébio Oscar Scheid, arcebispo do Rio de Janeiro. Ele embarcou ontem para o funeral do papa.
Indagado no saguão do aeroporto internacional do Rio se a peregrinação passou a ser uma nova característica dos papas, Scheid, respondeu: "Não é [uma característica] necessária, não."
Como exemplo, citou o maior reformista da história recente da igreja: "João 23 só viajou até Assis [Itália]. E, no entanto, foi um dos maiores papas porque foi ele que fez o Concílio Vaticano 2º".
Scheid é um dos quatro brasileiros que participarão do conclave -os outros são d. Cláudio Hummes, arcebispo metropolitano de São Paulo, dom Geraldo Majella Agnelo, presidente da CNBB (Conferência Nacional dos Bispos do Brasil), e d. José Freire Falcão, arcebispo emérito de Brasília, que está em Roma desde anteontem.
Sobre a eleição, Scheid, que votará pela primeira vez no colégio cardinalício, preferiu ser reservado, dizendo que evita discutir sucessão. Mas reconheceu que os europeus são mais bem representados, o que pode favorecê-los.
Em Salvador, d. Geraldo Majella Agnelo, 71, disse ontem que não está preparado para ser o sucessor de João Paulo 2º. "Não estou preparado, quem prepara é o Espírito Santo." Antes, o cardeal primaz do Brasil já havia descartado a possibilidade. "Minhas costas são bastante estreitas para muito peso", disse ele, que viajou ontem à noite para o Vaticano.
O cardeal d. Cláudio Hummes deve embarcar às 22h25 de hoje para Madri, de onde seguirá, na tarde de amanhã, para Roma.
Segundo a assessoria de d. Cláudio, ao chegar a Roma, ele vai diretamente para a Casa Santa Marta, onde os cardeais eleitores ficarão durante o conclave. (PEDRO SOARES E LUIZ FRANCISCO)