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repercussão
Para analistas, Ahmadinejad saiu ganhando
MARCELO NINIO
DA REDAÇÃO
O show montado pelo Irã
para a libertação dos militares britânicos rendeu pontos
para o seu presidente, Mahmoud Ahmadinejad, que
aproveitou a chance para aliviar a pressão internacional
que sofre por causa do polêmico programa nuclear do
país e das diatribes que costuma lançar contra Israel e
os Estados Unidos.
Para a maioria dos analistas, foi ele o maior beneficiado com o desfecho da crise.
"Ahmadinejad foi o grande
vencedor. Ele conseguiu comer o bolo e, ao mesmo tempo, deixá-lo inteiro: fulminou o Ocidente e também levou o crédito pela libertação
dos marinheiros", disse à Folha, por e-mail, o especialista
em Irã Gary Sick, que foi assessor de três governos americanos, de Gerald Ford
(1974-1977) a Ronald Reagan
(1981-1989).
Racha na aliança
Para o historiador iraniano Hamid Dabashi, a estratégia de Teerã foi rachar a
aliança anglo-americana no
Iraque. "Foi um triunfo de
relações públicas para Ahmadinejad, especialmente se
compararmos o tratamento
humano recebido pelos britânicos com as atrocidades
cometidas em Abu Ghraib,
Guantánamo e Bagram [prisões americanas]", disse Dabashi, professor da Universidade Columbia (EUA), por
telefone à Folha.
"Acho que isso pode ter
um impacto na opinião pública britânica e causar divisões entre Londres e Washington."
A imprensa britânica não
poupou críticas ao governo e
ao comando militar do país.
Em editorial publicado hoje,
o "Financial Times" acha difícil entender como patrulhas despreparadas operavam nas "águas mais perigosas do mundo".
O jornal classifica de "particularmente tola" a tentativa do governo de argumentar que as embarcações estavam no lado iraquiano "de
uma fronteira marítima que
não existe formalmente",
quando o melhor seria insistir que as patrulhas cumpriam resoluções do Conselho de Segurança da ONU.
Assim como o "Financial
Times", o "Guardian" também considera que a diplomacia saiu ganhando no episódio como a melhor forma
de lidar com a república islâmica. O incidente, diz o jornal londrino, "fortalece a posição dos diplomatas no interminável debate com a linha dura sobre o que fazer
com o Irã".
Gary Sick, o veterano especialista que era um dos
principais assessores da Casa Branca sobre o Irã durante a crise dos reféns na embaixada americana em Teerã, em 1979, discorda.
"A credibilidade do Irã na
comunidade internacional e
sua capacidade de angariar
apoio na ONU foi seriamente abalada", diz Sick. "Suspeito que foi o reconhecimento disso que levou o Irã a
terminar essa disputa o mais
rapidamente possível."
Fred Burton, analista da
agência americana de inteligência privada Stratfor, acha
que a intenção dos aiatolás
que controlam o regime de
Teerã foi justamente dar
uma demonstração de força.
"O Irã instigou o drama
pela mesma razão que manteve 52 americanos reféns
por 444 dias após a invasão
da Embaixada dos EUA por
estudantes radicais, em
1979", escreveu Burton. "Os
dois incidentes serviram para mostrar a força da linha
dura iraniana, não só para o
público iraniano mas também para o Ocidente e o resto do mundo."
O iraniano Dabashi, por
sua vez, vê mais diferenças
que semelhanças entre os
dois episódios, razão pela
qual também considera o Irã
vitorioso. "A percepção geral
parece ser que o Irã teve sua
integridade territorial violada, foi militarmente eficiente na resposta e teve um gesto de grandeza ao libertar os
militares. E não convém desprezar o poder que as percepções têm em política."
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