São Paulo, quinta-feira, 05 de abril de 2007

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Rússia e Síria foram intermediárias na soltura de militares

Síria tem afinidade com o Irã, e Moscou teme que os EUA invadam país islâmico e criem tensão em suas fronteiras

Moscou pediu a Teerã um "gesto humanitário"; Síria articulou para que aiatolá Khamenei aceitasse uma saída honrosa para a crise

DA REDAÇÃO

Embora sejam ainda desconhecidas peças fundamentais do quebra-cabeça diplomático que permitiu a libertação dos 15 militares britânicos, a Síria e a Rússia surgem como intermediários que, mesmo socorrendo Londres, não deixaram de atuar em causa própria.
O governo de Tony Blair, diz o "Financial Times", não sabia ao certo qual dos dirigentes do Irã era responsável pela captura ou defendia a radicalização internacional do episódio.
A Rússia, disse o vice-primeiro-ministro Alexander Losiukov, pediu de Teerã um "gesto humanitário" que diminuísse as tensões e favorecesse o diálogo, no momento em o país é objeto de sanções na ONU em razão de seu programa nuclear.
A Síria e o Irã se aproximaram com base na hostilidade dos EUA a seus regimes. Os sírios teriam aberto o caminho para que o líder supremo do regime islâmico, aiatolá Khamenei, recebesse um gesto de moderação de Londres como a vontade de solucionar a crise.
Ali Larijani, negociador nuclear do Irã e próximo de Khamenei, deu o passo seguinte. Telefonou ao assessor de política externa de Tony Blair, o diplomata Nigel Sheinwald, e sugeriu um roteiro apaziguador. Londres divulgou nas horas seguintes nota afirmando que "os dois lados" estavam empenhados numa solução.
Larijani deu então uma entrevista a uma emissora de TV britânica com o mesmo teor. Estavam desarmados os espíritos, e o resto foi o produto de novas conversas sírias e russas com os iranianos.

Acordo com moderados
Essas declarações apaziguadoras contrastavam com as manifestações de rua que pediam a execução dos marinheiros britânicos e que eram aparentemente orquestradas por setores do regime islâmico interessados em fazer da crise uma cortina de fumaça para ofuscar as sanções da ONU.
Dois ministros sírios, o da Informação, Mohsen Bilal, e o das Relações Exteriores, Walid al-Moallem, afirmaram ontem, sem dar detalhes, que participaram das negociações. Al-Moallem chegou a dar entrevista em que defendia "uma diplomacia silenciosa".

Raciocínio da Rússia
No caso da Rússia, há uma relação de proximidade e litígio com o Irã, onde os russos constroem a usina nuclear de Bushehr. Há duas semanas, Moscou anunciou a paralisação das obras, sob a alegação de que Teerã estava atrasando o pagamento combinado. Mas, segundo a agência russa Novosti, mais que os atrasados, Moscou procura obter garantias de que Teerã cumprirá sua promessa de devolver para depósitos russos o lixo atômico, do qual se pode extrair a matéria-prima para produzir a bomba.
Ao mesmo tempo, os russos, segundo outro texto da Novosti, tentam convencer os EUA a não atacar militarmente o Irã. Os serviços russos de inteligência teriam descoberto que a operação de ataque já tem até um nome, "mordida", e poderia ser proximamente desencadeada. Essa informação foi vazada de propósito por um militar russo de alto escalão. A intervenção degeneraria em conflito regional nas fronteiras da Rússia, o que Moscou quer evitar a qualquer custo.
É possível, diante disso, que a solução para a crise dos 15 marinheiros tenha sido para Moscou uma demonstração de que o Irã é flexível e sabe negociar, fato que não é facilmente compreendido pela administração Bush, e ainda um passo para aliviar as antigas tensões.


Com agências internacionais


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