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Rússia e Síria foram intermediárias na soltura de militares
Síria tem afinidade com o Irã, e Moscou teme que os EUA invadam país islâmico e criem tensão em suas fronteiras
Moscou pediu a Teerã um
"gesto humanitário"; Síria
articulou para que aiatolá
Khamenei aceitasse uma
saída honrosa para a crise
DA REDAÇÃO
Embora sejam ainda desconhecidas peças fundamentais
do quebra-cabeça diplomático
que permitiu a libertação dos
15 militares britânicos, a Síria e
a Rússia surgem como intermediários que, mesmo socorrendo Londres, não deixaram
de atuar em causa própria.
O governo de Tony Blair, diz
o "Financial Times", não sabia
ao certo qual dos dirigentes do
Irã era responsável pela captura ou defendia a radicalização
internacional do episódio.
A Rússia, disse o vice-primeiro-ministro Alexander Losiukov, pediu de Teerã um "gesto
humanitário" que diminuísse
as tensões e favorecesse o diálogo, no momento em o país é
objeto de sanções na ONU em
razão de seu programa nuclear.
A Síria e o Irã se aproximaram com base na hostilidade
dos EUA a seus regimes. Os sírios teriam aberto o caminho
para que o líder supremo do regime islâmico, aiatolá Khamenei, recebesse um gesto de moderação de Londres como a
vontade de solucionar a crise.
Ali Larijani, negociador nuclear do Irã e próximo de Khamenei, deu o passo seguinte.
Telefonou ao assessor de política externa de Tony Blair, o diplomata Nigel Sheinwald, e sugeriu um roteiro apaziguador.
Londres divulgou nas horas seguintes nota afirmando que "os
dois lados" estavam empenhados numa solução.
Larijani deu então uma entrevista a uma emissora de TV
britânica com o mesmo teor.
Estavam desarmados os espíritos, e o resto foi o produto de
novas conversas sírias e russas
com os iranianos.
Acordo com moderados
Essas declarações apaziguadoras contrastavam com as
manifestações de rua que pediam a execução dos marinheiros britânicos e que eram aparentemente orquestradas por
setores do regime islâmico interessados em fazer da crise
uma cortina de fumaça para
ofuscar as sanções da ONU.
Dois ministros sírios, o da Informação, Mohsen Bilal, e o das
Relações Exteriores, Walid al-Moallem, afirmaram ontem,
sem dar detalhes, que participaram das negociações. Al-Moallem chegou a dar entrevista em que defendia "uma diplomacia silenciosa".
Raciocínio da Rússia
No caso da Rússia, há uma relação de proximidade e litígio
com o Irã, onde os russos constroem a usina nuclear de Bushehr. Há duas semanas, Moscou anunciou a paralisação das
obras, sob a alegação de que
Teerã estava atrasando o pagamento combinado. Mas, segundo a agência russa Novosti,
mais que os atrasados, Moscou
procura obter garantias de que
Teerã cumprirá sua promessa
de devolver para depósitos russos o lixo atômico, do qual se
pode extrair a matéria-prima
para produzir a bomba.
Ao mesmo tempo, os russos,
segundo outro texto da Novosti, tentam convencer os EUA a
não atacar militarmente o Irã.
Os serviços russos de inteligência teriam descoberto que a
operação de ataque já tem até
um nome, "mordida", e poderia
ser proximamente desencadeada. Essa informação foi vazada de propósito por um militar russo de alto escalão. A intervenção degeneraria em conflito regional nas fronteiras da
Rússia, o que Moscou quer evitar a qualquer custo.
É possível, diante disso, que a
solução para a crise dos 15 marinheiros tenha sido para Moscou uma demonstração de que
o Irã é flexível e sabe negociar,
fato que não é facilmente compreendido pela administração
Bush, e ainda um passo para
aliviar as antigas tensões.
Com agências internacionais
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