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Expansão da Otan é ameaça, alerta Putin
Convidado russo pergunta para que serve a aliança militar ocidental, se o "império do mal" soviético não existe mais
Para presidente da Rússia, relações com bloco liderado pelos EUA devem ser mais transparentes; "vamos ser amigos, rapazes, e francos"
MARCELO NINIO
ENVIADO ESPECIAL A BUCARESTE
O presidente da Rússia, Vladimir Putin, afirmou ontem
que a expansão da Otan (Organização do Tratado do Atlântico Norte) para as fronteiras de
seu país será considerada "uma
ameaça direta". A advertência,
no último dia da cúpula de chefes de Estado da Otan, em Bucareste, serviu para ressaltar o
desconforto nas relações entre
a Rússia e a aliança militar liderada pelos EUA, apesar dos esforços para passar a imagem de
cordialidade.
Embora não seja membro da
aliança, a Rússia participa dos
conselhos e da cúpula da Otan
desde o fim da União Soviética,
em 1991. Putin era a presença
mais esperada da cúpula, sobretudo depois da campanha
feita pelo presidente americano, George W. Bush, para oferecer às ex-repúblicas soviéticas
Ucrânia e Geórgia o plano de
adesão à Otan.
Alemanha, França, Itália e
outros países europeus, no entanto, resistiram à pressão, o
que ajudou a distender o clima
da primeira e a última participação de Putin no encontro como presidente -ele deixa o cargo em maio.
Mas Bush ganhou o apoio da
Otan em outro projeto rejeitado pelos russos, a ampliação do
sistema de defesa antimísseis
americano para a Europa. Os
EUA pretendem instalar plataformas de lançamentos de mísseis na Polônia e estações de radar na República Tcheca.
Após reunir-se por 90 minutos com Bush e os outros 25 líderes da Otan, Putin descreveu
o encontro como "positivo",
mesmo depois de a aliança ter
afirmado que a adesão da Ucrânia e da Geórgia é só uma questão de tempo. Ninguém escondeu que as diferenças permanecem. "Não posso relatar um
grande avanço", reconheceu o
secretário-geral da Otan, Jaap
de Hoop Scheffer.
Diante da expectativa criada
nesta semana, alguns consideraram que o esforço para evitar
o confronto deve ser comemorado. "Tanto Bush como Putin
fizeram questão de dizer durante o encontro que não há
mais Guerra Fria, e que o mundo não voltará a ser dividido em
blocos ideológicos", disse o
chanceler espanhol, Miguel
Angel Moratinos.
Se não houve confronto, não
faltaram críticas de Putin aos
planos expansionistas da Otan.
"O surgimento de um poderoso
bloco militar em nossas fronteiras será considerado uma
ameaça direta à segurança da
Rússia", disse ele, em uma disputada entrevista coletiva.
A chanceler (primeira-ministra) da Alemanha, Angela
Merkel, principal opositora da
proposta de conceder o plano
de adesão a Ucrânia e Geórgia,
minimizou as tensões. "A Otan
não é contra ninguém, certamente não é contra a Rússia,
que é nossa parceira", disse.
Mas se ela não é contra a Rússia, questionou Putin, qual é o
inimigo da Otan? "Esta é uma
aliança criada para combater o
"império do mal" soviético, que
já não existe mais", disse o presidente russo, repetindo a definição que o presidente americano Ronald Reagan tornou famosa, no fim da Guerra Fria.
Ele pediu aos membros da Otan
mais transparência. "Vamos
ser amigos, rapazes, e ser francos e abertos."
Para o presidente russo, as
explicações de que a expansão
da Otan não é direcionada contra a Rússia não o convenceram. "A segurança nacional não
pode ser baseada em promessas", disse, rebatendo também
a tese de que a expansão levará
a democracia aos vizinhos da
Rússia. "A Otan não é um democratizador."
Mas houve sinais de cooperação. Putin elogiou a disposição
americana de ouvir as preocupações da Rússia com o sistema
antimísseis e disse que o assunto será discutido no encontro
que terá com Bush amanhã e
domingo, em seu país. Ele também assinou um acordo para
abrir uma rota terrestre na
Rússia para suprimentos não
militares à campanha da Otan
no Afeganistão.
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