São Paulo, sábado, 05 de abril de 2008

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Expansão da Otan é ameaça, alerta Putin

Convidado russo pergunta para que serve a aliança militar ocidental, se o "império do mal" soviético não existe mais

Para presidente da Rússia, relações com bloco liderado pelos EUA devem ser mais transparentes; "vamos ser amigos, rapazes, e francos"

MARCELO NINIO
ENVIADO ESPECIAL A BUCARESTE

O presidente da Rússia, Vladimir Putin, afirmou ontem que a expansão da Otan (Organização do Tratado do Atlântico Norte) para as fronteiras de seu país será considerada "uma ameaça direta". A advertência, no último dia da cúpula de chefes de Estado da Otan, em Bucareste, serviu para ressaltar o desconforto nas relações entre a Rússia e a aliança militar liderada pelos EUA, apesar dos esforços para passar a imagem de cordialidade.
Embora não seja membro da aliança, a Rússia participa dos conselhos e da cúpula da Otan desde o fim da União Soviética, em 1991. Putin era a presença mais esperada da cúpula, sobretudo depois da campanha feita pelo presidente americano, George W. Bush, para oferecer às ex-repúblicas soviéticas Ucrânia e Geórgia o plano de adesão à Otan.
Alemanha, França, Itália e outros países europeus, no entanto, resistiram à pressão, o que ajudou a distender o clima da primeira e a última participação de Putin no encontro como presidente -ele deixa o cargo em maio.
Mas Bush ganhou o apoio da Otan em outro projeto rejeitado pelos russos, a ampliação do sistema de defesa antimísseis americano para a Europa. Os EUA pretendem instalar plataformas de lançamentos de mísseis na Polônia e estações de radar na República Tcheca.
Após reunir-se por 90 minutos com Bush e os outros 25 líderes da Otan, Putin descreveu o encontro como "positivo", mesmo depois de a aliança ter afirmado que a adesão da Ucrânia e da Geórgia é só uma questão de tempo. Ninguém escondeu que as diferenças permanecem. "Não posso relatar um grande avanço", reconheceu o secretário-geral da Otan, Jaap de Hoop Scheffer.
Diante da expectativa criada nesta semana, alguns consideraram que o esforço para evitar o confronto deve ser comemorado. "Tanto Bush como Putin fizeram questão de dizer durante o encontro que não há mais Guerra Fria, e que o mundo não voltará a ser dividido em blocos ideológicos", disse o chanceler espanhol, Miguel Angel Moratinos.
Se não houve confronto, não faltaram críticas de Putin aos planos expansionistas da Otan. "O surgimento de um poderoso bloco militar em nossas fronteiras será considerado uma ameaça direta à segurança da Rússia", disse ele, em uma disputada entrevista coletiva.
A chanceler (primeira-ministra) da Alemanha, Angela Merkel, principal opositora da proposta de conceder o plano de adesão a Ucrânia e Geórgia, minimizou as tensões. "A Otan não é contra ninguém, certamente não é contra a Rússia, que é nossa parceira", disse.
Mas se ela não é contra a Rússia, questionou Putin, qual é o inimigo da Otan? "Esta é uma aliança criada para combater o "império do mal" soviético, que já não existe mais", disse o presidente russo, repetindo a definição que o presidente americano Ronald Reagan tornou famosa, no fim da Guerra Fria. Ele pediu aos membros da Otan mais transparência. "Vamos ser amigos, rapazes, e ser francos e abertos."
Para o presidente russo, as explicações de que a expansão da Otan não é direcionada contra a Rússia não o convenceram. "A segurança nacional não pode ser baseada em promessas", disse, rebatendo também a tese de que a expansão levará a democracia aos vizinhos da Rússia. "A Otan não é um democratizador."
Mas houve sinais de cooperação. Putin elogiou a disposição americana de ouvir as preocupações da Rússia com o sistema antimísseis e disse que o assunto será discutido no encontro que terá com Bush amanhã e domingo, em seu país. Ele também assinou um acordo para abrir uma rota terrestre na Rússia para suprimentos não militares à campanha da Otan no Afeganistão.


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