São Paulo, quinta-feira, 05 de maio de 2005

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MISSÃO NO CARIBE

Treino no Rio inclui simulação de conflito com "incendiários", que gritavam "fora daqui, o Haiti é nosso"

Tropa que irá ao Haiti enfrenta "saqueadores"

SERGIO TORRES
DA SUCURSAL DO RIO

Tropas do 57º Batalhão de Infantaria Motorizado do Exército, que vão substituir o atual contingente brasileiro no Haiti, começaram ontem de madrugada, no Rio, seu treinamento em área urbana. O realismo das simulações de enfrentamento com "saqueadores" e "incendiários" assustou pedestres e motoristas que passavam pelo locais onde os militares atuaram.
A simulação, acompanhada pela Folha, começou pouco depois das 4h, quando 90 militares armados com fuzis e pistolas cercaram o supermercado Casas Sendas em Magalhães Bastos (zona oeste), ameaçado de invasão por uma "turba", forma como eles se referiam ao grupo de 25 "saqueadores" que se aproximava.
O ataque dos "saqueadores" ocorreu às 6h20. Vestidos com bermudas e camisetas de malha -alguns traziam toucas do tipo ninja no rosto-, eles pularam a cerca do estacionamento do supermercado, jogaram sacos de água nos militares e gritavam ofensas e provocações.
Embora fosse uma simulação e os armamentos estivessem com munição de festim, o enfrentamento foi violento. Chegou a haver confronto corporal entre os militares e os "saqueadores". Em uma ocasião, um dos supervisores do treinamento teve que interferir porque o combate estava virando uma espécie de briga de rua.
O "ataque" surpreendeu as pessoas que aguardavam condução no ponto de ônibus em frente ao supermercado. Muitas correram apavoradas julgando que o confronto era real.
A pista da estrada General Canrobert da Costa foi tomada por militares e "saqueadores", que se engalfinhavam até no asfalto. Alguns caíram no chão, tal a violência empregada pelos grupos adversários.
Assustados com as cenas e a gritaria, alguns motoristas deram ré nos carros. Um Fiat Uno subiu na calçada na tentativa de escapar do que acreditava ser um combate entre o Exército e criminosos. Só desistiu de fugir depois de ser tranqüilizado por um supervisor.
O realismo das cenas deve ser creditado à atuação dos 25 "saqueadores", soldados do Centro de Avaliação do Adestramento do Exército, instalado na Vila Militar (Deodoro, zona oeste). A unidade é empregada sempre que o Exército treina situações em que há oponentes (inimigo é politicamente incorreto no Exército, disse um dos comandantes das simulações).
Os soldados voltaram a atuar no fim da manhã, em Realengo (zona norte). Eles formaram um grupo que incendiou um prédio abandonado e impedia a aproximação dos bombeiros para debelar o fogo. Mais uma vez, vestiam roupas normalmente usadas por jovens.
A simulação ocorreu no terreno de uma fábrica de munição desativada. Os prédios em ruínas e o mato alto ajudavam os "incendiários" a se esconder. Eles chegaram a apedrejar os militares. O soldado Emerson foi atingido no abdômen e caiu no chão. Só conseguiu levantar com o auxílio de companheiros. Um outro soldado teve a cabeça atingida por uma pedra.
Os "incendiários" gritavam frases alusivas ao Haiti: "Fora daqui. O Haiti é nosso" ou "Vai para o Haiti, seu bisonho" ou ainda "Saiam do meu país, desgraçados". Os exercícios foram acompanhado por oficiais incumbidos de avaliar as simulações. O resultado das avaliações será discutido pelos integrantes do comando do terceiro contingente das tropas brasileiras, que começarão a chegar ao Haiti nos primeiros dias de junho.


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