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MISSÃO NO CARIBE
Treino no Rio inclui simulação de conflito com "incendiários", que gritavam "fora daqui, o Haiti é nosso"
Tropa que irá ao Haiti enfrenta "saqueadores"
SERGIO TORRES
DA SUCURSAL DO RIO
Tropas do 57º Batalhão de Infantaria Motorizado do Exército,
que vão substituir o atual contingente brasileiro no Haiti, começaram ontem de madrugada, no
Rio, seu treinamento em área urbana. O realismo das simulações
de enfrentamento com "saqueadores" e "incendiários" assustou
pedestres e motoristas que passavam pelo locais onde os militares
atuaram.
A simulação, acompanhada pela Folha, começou pouco depois
das 4h, quando 90 militares armados com fuzis e pistolas cercaram
o supermercado Casas Sendas em
Magalhães Bastos (zona oeste),
ameaçado de invasão por uma
"turba", forma como eles se referiam ao grupo de 25 "saqueadores" que se aproximava.
O ataque dos "saqueadores"
ocorreu às 6h20. Vestidos com
bermudas e camisetas de malha
-alguns traziam toucas do tipo
ninja no rosto-, eles pularam a
cerca do estacionamento do supermercado, jogaram sacos de
água nos militares e gritavam
ofensas e provocações.
Embora fosse uma simulação e
os armamentos estivessem com
munição de festim, o enfrentamento foi violento. Chegou a haver confronto corporal entre os
militares e os "saqueadores". Em
uma ocasião, um dos supervisores do treinamento teve que interferir porque o combate estava virando uma espécie de briga de
rua.
O "ataque" surpreendeu as pessoas que aguardavam condução
no ponto de ônibus em frente ao
supermercado. Muitas correram
apavoradas julgando que o confronto era real.
A pista da estrada General Canrobert da Costa foi tomada por
militares e "saqueadores", que se
engalfinhavam até no asfalto. Alguns caíram no chão, tal a violência empregada pelos grupos adversários.
Assustados com as cenas e a gritaria, alguns motoristas deram ré
nos carros. Um Fiat Uno subiu na
calçada na tentativa de escapar do
que acreditava ser um combate
entre o Exército e criminosos. Só
desistiu de fugir depois de ser
tranqüilizado por um supervisor.
O realismo das cenas deve ser
creditado à atuação dos 25 "saqueadores", soldados do Centro
de Avaliação do Adestramento do
Exército, instalado na Vila Militar
(Deodoro, zona oeste). A unidade
é empregada sempre que o Exército treina situações em que há
oponentes (inimigo é politicamente incorreto no Exército, disse um dos comandantes das simulações).
Os soldados voltaram a atuar no
fim da manhã, em Realengo (zona norte). Eles formaram um grupo que incendiou um prédio
abandonado e impedia a aproximação dos bombeiros para debelar o fogo. Mais uma vez, vestiam
roupas normalmente usadas por
jovens.
A simulação ocorreu no terreno
de uma fábrica de munição desativada. Os prédios em ruínas e o
mato alto ajudavam os "incendiários" a se esconder. Eles chegaram
a apedrejar os militares. O soldado Emerson foi atingido no abdômen e caiu no chão. Só conseguiu
levantar com o auxílio de companheiros. Um outro soldado teve a
cabeça atingida por uma pedra.
Os "incendiários" gritavam frases alusivas ao Haiti: "Fora daqui.
O Haiti é nosso" ou "Vai para o
Haiti, seu bisonho" ou ainda
"Saiam do meu país, desgraçados". Os exercícios foram acompanhado por oficiais incumbidos
de avaliar as simulações. O resultado das avaliações será discutido
pelos integrantes do comando do
terceiro contingente das tropas
brasileiras, que começarão a chegar ao Haiti nos primeiros dias de
junho.
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