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Confusão da ONU marca a primeira missão
RICARDO BONALUME NETO
ENVIADO ESPECIAL AO RIO
Burocracia e confusão por
parte das Nações Unidas atrapalharam o cumprimento da
missão de paz no Haiti pelas
tropas brasileiras que ali primeiro chegaram. Entre outros
contratempos, a ONU fez a brigada brasileira mudar seu
quartel-general três vezes em
seis meses -e não cumpriu a
promessa de fornecer alojamentos de alvenaria para a tropa em todo este período.
As tropas também foram
desdobradas em setes locais diferentes e, pela demora na chegada do resto do contingente
da força de paz, os brasileiros
tiveram de cumprir um número de missões bem acima do esperado. E houve demora para
ressarcir os brasileiros de gastos feitos que seriam de responsabilidade da ONU.
Os fatos constam de uma palestra do primeiro comandante
da brigada brasileira de força
de paz, general-de-brigada
Américo Salvador de Oliveira,
no último dia da feira de defesa
LAAD (Latin America Aero &
Defence), realizada de 26 a 29 e
abril no Rio. O tema da palestra
era o papel da logística da força
de paz. O primeiro contingente
esteve no Haiti de 29 de maio a
17 de dezembro de 2004.
"Em compensação", diz o general, ironicamente, a ONU
forneceu contêineres para o
"rancho" (alimentação) da tropa -que vieram sem manuais
e levaram cerca de um mês para serem montados.
A ação das tropas de paz também foi prejudicada pela missão civil da ONU ter demorado
em fazer obras de infra-estrutura e ações sociais. O problema continua até hoje.
Um oficial chileno da força de
paz, o capitán-de-navío (equivalente a capitão-de-mar-e-guerra) chileno Carlos Zavalla
Ortiz, fez comentários semelhantes. Para o chileno, a missão precisa "mudar seu eixo" e
dar mais destaque a ações político-sociais.
O general brasileiro comentou também que é necessário
uma maior padronização do
equipamento enviado para facilitar a operação e manutenção. Além de veículos diferentes, os fuzileiros navais enviados utilizam armamento diferente. Os soldados do Exército
são equipados com o fuzil FAL,
de calibre 7,62 mm, e os fuzileiros empregam o M-16, de calibre 5,56 mm. O consumo de
munição não foi alto -1.425
cartuchos de 7,62 mm e 238 do
calibre menor.
Mesmo as rações de combate
eram de três tipos diferentes.
"A ração da Marinha para almoço e jantar era melhor, mas
o café do Exército era melhor",
brincou o general Salvador.
Com maior padronização entre as três forças, os gastos com
equipamento e material tendem a ser menores.
Os problemas de infra-estrutura são tão gritantes no Haiti
que o Exército decidiu enviar
mais tropa de engenharia no
lugar de infantes. O terceiro
contingente vai ter um reforço
de 150 homens de engenharia.
Os principais problemas médicos encontrados foram distúrbios gástricos e dermatoses,
mas houve seis casos de malária.
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