São Paulo, quinta-feira, 05 de maio de 2005

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Confusão da ONU marca a primeira missão

RICARDO BONALUME NETO
ENVIADO ESPECIAL AO RIO

Burocracia e confusão por parte das Nações Unidas atrapalharam o cumprimento da missão de paz no Haiti pelas tropas brasileiras que ali primeiro chegaram. Entre outros contratempos, a ONU fez a brigada brasileira mudar seu quartel-general três vezes em seis meses -e não cumpriu a promessa de fornecer alojamentos de alvenaria para a tropa em todo este período.
As tropas também foram desdobradas em setes locais diferentes e, pela demora na chegada do resto do contingente da força de paz, os brasileiros tiveram de cumprir um número de missões bem acima do esperado. E houve demora para ressarcir os brasileiros de gastos feitos que seriam de responsabilidade da ONU.
Os fatos constam de uma palestra do primeiro comandante da brigada brasileira de força de paz, general-de-brigada Américo Salvador de Oliveira, no último dia da feira de defesa LAAD (Latin America Aero & Defence), realizada de 26 a 29 e abril no Rio. O tema da palestra era o papel da logística da força de paz. O primeiro contingente esteve no Haiti de 29 de maio a 17 de dezembro de 2004.
"Em compensação", diz o general, ironicamente, a ONU forneceu contêineres para o "rancho" (alimentação) da tropa -que vieram sem manuais e levaram cerca de um mês para serem montados.
A ação das tropas de paz também foi prejudicada pela missão civil da ONU ter demorado em fazer obras de infra-estrutura e ações sociais. O problema continua até hoje.
Um oficial chileno da força de paz, o capitán-de-navío (equivalente a capitão-de-mar-e-guerra) chileno Carlos Zavalla Ortiz, fez comentários semelhantes. Para o chileno, a missão precisa "mudar seu eixo" e dar mais destaque a ações político-sociais.
O general brasileiro comentou também que é necessário uma maior padronização do equipamento enviado para facilitar a operação e manutenção. Além de veículos diferentes, os fuzileiros navais enviados utilizam armamento diferente. Os soldados do Exército são equipados com o fuzil FAL, de calibre 7,62 mm, e os fuzileiros empregam o M-16, de calibre 5,56 mm. O consumo de munição não foi alto -1.425 cartuchos de 7,62 mm e 238 do calibre menor.
Mesmo as rações de combate eram de três tipos diferentes. "A ração da Marinha para almoço e jantar era melhor, mas o café do Exército era melhor", brincou o general Salvador.
Com maior padronização entre as três forças, os gastos com equipamento e material tendem a ser menores.
Os problemas de infra-estrutura são tão gritantes no Haiti que o Exército decidiu enviar mais tropa de engenharia no lugar de infantes. O terceiro contingente vai ter um reforço de 150 homens de engenharia.
Os principais problemas médicos encontrados foram distúrbios gástricos e dermatoses, mas houve seis casos de malária.


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