São Paulo, terça-feira, 05 de maio de 2009

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Presidente afegão escolhe vice suspeito de violações

Fahim, ex-líder da Aliança do Norte, fora descartado em 2004 por pressão ocidental

Karzai chega hoje aos EUA, que evitaram criticar o vice, ex-aliado contra o Taleban; chapa inclui minorias e busca dividir frágil oposição

DA REDAÇÃO

O presidente afegão, Hamid Karzai, desafiou a pressão internacional e nomeou Mohammed Qasim Fahim, um ex-comandante da Aliança do Norte suspeito de violações humanitárias, seu vice na disputa por um segundo mandato.
"É um terrível retrocesso", criticou Brad Adams, diretor da Human Rights Watch na Ásia. "Fahim é um dos mais notórios senhores da guerra do país, tem nas mãos sangue afegão. Muitos afegãos acreditam que ainda esteja envolvido com atividades ilegais, como armar e liderar milícias, além de acobertar criminosos e traficantes."
A nomeação de Fahim, que atuou como ministro da Defesa e vice-presidente no governo provisório instaurado após a invasão ocidental de 2001, tinha sido descartada nas eleições de 2004 por causa da resistência estrangeira.
Criticada nos bastidores por diplomatas ocidentais, a escolha foi recebida em silêncio pelos EUA. A Casa Branca, que várias vezes criticou a corrupção no governo aliado em Cabul, evitou polemizar na véspera da visita do presidente afegão.
"A eleição é uma oportunidade para o Afeganistão avançar com líderes que fortaleçam a unidade nacional", afirmou em nota a Casa Branca, que preferiu não comentar candidaturas individuais.
Detestado pelo Taleban, Fahim pode ser um obstáculo ao plano americano de estabilização. Além do aumento de tropas, a estratégia da Casa Branca defende a inclusão no processo político do chamado setor "moderado" do Taleban, mais focado em demandas locais do que na insurgência islâmica global.

Atentados
O aceno aos setores regionalistas do Taleban é uma guinada pragmática, endossada pelos parceiros americanos na Otan (aliança militar ocidental). As tropas estrangeiras, que derrubaram com facilidade o regime radical do Taleban após o 11 de Setembro, vêm sendo incapazes de conter a insurgência.
Três atentados mataram ontem 24 pessoas no Afeganistão, assolado por ataques terroristas. O avanço dos radicais islâmicos é o principal tema do encontro trilateral entre o presidente americano, Barack Obama, o paquistanês, Asif Ali Zardari, e Karzai, que viajou ontem para Washington, horas após registrar sua candidatura.
A insegurança levou ao adiamento do pleito, agora marcado para 20 de agosto, mais de três meses após o prazo constitucional. O mandato de Karzai, que terminaria no próximo dia 21, foi prolongado pela Justiça para permitir o ajuste do calendário eleitoral.

Equilíbrio de tensões
O Afeganistão tem dois vice-presidentes, e as escolhas buscam mitigar divisões étnicas. Além de Fahim, de etnia tadjique, a chapa governista terá o hazara Karim Khalili, mantido como segundo vice de Karzai.
Karzai é pashtun, grupo ao qual pertencem mais de 40% dos afegãos. Os votos pashtuns são fundamentais para qualquer governo, mas insuficientes para garantir a vitória e impedir rachas sectários.
Além de acenar aos tadjiques, o segundo maior grupo étnico afegão, a escolha de Fahim acirra as divisões na oposição. A Frente Unida, bloco heterogêneo que reuniu em 2007 facções descontentes com o governo, não lançou ainda candidatura unificada contra Karzai.
Mesmo preterido nas eleições em 2004, o antigo senhor da guerra manteve influência no governo. Os chefes das antigas milícias da Aliança do Norte, que apoiou os EUA contra o regime do Taleban, são a principal base de Karzai.
O prazo para a inscrição de chapas acaba na sexta. É improvável, porém, que Karzai enfrente um opositor de peso, enquanto tiver o apoio ocidental.
O sistema político do Afeganistão, devastado por conflitos civis desde a década de 1970, baseia-se em instáveis alianças de chefes locais. O endosso militar estrangeiro e o controle dos recursos internacionais destinados ao país fomentam a capacidade de Karzai de atrair aliados, apesar da impopularidade do governo.


Com agências internacionais

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