|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Presidente afegão escolhe vice suspeito de violações
Fahim, ex-líder da Aliança do Norte, fora descartado em 2004 por pressão ocidental
Karzai chega hoje aos EUA, que evitaram criticar o vice, ex-aliado contra o Taleban; chapa inclui minorias e busca dividir frágil oposição
DA REDAÇÃO
O presidente afegão, Hamid
Karzai, desafiou a pressão internacional e nomeou Mohammed Qasim Fahim, um ex-comandante da Aliança do Norte
suspeito de violações humanitárias, seu vice na disputa por
um segundo mandato.
"É um terrível retrocesso",
criticou Brad Adams, diretor da
Human Rights Watch na Ásia.
"Fahim é um dos mais notórios
senhores da guerra do país, tem
nas mãos sangue afegão. Muitos afegãos acreditam que ainda esteja envolvido com atividades ilegais, como armar e liderar milícias, além de acobertar criminosos e traficantes."
A nomeação de Fahim, que
atuou como ministro da Defesa
e vice-presidente no governo
provisório instaurado após a
invasão ocidental de 2001, tinha sido descartada nas eleições de 2004 por causa da resistência estrangeira.
Criticada nos bastidores por
diplomatas ocidentais, a escolha foi recebida em silêncio pelos EUA. A Casa Branca, que várias vezes criticou a corrupção
no governo aliado em Cabul,
evitou polemizar na véspera da
visita do presidente afegão.
"A eleição é uma oportunidade para o Afeganistão avançar
com líderes que fortaleçam a
unidade nacional", afirmou em
nota a Casa Branca, que preferiu não comentar candidaturas
individuais.
Detestado pelo Taleban, Fahim pode ser um obstáculo ao
plano americano de estabilização. Além do aumento de tropas, a estratégia da Casa Branca
defende a inclusão no processo
político do chamado setor "moderado" do Taleban, mais focado em demandas locais do que
na insurgência islâmica global.
Atentados
O aceno aos setores regionalistas do Taleban é uma guinada pragmática, endossada pelos
parceiros americanos na Otan
(aliança militar ocidental). As
tropas estrangeiras, que derrubaram com facilidade o regime
radical do Taleban após o 11 de
Setembro, vêm sendo incapazes de conter a insurgência.
Três atentados mataram ontem 24 pessoas no Afeganistão,
assolado por ataques terroristas. O avanço dos radicais islâmicos é o principal tema do encontro trilateral entre o presidente americano, Barack Obama, o paquistanês, Asif Ali Zardari, e Karzai, que viajou ontem
para Washington, horas após
registrar sua candidatura.
A insegurança levou ao adiamento do pleito, agora marcado para 20 de agosto, mais de
três meses após o prazo constitucional. O mandato de Karzai,
que terminaria no próximo dia
21, foi prolongado pela Justiça
para permitir o ajuste do calendário eleitoral.
Equilíbrio de tensões
O Afeganistão tem dois vice-presidentes, e as escolhas buscam mitigar divisões étnicas.
Além de Fahim, de etnia tadjique, a chapa governista terá o
hazara Karim Khalili, mantido
como segundo vice de Karzai.
Karzai é pashtun, grupo ao
qual pertencem mais de 40%
dos afegãos. Os votos pashtuns
são fundamentais para qualquer governo, mas insuficientes para garantir a vitória e impedir rachas sectários.
Além de acenar aos tadjiques,
o segundo maior grupo étnico
afegão, a escolha de Fahim acirra as divisões na oposição. A
Frente Unida, bloco heterogêneo que reuniu em 2007 facções descontentes com o governo, não lançou ainda candidatura unificada contra Karzai.
Mesmo preterido nas eleições em 2004, o antigo senhor
da guerra manteve influência
no governo. Os chefes das antigas milícias da Aliança do Norte, que apoiou os EUA contra o
regime do Taleban, são a principal base de Karzai.
O prazo para a inscrição de
chapas acaba na sexta. É improvável, porém, que Karzai enfrente um opositor de peso, enquanto tiver o apoio ocidental.
O sistema político do Afeganistão, devastado por conflitos
civis desde a década de 1970,
baseia-se em instáveis alianças
de chefes locais. O endosso militar estrangeiro e o controle
dos recursos internacionais
destinados ao país fomentam a
capacidade de Karzai de atrair
aliados, apesar da impopularidade do governo.
Com agências internacionais
Texto Anterior: Guantánamo: Justiça dos EUA ordena soltura de preso da base Próximo Texto: Renúncia de premiê provoca crise no Nepal Índice
|