São Paulo, terça-feira, 05 de maio de 2009

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Renúncia de premiê provoca crise no Nepal

Disputa de líder maoísta com presidente e Exército ameaça a república, proclamada no ano passado

DA REDAÇÃO

O primeiro-ministro do Nepal, o ex-guerrilheiro maoísta Pushpa Kamal Dahal, renunciou ontem em meio a uma disputa com o presidente do país -um confronto que ameaça a estabilidade da ainda frágil república democrática nepalesa, antes que ela complete um ano de existência.
Dahal, conhecido como Prachanda, anunciou sua saída do governo depois que o presidente do país, Ram Baran Yadav -líder da oposição e das Forças Armadas-, bloqueou sua ordem para demitir o comandante do Exército.
O Nepal proclamou sua república em 28 de maio de 2008, a partir de um acordo de paz que pôs fim a 239 anos de monarquia, cujo período final foi marcado por dez anos de guerra (1996-2006) entre o governo e a guerrilha maoísta. Nesse processo, o partido do premiê Prachanda entrou para a política e venceu as eleições de 2008.
A atual disputa entre o premiê e o presidente gira em torno de 19 mil ex-guerrilheiros maoístas, que permanecem a contragosto sob monitoração da ONU, apesar de o acordo de paz determinar que sejam integrados às forças de segurança do país -decisão que o Exército resiste em cumprir.
Ontem, tanto partidários do premiê como do presidente saíram às ruas da capital, Katmandu, para protestar. Os maoístas prometeram mais manifestações de solidariedade ao premiê, o que poderia incluir fechar o Parlamento "até que o presidente reconsidere sua decisão", disse o porta-voz do partido maoísta, Nath Sharma.
"Estamos esperando problemas e nos preparando para impedir a violência nas ruas. A polícia está em alerta máximo", disse o ministro do Interior, Navin Ghimire.
O premiê acusa o presidente de "um ataque fatal" à democracia no país asiático de 28 milhões de habitantes. O racha de ontem põe em risco tanto a capacidade de o governo controlar os ex-guerrilheiros como a redação da nova Constituição -parte do acordo de paz.
Ainda não se sabe se os maoístas continuarão no poder ou se todos sairão com o premiê, o que poderia levar o país de volta ao conflito armado.
Outro agravante à crise política é que o partido marxista, que compunha o governo com os maoístas, abandonou ontem a coalizão, com o risco de levar consigo outros partidos.

Divisões
Enquanto isso, a economia também cambaleia. O governo até agora falhou em combater a alta inflação e a pobreza disseminada pelo país.
Os maoístas são vistos por parte dos nepaleses como heróis que ajudaram a democratizar o país e livrá-lo da monarquia. Outra parte da população, no entanto, critica o novo governo pelos problemas econômicos e pelos recentes cortes em energia e combustíveis.
As divergências com as Forças Armadas também são fortes. Segundo o "Financial Times", o Exército tirou seus atletas que competiam nos Jogos Nacionais, no mês passado, ao saber que os maoístas também competiriam no evento.


Com agências internacionais


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