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São Paulo, quinta-feira, 05 de junho de 2003

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UMA VISÃO PALESTINA

Precisão é vantagem do plano, diz Erekat

GILES PARIS
DO "LE MONDE"

Para Saeb Erekat, assessor diplomático do líder palestino Iasser Arafat, o novo plano de paz tem a vantagem de detalhar objetivos e fornecer um roteiro para sua implementação, mas depende demais de uma única pessoa, o presidente dos EUA, George W. Bush. Erekat recentemente renunciou a cargo no gabinete do premiê palestino, Abu Mazen.
 

Pergunta - Como ex-ministro palestino, o sr. participou de todas as negociações dos últimos anos. Por quais razões o novo plano de paz teria mais chances de sucesso que os planos anteriores?
Saeb Erekat -
O Oriente Médio não é mais o mesmo depois da intervenção no Iraque. Há sem dúvida mais blindados e aviões norte-americanos por aqui que na Flórida ou no Texas. É uma virada. Há ainda o fato de todos apoiarem esse novo plano. As divisões ocorridas antes da intervenção no Iraque foram superadas diante do novo plano. Vejam o exemplo de Tony Blair e Jacques Chirac. Mesmo se há ainda nuances e incertezas sobre o papel de uns e de outros, os países árabes, os europeus, os russos, a ONU e os demais parceiros dão seu apoio. É por isso que acreditamos que haja chances de sucesso.

Pergunta - Quais são as principais vantagens do plano?
Erekat -
É a sua precisão. Tudo se encontra nele. Antes de mais nada, há como objetivo um Estado palestino, há textualmente a previsão de "fim da ocupação", mas também um calendário, as etapas e as medidas a serem adotadas por cada parte. Tudo está bastante claro. É por isso que o plano deve ser endossado tal qual ele está. Não se trata de um texto cuja redação precisa ser negociada. Não devemos, por exemplo, levar em conta as reservas israelenses. Outro ponto forte do plano são os mecanismos de controle. Vejamos o que ocorreu a 29 de maio, no último encontro entre Ariel Sharon e Abu Mazen. Os israelenses anunciaram medidas conciliatórias, como a diminuição das restrições de circulação. Mas os palestinos constataram que ocorreu o oposto nos dias seguintes. Entre palestinos e israelenses a confiança está hoje em seu menor nível. Já o ódio está em sua maior escala. É por isso indispensável a presença de um árbitro. Não peço a presença de militares americanos ou de recursos importantes. Acredito que 350 civis seriam suficientes.

Pergunta - E quais são as deficiências do novo plano de paz?
Erekat -
O novo plano de paz repousa sobre um único homem, George W. Bush. Ariel Sharon não se levantou certa manhã e disse para si mesmo: "Bem, que tal se eu submetesse um novo plano ao meu governo?". Se ele aderiu, é porque Bush o impôs a ele. Da mesma forma, Bush não disse a si mesmo que seria uma boa idéia fazer algo por aqui. Ele adotou uma nova postura depois de um longo período de imobilismo, porque compreendeu que, após o Iraque, a estabilidade regional passava pela resolução do conflito entre palestinos e israelenses. Caso ele não consiga se impor ou se abdicar de fazê-lo o fracasso será inevitável. E a região pode esperar pelo pior.


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