|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
ARGENTINA
Na TV, presidente pede para o Congresso acelerar processos contra juízes que não estariam "à altura do cargo"
Kirchner quer investigar Suprema Corte
ELAINE COTTA
DE BUENOS AIRES
O presidente da Argentina, Néstor Kirchner, pediu ontem que o
Congresso acelere as investigações contra os ministros da Suprema Corte do país e que afaste o
quanto antes os juízes que, segundo ele, "não estão à altura do cargo". Em discurso em cadeia nacional de TV, Kirchner disse que
há membros da Corte que ainda
estão vinculados "ao passado" e
que "se negam a mudar".
Kirchner toca em mais um ponto sensível do "poder" argentino.
Em apenas uma semana, o presidente trocou o comando das Forças Armadas e renovou parte dos
principais postos da Polícia Federal, medidas que causaram polêmica. Agora, começa a articular
mudanças na Suprema Corte.
O principal problema de Kirchner com a Suprema Corte é a ligação da maioria dos ministros com
o ex-presidente Carlos Menem
-cinco dos nove integrantes foram nomeados durante o seu governo, entre 1989 e 1999. Além
disso, alguns ministros da Corte
estão envolvidos com suspeita de
corrupção ou uso do poder em
benefício próprio.
"Pedimos com toda humildade,
coragem e firmeza aos legisladores que ajudem a nova Argentina,
preservando as instituições dos
homens que não estão à altura das
circunstâncias", disse.
Até o fechamento desta edição,
não havia reação por parte dos
ministros da Suprema Corte.
As críticas de Kirchner aos integrantes da Suprema Corte, órgão
máximo do Poder Judiciário, começaram em 25 de maio. Em seu
discurso de posse, afirmou que a
Argentina sofre com a "impunidade" e que "cumprir a lei não dá
prêmios nem reconhecimento social." Durante a campanha eleitoral, Kirchner já havia proposto a
remoção dos membros da Corte.
No final do ano passado, Kirchner chegou a articular no Congresso uma investigação de todos
os juízes, mas o processo não teve
andamento. Agora, como presidente, quer forçar uma ação legislativa que afaste os ministros ligados a Menem. Para isso, conta
com o apoio de boa parte dos deputados peronistas -inclusive
alguns menemistas que já começaram a se aproximar do governo-, além de partidos da oposição, como o ARI (Argentina por
uma República de Iguais) e a UCR
(União Cívica Radical).
Por lei, os integrantes da Suprema Corte só podem ser destituídos quando morrem ou pedem
demissão. A outra forma seria a
instalação de uma denúncia política (uma espécie de impeachment), com base nas acusações de
utilização "errônea" das funções
ou ações que possam ter resultado em benefício próprio.
A Câmara dos Deputados iniciaria o processo, que seria concluído pelo Senado. São os votos
dos senadores que decidem o destino dos juízes. "Os remédios devem ser os da Constituição. Não
queremos nada fora da lei", disse
Kirchner, no discurso à TV.
O ministro da Justiça, Gustavo
Beliz, disse ainda que o governo
Kirchner poderá convocar um
plebiscito para consultar a população sobre a permanência ou não
dos ministros, como admite a
Constituição. Nesta semana, disse
que a Corte é "apegada" ao menemismo e que a intenção do governo é "melhorar a qualidade institucional do país".
O presidente da Suprema Corte,
Julio Nazareno, disse que chamar
a corte de "apegada" ao menemismo é um "absurdo total".
Pesquisa
Pesquisa realizada pela consultoria Ricardo Rouvier & Associados mostra que mais da metade
dos argentinos (54,2%) acha que
todos os ministros da Corte deveriam renunciar ao cargo.
Outros 28,9% afirmam que uma
parte deveria ser afastada, enquanto apenas 3,8% defende a
permanência de todos os juízes.
A pesquisa foi realizada entre os
dias 26 e 30 de maio na cidade de
Buenos Aires e ouviu 622 pessoas.
A margem de erro é de 3,9%.
Texto Anterior: EUA transferem 4.000 soldados para Fallujah Próximo Texto: Memórias: "Quis torcer o pescoço de Bill", diz Hillary em seu livro Índice
|