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Bird lança fundo para comércio de carbono de floresta tropical
EDUARDO GERAQUE
ENVIADO ESPECIAL A BERLIM
As florestas tropicais, cuja
devastação responde por até
15% das emissões mundiais
anuais de gases-estufa, já podem ser contadas como parte
da receita para salvar o planeta
da mudança climática: o Banco
Mundial ontem lançou um fundo para comercializar os créditos de carbono provenientes do
desmatamento evitado
O anúncio foi feito ontem em
Berlim, no encerramento de
um fórum que reuniu parlamentares do G8+5 e grandes
empresários do setor de energia. A criação chamado Fundo
Conjunto para Carbono de Florestas havia sido adiantada pela
Folha no fim de 2006.
"De imediato, nós temos como investir US$ 50 milhões em
projetos que preservem a floresta", disse Kristalina Georgiyeva, diretora de Estratégias e
Operações para o Desenvolvimento Sustentável do banco.
Nas contas da executiva do
Bird, em 2009 esse fundo poderá chegar aos US$ 200 milhões. "Em 2014, se tudo correr
bem, essa iniciativa poderá ser
ainda maior e atingir a cifra de
US$ 1 bilhão", afirmou.
Os dirigentes do Bird esperam financiar de imediato um
projeto de grande vulto no Brasil. Mas isso só será possível se
o governo brasileiro -que vem
se posicionando contra mecanismos de mercado para o carbono das florestas, por temer
ingerência internacional sobre
a Amazônia-, não colocar obstáculos ao financiamento.
A expectativa do banco é que
seja criado, ou pelo menos formatado, um fundo internacional, abastecido pelos países ricos, que possa comprar os certificados de carbono que seriam gerados principalmente
nos países tropicais.
Esse fundo é essencialmente
diferente do proposto pelo Brasil -e descartado por outros
países- para compensar as nações que reduzissem seu desmatamento. Aqui, a redução de
desmate em um país pobre pode ser abatida da quota de redução de emissões do país rico
comprador. O Brasil propunha
uma contribuição voluntária.
Incertezas
Além de vencer todas as barreiras políticas para que um
mercado de carbono forte possa se estabelecer, ninguém ainda ao certo sabe como tudo isso
poderia ser montado. Uma das
dificuldades é saber, por exemplo, como o desmatamento evitado seria realmente averiguado pelos financiadores.
Apesar do sinal claro dado a
favor do mercado de carbono
pelo Bird, e ainda pelos grandes
executivos do setor de energia
que estiveram na capital alemã
-Tony Hayward, da British Petroleum, Jim Rogers, da Duke
Energy e Lars Josefsson da
Vattenfall - críticas ao valor
inicial do fundo já foram ouvidas ontem mesmo em Berlim.
A delegação da Malásia
achou irrisória a quantia de
US$ 50 milhões, isso contando
que vivem da floresta hoje no
mundo 1,2 bilhão de pessoas.
"A iniciativa é para ajudar a
preservar as florestas. Não temos a intenção de erradicar a
pobreza diretamente com isso", disse Georgiyeva.
Ela diz não acreditar que o
mercado voluntário de carbono
florestal, posição defendida pelo Brasil, seja relevante em termos globais. "Claro que toda a
iniciativa é importante. Quem
quiser colaborar de forma voluntária, muito bem, mas essa
não é a saída de mais peso."
O jornalista Eduardo Geraque viajou a convite
do Banco Mundial
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