São Paulo, terça-feira, 05 de junho de 2007

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Bird lança fundo para comércio de carbono de floresta tropical

EDUARDO GERAQUE
ENVIADO ESPECIAL A BERLIM

As florestas tropicais, cuja devastação responde por até 15% das emissões mundiais anuais de gases-estufa, já podem ser contadas como parte da receita para salvar o planeta da mudança climática: o Banco Mundial ontem lançou um fundo para comercializar os créditos de carbono provenientes do desmatamento evitado O anúncio foi feito ontem em Berlim, no encerramento de um fórum que reuniu parlamentares do G8+5 e grandes empresários do setor de energia. A criação chamado Fundo Conjunto para Carbono de Florestas havia sido adiantada pela Folha no fim de 2006.
"De imediato, nós temos como investir US$ 50 milhões em projetos que preservem a floresta", disse Kristalina Georgiyeva, diretora de Estratégias e Operações para o Desenvolvimento Sustentável do banco. Nas contas da executiva do Bird, em 2009 esse fundo poderá chegar aos US$ 200 milhões. "Em 2014, se tudo correr bem, essa iniciativa poderá ser ainda maior e atingir a cifra de US$ 1 bilhão", afirmou.
Os dirigentes do Bird esperam financiar de imediato um projeto de grande vulto no Brasil. Mas isso só será possível se o governo brasileiro -que vem se posicionando contra mecanismos de mercado para o carbono das florestas, por temer ingerência internacional sobre a Amazônia-, não colocar obstáculos ao financiamento.
A expectativa do banco é que seja criado, ou pelo menos formatado, um fundo internacional, abastecido pelos países ricos, que possa comprar os certificados de carbono que seriam gerados principalmente nos países tropicais.
Esse fundo é essencialmente diferente do proposto pelo Brasil -e descartado por outros países- para compensar as nações que reduzissem seu desmatamento. Aqui, a redução de desmate em um país pobre pode ser abatida da quota de redução de emissões do país rico comprador. O Brasil propunha uma contribuição voluntária.

Incertezas
Além de vencer todas as barreiras políticas para que um mercado de carbono forte possa se estabelecer, ninguém ainda ao certo sabe como tudo isso poderia ser montado. Uma das dificuldades é saber, por exemplo, como o desmatamento evitado seria realmente averiguado pelos financiadores.
Apesar do sinal claro dado a favor do mercado de carbono pelo Bird, e ainda pelos grandes executivos do setor de energia que estiveram na capital alemã -Tony Hayward, da British Petroleum, Jim Rogers, da Duke Energy e Lars Josefsson da Vattenfall - críticas ao valor inicial do fundo já foram ouvidas ontem mesmo em Berlim.
A delegação da Malásia achou irrisória a quantia de US$ 50 milhões, isso contando que vivem da floresta hoje no mundo 1,2 bilhão de pessoas. "A iniciativa é para ajudar a preservar as florestas. Não temos a intenção de erradicar a pobreza diretamente com isso", disse Georgiyeva.
Ela diz não acreditar que o mercado voluntário de carbono florestal, posição defendida pelo Brasil, seja relevante em termos globais. "Claro que toda a iniciativa é importante. Quem quiser colaborar de forma voluntária, muito bem, mas essa não é a saída de mais peso."


O jornalista Eduardo Geraque viajou a convite do Banco Mundial


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