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SUCESSÃO NOS EUA / UNIÃO DEMOCRATA
"Chapa dos sonhos" divide partido
Terminadas as prévias, oposição debate papel de Hillary Clinton e como fazer para unificar seu eleitorado
Para Jimmy Carter, idéia pode virar pesadelo, mas analistas vêem atrativos em lançar ex-primeira-dama como vice para Casa Branca
DE NOVA YORK
Apelidada de "dream ticket"
(chapa dos sonhos), a possível
candidatura conjunta de Barack Obama e Hillary Clinton
para a Casa Branca (ele como
presidente, ela como vice) já
perturba o sono de alguns
membros do Partido Democrata, que temem que a dupla resulte em uma chapa-pesadelo.
"Esse seria o pior erro que
poderia ser feito. Só acumularia
os aspectos negativos de ambos
os candidatos", declarou, em
entrevista ao jornal "The Guardian", o ex-presidente Jimmy
Carter (1977-81), após apoiar
oficialmente Obama. O senador conquistou anteontem o
número de delegados partidários necessários para ser o candidato democrata à Presidência
na eleição de 4 de novembro.
"Se você pegar os 50% que
não querem votar em Clinton
[segundo pesquisas] e somar
quem pensa que Obama não seja branco o suficiente, ou velho
o suficiente, ou experiente o suficiente, ou porque ele tem um
nome do meio que soa árabe
[Hussein], você pode ter o pior
dos dois mundos", completou.
Hillary, que ainda não definiu publicamente o rumo de
sua candidatura, declarou a
congressistas na terça-feira
que aceitaria concorrer como
vice-presidente. Ontem, contudo, Terry McAuliffe, diretor de
sua campanha, disse ao canal
de TV CNN que houve "absolutamente zero discussão" sobre
essa possibilidade.
Obama, por sua vez, anunciou que nomeou uma equipe
para ajudá-lo a escolher um vice. O trio tem Caroline Kennedy -filha do presidente
John F. Kennedy, assassinado
em 1963- e Eric Holder e Jim
Johnson, ambos do alto escalão
democrata.
A lista de cogitados para o
posto de vice inclui, além de Hillary, outros nomes que estamparam as cédulas nas primárias
democratas deste ano, como o
ex-senador John Edwards, o
senador Chris Dodd e o governador Bill Richardson (Novo
México), de ascendência latina.
Holofote dividido
Para Thomas Schaller, cientista político da Universidade
de Maryland, o potencial da
"chapa dos sonhos" não deve
ser desprezado.
"A vantagem é muito simples. Hillary têm grande visibilidade nacional, teve muitos votos, e seria um caminho mais
fácil para Obama trazer para si
o voto de hispânicos, mulheres
e brancos que passaram os últimos meses torcendo por ela",
disse ele à Folha.
Por outro lado, diz, as desvantagens de se unir a Hillary
são perigosas não só para a
campanha, mas para a Casa
Branca. "Hillary e Bill Clinton
são grandes celebridades e seria impossível mantê-los longe
dos holofotes, mesmo que ela
seja apenas vice-presidente, o
que pode dar a impressão de
que Obama tem menos poder."
Para Schaller, o partido ganha se agir rápido na definição
do vice. "Especialmente se
Obama não pretende convidar
Hillary, ele deve fazer isso logo,
para não gerar muita expectativa nos eleitores dela e depois
frustrá-los ."
Afinal, "o que Hillary quer?".
A questão -feita pela própria
senadora no evento em Nova
York após o encerramento da
temporada de prévias, no qual
citou suas bandeiras de campanha como resposta- é o enigma de bastidores nos EUA,
com a percepção geral de que
ela não pretende simplesmente voltar ao Senado derrotada.
Além da possibilidade de
concorrer como vice, observadores vêem na persistência de
Hillary na disputa a busca por
uma vaga na Suprema Corte ou
por um alto cargo no governo.
(DANIEL BERGAMASCO)
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