São Paulo, quinta-feira, 05 de junho de 2008

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SUCESSÃO NOS EUA / UNIÃO DEMOCRATA

"Chapa dos sonhos" divide partido

Terminadas as prévias, oposição debate papel de Hillary Clinton e como fazer para unificar seu eleitorado

Para Jimmy Carter, idéia pode virar pesadelo, mas analistas vêem atrativos em lançar ex-primeira-dama como vice para Casa Branca

DE NOVA YORK

Apelidada de "dream ticket" (chapa dos sonhos), a possível candidatura conjunta de Barack Obama e Hillary Clinton para a Casa Branca (ele como presidente, ela como vice) já perturba o sono de alguns membros do Partido Democrata, que temem que a dupla resulte em uma chapa-pesadelo.
"Esse seria o pior erro que poderia ser feito. Só acumularia os aspectos negativos de ambos os candidatos", declarou, em entrevista ao jornal "The Guardian", o ex-presidente Jimmy Carter (1977-81), após apoiar oficialmente Obama. O senador conquistou anteontem o número de delegados partidários necessários para ser o candidato democrata à Presidência na eleição de 4 de novembro.
"Se você pegar os 50% que não querem votar em Clinton [segundo pesquisas] e somar quem pensa que Obama não seja branco o suficiente, ou velho o suficiente, ou experiente o suficiente, ou porque ele tem um nome do meio que soa árabe [Hussein], você pode ter o pior dos dois mundos", completou.
Hillary, que ainda não definiu publicamente o rumo de sua candidatura, declarou a congressistas na terça-feira que aceitaria concorrer como vice-presidente. Ontem, contudo, Terry McAuliffe, diretor de sua campanha, disse ao canal de TV CNN que houve "absolutamente zero discussão" sobre essa possibilidade.
Obama, por sua vez, anunciou que nomeou uma equipe para ajudá-lo a escolher um vice. O trio tem Caroline Kennedy -filha do presidente John F. Kennedy, assassinado em 1963- e Eric Holder e Jim Johnson, ambos do alto escalão democrata.
A lista de cogitados para o posto de vice inclui, além de Hillary, outros nomes que estamparam as cédulas nas primárias democratas deste ano, como o ex-senador John Edwards, o senador Chris Dodd e o governador Bill Richardson (Novo México), de ascendência latina.

Holofote dividido
Para Thomas Schaller, cientista político da Universidade de Maryland, o potencial da "chapa dos sonhos" não deve ser desprezado.
"A vantagem é muito simples. Hillary têm grande visibilidade nacional, teve muitos votos, e seria um caminho mais fácil para Obama trazer para si o voto de hispânicos, mulheres e brancos que passaram os últimos meses torcendo por ela", disse ele à Folha.
Por outro lado, diz, as desvantagens de se unir a Hillary são perigosas não só para a campanha, mas para a Casa Branca. "Hillary e Bill Clinton são grandes celebridades e seria impossível mantê-los longe dos holofotes, mesmo que ela seja apenas vice-presidente, o que pode dar a impressão de que Obama tem menos poder."
Para Schaller, o partido ganha se agir rápido na definição do vice. "Especialmente se Obama não pretende convidar Hillary, ele deve fazer isso logo, para não gerar muita expectativa nos eleitores dela e depois frustrá-los ."
Afinal, "o que Hillary quer?". A questão -feita pela própria senadora no evento em Nova York após o encerramento da temporada de prévias, no qual citou suas bandeiras de campanha como resposta- é o enigma de bastidores nos EUA, com a percepção geral de que ela não pretende simplesmente voltar ao Senado derrotada.
Além da possibilidade de concorrer como vice, observadores vêem na persistência de Hillary na disputa a busca por uma vaga na Suprema Corte ou por um alto cargo no governo. (DANIEL BERGAMASCO)


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