São Paulo, segunda-feira, 05 de julho de 2004

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ÁSIA

Presidente Sukarnoputri, candidata à reeleição, está em terceiro lugar em pesquisa; seu ex-ministro da Segurança é o favorito

Indonésia realiza sua primeira eleição direta

DA REDAÇÃO

Com a provável derrota da presidente Megawati Sukarnoputri, a Indonésia realiza hoje a primeira eleição presidencial direta da sua história. Favorito, o ex-ministro da Segurança Susilo Bambang Yudhoyono lidera com folga as pesquisas, mas deve ter que enfrentar um segundo turno.
Desde a queda em 1998 do ditador Suharto, o maior país muçulmano do mundo vem realizando uma tumultuada transição democrática, com três presidentes no espaço de seis anos. Além da instabilidade política, há uma prolongada crise econômica, movimentos separatistas e ataques de terroristas ligados à Al Qaeda.
As pesquisas de opinião apontam que Yudhoyono deve ter entre 40% e 45% dos votos. Com uma imagem de firmeza e de caráter "limpo", ele foi ministro da Segurança de Sukarnoputri até março, quando renunciou para concorrer à Presidência.
A corrupção é um dos principais obstáculos de Sukarnoputri. Filha de Achmad Sukarno -que governou o país por quase duas décadas até ser deposto por um golpe na década de 60-, ela chegou à Presidência em 2001 em uma eleição indireta e mostrou-se incapaz de diminuir a corrupção. A Indonésia aparece no décimo lugar da lista da ONG Transparência Internacional de países mais corruptos do mundo.
Em uma das últimas pesquisas divulgadas, Yudhoyono tem 43,5% das intenções de voto. Disputando o segundo lugar vêm o general Wiranto (ex-comandante das Forças Armadas e indiciado por crimes contra a humanidade por um tribunal da ONU para o Timor Leste) com 14,2%, Sukarnoputri com 11,7% e o presidente do Parlamento, Amien Rais, com 10,9%.
Embora centenas de observadores internacionais -entre eles o ex-presidente norte-americano Jimmy Carter- estejam na Indonésia para acompanhar o pleito para garantir a sua lisura, dá-se como inevitável a ocorrência de alguns casos de compra e fraude de votos. "Sabemos que foram dadas notas de 20 mil, 50 mil e até 100 mil rúpias [cerca de R$ 35] a eleitores. É um escândalo, mas é difícil condenar as pessoas, porque elas são pobres", disse um dos cinco candidatos, Amien Rais.
As semanas que antecederam a eleição foram calmas, sem os protestos e a violência que caracterizaram a política do país nos últimos anos. Respeitando a lei eleitoral, os candidatos encerraram suas campanhas no fim de semana e pôsteres, faixas e peças publicitárias foram retiradas das ruas e de lugares públicos.
Milhares de muçulmanos reuniram-se ontem na segunda maior mesquita da capital, Jacarta, para orar pelo sucesso da eleição. Nenhum dos presentes portava símbolos dos candidatos presidenciais.
Em um discurso transmitido pela televisão ontem à noite, Sukarnoputri afirmou que o voto era um passo crítico no processo de reformas democráticas do país e apelou para a população aceitar o vencedor em nome da unidade nacional. "Os olhos do mundo estão mais uma vez sobre nós, esperando por mais demonstrações de que somos capazes de atravessar o período complicado de transição rumo a uma era de democracia moderna", disse.
Parte da razão para a tranqüilidade é a gradual melhora da economia depois da crise asiática de 1997-98 -quando o PIB indonésio encolheu 15% no espaço de um ano. Apesar da relativa estabilidade, o desemprego passa dos 20% e os investimentos estrangeiros continuam pequenos.
O novo presidente terá ainda o desafio de liderar uma nação que enfrenta movimentos armados separatistas em Províncias do leste e oeste e a ação de extremistas islâmicos. Apesar do atentado que em 2002 matou cerca de 200 pessoas, inclusive turistas, na ilha de Bali, o terrorismo islâmico não foi tema da campanha. A Indonésia não tem partidos islâmicos fundamentalistas fortes. Mesmos os que se baseiam na religião não fazem menção ao islã em seus nomes.
A apuração dos votos dos 155 milhões de eleitores pode demorar até dez dias para ser concluída. Se nenhum dos candidatos obtiver mais de 50% dos votos, haverá um segundo turno em setembro.


Com agências internacionais


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