São Paulo, sábado, 05 de julho de 2008

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Lula ofereceu mediação com Farc, diz Ingrid

Ex-refém agradece o presidente por ter disponibilizado contato do grupo a Uribe

Ao explicar por que Brasil não constou antes dos agradecimentos, família sugere que outros líderes foram mais solidários


Charles Platiau/Reuters
Sarkozy posa com Ingrid no Palácio do Eliseu; mãe de ex-refém elogiou atenção de Cristina Kirchner

MARCELO NINIO
ENVIADO ESPECIAL A PARIS

Recebida como heroína em Paris, em meio a especulações e dúvidas sobre as circunstâncias de sua libertação, a política colombiana Ingrid Betancourt disse ontem, em entrevista no Palácio do Eliseu, que o governo brasileiro se ofereceu como um canal de comunicação com as Forças Armadas Revolucionárias Colombianas (Farc).
Indagada sobre a ausência de qualquer referência ao Brasil nos agradecimentos que ela e o presidente francês, Nicolas Sarkozy, fizeram a governos da América do Sul, Ingrid escolheu um tom diplomático. Elogiou o presidente Lula e acrescentou que o Brasil chegou a se oferecer como possível interlocutor da guerrilha, que a manteve refém por seis anos.
"Toda a América Latina se mobilizou e eu incluo nesta campanha o presidente Lula", disse Ingrid, sentada entre os filhos Lorenzo e Mélanie. "Eu sei que ele conhecia o meu caso, sei que ele fez o necessário para que o presidente [colombiano, Álvaro] Uribe soubesse que é possível contar com o Brasil para contatos com as Farc."
A ex-candidata à Presidência da Colômbia disse que pretende ir ao Brasil em breve para pedir a Lula que ajude na libertação dos reféns que permanecem em poder das Farc.
"Reconheço o esforço e o interesse que o presidente Lula teve pelo meu caso. Espero encontrá-lo em breve para que ele nos ajude nesta segunda etapa crucial, que é a libertação dos que ainda estão na selva", disse Ingrid. "Que os brasileiros não se preocupem, porque, se eles têm a sensação de que o que fizeram não foi suficiente, terão sempre uma oportunidade de fazer mais."
Dois dias depois de ser libertada, Ingrid aparenta cansaço, mas mantém nos lábois um sorriso permanente. Vestindo blazer azul marinho, enfeitado por um grande broche brilhante em forma de pomba, tem o rosto envelhecido e magro. Mas sua aparência nem de longe lembra as imagens que chocaram o mundo há poucos meses, em que aparece de cabeça baixa e extremamente magra.
A mãe de Ingrid, Yolanda Pulecio, que em entrevista à Folha em dezembro "suplicou" a ajuda de Lula para libertar sua filha, deu a entender que outros países haviam feito mais para merecer os agradecimentos da família Betancourt.
"Hoje, por exemplo, a [presidente argentina] Cristina Kirchner me telefonou aqui", disse Yolanda à Folha, pouco antes de deixar o Eliseu com a filha e os netos. Questionada se algum representante do governo brasileiro havia feito gesto semelhante, Yolanda respondeu: "Até este momento, não." Apesar disso, afirmou que o presidente Lula "sempre foi muito amável" com ela.

Papa e Chávez
Oficialmente, a agenda de Ingrid nos próximos dias inclui apenas uma visita hoje a um hospital de Paris, onde fará exames médicos. Ela reiterou que quer ter uma audiência com o papa Bento 16, o que poderá ocorrer na próxima semana. O Vaticano afirmou ontem que o pontífice receberá a ex-refém assim que possível.
Ingrid também incluiu em seus planos um giro por países da América do Sul, entre eles o Brasil. O destaque, porém, mais uma vez foi dado à Argentina. "Eu quero ir ao Brasil, assim como quero ir à Argentina, abraçar Cristina Kirchner. Também quero ir ao Chile, Peru, Equador, e também à Venezuela, [estar] com Hugo Chávez."
O colombiano Adair Lamprea, que dirigia o carro em que Ingrid estava quando foi seqüestrada, em fevereiro de 2002, estava exultante no pátio do Eliseu. Lamprea, que se tornou coordenador de um comitê de luta pela libertação de Ingrid, não escondeu o sentimento de que o governo brasileiro poderia ter feito mais.
"Acho que o Brasil não fez o suficiente. Sempre tive a convicção, nos últimos seis anos, de que o presidente Lula poderia participar de modo mais forte da libertação dos seqüestrados", afirmou Lamprea.


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