São Paulo, segunda-feira, 05 de agosto de 2002

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AMÉRICA DO SUL

Ex-presidente (93-97) garante maioria em eleição no Congresso e derrota líder cocaleiro no segundo turno indireto

Bolívia elege Sánchez de Lozada presidente

RODRIGO UCHÔA
DA REDAÇÃO

O liberal Gonzalo Sánchez de Lozada, 72, foi eleito presidente da Bolívia pelo Congresso e assumirá amanhã para um mandato de cinco anos. Ele já ocupou o cargo de 1993 a 1997.
Quando nenhum candidato consegue maioria no voto popular, um segundo turno no Congresso elege o presidente. Lozada, do MNR (Movimento Nacionalista Revolucionário), teve 22,46% dos votos válidos no pleito direto do dia 30 de junho, contra 20,94% do líder dos plantadores de coca Evo Morales, 42, do MAS (Movimento ao Socialismo). No Congresso, o resultado foi de 84 a 43.
Os discursos no Parlamento foram acalorados e prolongaram a sessão por mais de 24 horas.
Cerca de 50 parlamentares falaram em quêchua ou em aymará, línguas oficiais no país ao lado do espanhol. Felipe Quispe, do MIP (Movimento Indígena Pachakuti), fez o seu discurso em aymará, pregando a luta contra a "casta dominante" e o voto em Morales.
O senador Filemón Escóbar, do MAS, disse que a eleição de Lozada significava a vitória do "etnocídio e do economicídio", que haviam roubado dos indígenas "a terra, a água e a coca".
A eleição, porém, já fora garantida antecipadamente, com o acordo entre Sánchez de Lozada e o quarto colocado no dia 30 de junho (16,3%), o também ex-presidente Jaime Paz Zamora, do MIR (Movimento da Esquerda Revolucionária, social-democrata).
No sábado, Mirtha Quevedo (MNR) foi eleita presidente do Senado e Guido Añez (MIR) assumiu a presidência da Câmara. Na eventualidade de ausência do presidente e do vice, Quevedo assumiria o Poder Executivo. "É sempre uma possibilidade na nossa instável região, basta ver os exemplos de Paraguai, Peru e Argentina", disse, em tom irônico, o cientista político Tito Zambra.

Congresso
O bloco MNR-MIR garantiu a maioria dos 157 parlamentares. A maioria da NFR (Nova Força Republicana) votou em Manfred Reyes Villa -terceiro no voto popular, atrás de Morales por cerca de 700 votos-, o que significou a anulação dos votos do partido direitista. Apenas alguns frentistas votaram no líder cocaleiro.
O MNR tem 50 congressistas, e o MIR, 30. Sánchez de Lozada contou também com o apoio de partidos conservadores menores.
A oposição parlamentar será bastante significativa. Além dos representantes da NFR, o governo enfrentará uma radical oposição dos 35 congressistas do MAS e dos seis do MIP. Morales, que defende uma política reestatizante, prometeu bloquear as estradas do país, caso não fosse eleito, e até pegar em armas para defender os recursos naturais bolivianos.
Analistas dizem que o primeiro embate deve ser quanto à exportação de gás (principal produto do país) para os EUA. Discute-se o uso de um porto peruano ou chileno. A opção chilena é impopular, pois a Bolívia perdeu sua costa para o Chile no fim do século 19. "Usando o descontentamento popular, Morales terá uma oportunidade excelente de "aquecer os músculos" de sua proeminência popular", disse Zambra.
O presidente chileno, Ricardo Lagos, disse que não comparecerá à posse de Sánchez de Lozada para não criar constrangimentos ao novo governo. Santiago e La Paz (capital administrativa da Bolívia) não têm relações diplomáticas.
A Bolívia tem 8,2 milhões de habitantes e a maior taxa de analfabetismo da América do Sul. Mais da metade da população é das etnias quêchua e aymará.


Com agências internacionais


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