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AMÉRICA DO SUL
Ex-presidente (93-97) garante maioria em eleição no Congresso e derrota líder cocaleiro no segundo turno indireto
Bolívia elege Sánchez de Lozada presidente
RODRIGO UCHÔA
DA REDAÇÃO
O liberal Gonzalo Sánchez de
Lozada, 72, foi eleito presidente
da Bolívia pelo Congresso e assumirá amanhã para um mandato
de cinco anos. Ele já ocupou o cargo de 1993 a 1997.
Quando nenhum candidato
consegue maioria no voto popular, um segundo turno no Congresso elege o presidente. Lozada,
do MNR (Movimento Nacionalista Revolucionário), teve 22,46%
dos votos válidos no pleito direto
do dia 30 de junho, contra 20,94%
do líder dos plantadores de coca
Evo Morales, 42, do MAS (Movimento ao Socialismo). No Congresso, o resultado foi de 84 a 43.
Os discursos no Parlamento foram acalorados e prolongaram a
sessão por mais de 24 horas.
Cerca de 50 parlamentares falaram em quêchua ou em aymará,
línguas oficiais no país ao lado do
espanhol. Felipe Quispe, do MIP
(Movimento Indígena Pachakuti), fez o seu discurso em aymará,
pregando a luta contra a "casta
dominante" e o voto em Morales.
O senador Filemón Escóbar, do
MAS, disse que a eleição de Lozada significava a vitória do "etnocídio e do economicídio", que haviam roubado dos indígenas "a
terra, a água e a coca".
A eleição, porém, já fora garantida antecipadamente, com o
acordo entre Sánchez de Lozada e
o quarto colocado no dia 30 de junho (16,3%), o também ex-presidente Jaime Paz Zamora, do MIR
(Movimento da Esquerda Revolucionária, social-democrata).
No sábado, Mirtha Quevedo
(MNR) foi eleita presidente do Senado e Guido Añez (MIR) assumiu a presidência da Câmara. Na
eventualidade de ausência do presidente e do vice, Quevedo assumiria o Poder Executivo. "É sempre uma possibilidade na nossa
instável região, basta ver os exemplos de Paraguai, Peru e Argentina", disse, em tom irônico, o cientista político Tito Zambra.
Congresso
O bloco MNR-MIR garantiu a
maioria dos 157 parlamentares. A
maioria da NFR (Nova Força Republicana) votou em Manfred Reyes Villa -terceiro no voto popular, atrás de Morales por cerca de
700 votos-, o que significou a
anulação dos votos do partido direitista. Apenas alguns frentistas
votaram no líder cocaleiro.
O MNR tem 50 congressistas, e
o MIR, 30. Sánchez de Lozada
contou também com o apoio de
partidos conservadores menores.
A oposição parlamentar será
bastante significativa. Além dos
representantes da NFR, o governo
enfrentará uma radical oposição
dos 35 congressistas do MAS e
dos seis do MIP. Morales, que defende uma política reestatizante,
prometeu bloquear as estradas do
país, caso não fosse eleito, e até
pegar em armas para defender os
recursos naturais bolivianos.
Analistas dizem que o primeiro
embate deve ser quanto à exportação de gás (principal produto
do país) para os EUA. Discute-se
o uso de um porto peruano ou
chileno. A opção chilena é impopular, pois a Bolívia perdeu sua
costa para o Chile no fim do século 19. "Usando o descontentamento popular, Morales terá uma
oportunidade excelente de "aquecer os músculos" de sua proeminência popular", disse Zambra.
O presidente chileno, Ricardo
Lagos, disse que não comparecerá
à posse de Sánchez de Lozada para não criar constrangimentos ao
novo governo. Santiago e La Paz
(capital administrativa da Bolívia)
não têm relações diplomáticas.
A Bolívia tem 8,2 milhões de habitantes e a maior taxa de analfabetismo da América do Sul. Mais
da metade da população é das etnias quêchua e aymará.
Com agências internacionais
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