São Paulo, segunda-feira, 05 de agosto de 2002

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1º mandato foi marcado por reforma liberal

DA REDAÇÃO

Pode-se dizer que Gonzalo Sánchez de Lozada é o extremo oposto do líder indígena Evo Morales. Enquanto Morales vem de comunidades empobrecidas e marginalizadas, "Goni", como é conhecido o novo presidente boliviano, vem de uma família da elite nacional, tendo vivido muitos anos nos EUA e ocupado o Ministério do Planejamento e a própria Presidência, além de ser dono de uma fortuna vinda da mineração.
Formado em filosofia pela Universidade de Chicago, ele passou anos de sua vida nos EUA. No início da vida adulta, a sua dedicação principal foi o cinema.
Seu pai foi tanto embaixador boliviano em Washington quanto asilado político, durante as idas e vindas da política do país andino. Até hoje ele conserva um marcado sotaque. Seus opositores o ironizam, chamando-o de "gringo" e dizendo que ele fala melhor o inglês do que o espanhol.
Mas não é só na língua que ele se aproxima dos EUA. Sánchez de Lozada foi ministro do Planejamento de 1986 a 1988, durante o governo de Victor Paz Estenssoro. De um partido que se intitula "nacionalista" e "revolucionário", a virada foi grande. Ele acabou responsável pela implantação de um liberalismo bem próximo ao do Consenso de Washington.
Conseguiu baixar a hiperinflação de 25.000% (1986) para 16% (1989). Com isso, capacitou-se para disputar a sucessão de Paz Estenssoro, sendo o candidato mais votado no pleito de 1989 (23%).
Porém, como agora, a eleição teve de ser decidida no Congresso. Causando surpresa, o segundo mais votado de então, o ex-ditador Hugo Bánzer, apoiou o social-democrata Jaime Paz Zamora, terceiro colocado, que levou a disputa. Hoje, só os dois primeiros podem disputar o segundo turno.
Em 1993, Goni foi eleito presidente, mas ganhou dos opositores outra pecha: "vende-pátria", por causa de suas privatizações.
Sua gestão caracterizou-se pelo aporte de capital privado, com a abertura de empresas como as de gás e petróleo, as de eletricidade, as de comunicação e as de transporte aéreo e ferroviário.
O embate com os principais opositores das privatizações, notadamente a Central Operária Boliviana, levou o presidente a prender dirigentes sindicais e a decretar estado de urgência.
Hoje, analistas afirmam que sua política levará a Bolívia ainda mais próxima aos EUA, distanciando-a da influência do Brasil.
Dirigentes do MNR dizem que isso é bobagem. Lembram que foi Lozada quem assinou, em dezembro de 1996, o acordo que aproximou a Bolívia do Mercosul -o país é hoje, como o Chile, um associado (não-membro).
Mesmo pregando uma ideologia liberal, Lozada fez campanha prometendo criar mais empregos com uma maior intervenção do Estado na economia. (RU)


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