DA REDAÇÃO

Na última hora, os bispos da Igreja Episcopal dos EUA (nome oficial da Igreja Anglicana) decidiram adiar a votação que decidiria sobre a polêmica nomeação de Gene Robinson como o primeiro bispo assumidamente gay da denominação. O motivo foi o surgimento de denúncias de má conduta sexual contra o clérigo. A decisão foi tomada durante a convenção anual dos episcopais, que acontece em Minneapolis.
Segundo Jim Solheim, porta-voz da igreja, estão sendo investigadas acusações de "contato" e "pornografia" contra Robinson. O bispo Gorton Scruton foi indicado para conduzir as investigações, que serão concluídas "o mais rápido possível".
De acordo com o site de notícias da Igreja Episcopal, um homem chamado David Lewis enviou e-mail a um bispo anteontem acusando Robinson de tê-lo "tocado de forma inadequada" durante um evento religioso dois anos atrás.
"Ele colocava suas mãos em mim de forma inadequada toda vez que nós conversávamos", escreveu Lewis, que mora no Estado de Vermont. Segundo ele, Robinson "não mantém limites apropriados com homens".
De acordo com o porta-voz Solheim, "alguns bispos conversaram com o acusador" e confirmaram a existência da denúncia.

Internet
A segunda denúncia envolve a suposta filiação de Robinson ao site da ONG Outright (www.outright.org), destinado a homossexuais com menos de 22 anos. O site ofereceria links para sites pornográficos.
Delegados que participam da convenção, no entanto, afirmam que a acusação parece infundada.
Até o fechamento desta edição, Robinson não havia comentado as denúncias. Aos 56 anos, ele é divorciado, tem dois filhos e se relaciona há 13 anos com seu parceiro, Mark Andrew, que o acompanha na convenção.
Para o religioso Robyn Cotton, que apóia Robinson, as acusações são "absurdas". "Isso é terrível. É o assassinato de um caráter. É totalmente desnecessário", afirmou.

Tensão
Anteontem, um corpo formado por clérigos e leigos aprovou a nomeação de Robinson por 128 votos a favor e 63 contra -houve 25 abstenções. A votação de hoje ratificaria a nomeação do religioso, escolhido, no início de junho, bispo da diocese de Manchester, no Estado de New Hampshire.
A iminência da nomeação de um bispo assumidamente gay tem gerado uma forte reação da ala conservadora, que ameaça provocar um cisma no anglicanismo em todo o mundo, estimado em 77 milhões de fiéis -cerca de 120 mil no Brasil.
No EUA, os episcopais somam 2,3 milhões de seguidores, dos quais cerca de 25% seriam ligados à ala conservadora.
Alguns líderes conservadores querem romper com a Igreja Episcopal para se aliar a bispos conservadores anglicanos na Austrália, na Ásia e na África.
A ala liberal afirma que a ameaça de rompimento é exagerada, citando que objeções semelhantes já foram feitas após a ordenação das primeiras mulheres, em meados dos anos 70.
Neste ano, outro gay declarado, o inglês Jeffrey John, havia sido indicado para assumir um bispado no Reino Unido, mas desistiu após pressão dos conservadores.