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ANÁLISE
Ameaças a Cartum não ajudarão Darfur
ADRIAN HAMILTON
DO "INDEPENDENT"
Seria possível imaginar que, depois dos últimos 18 meses, a comunidade internacional tivesse
aprendido alguma coisa sobre como coordenar suas ações em caso
de crise. Mas não é o que estamos
vendo. Temos em mãos uma das
piores crises humanitárias de
nossa era, no Sudão, e continua a
não haver uma política definida
para enfrentar a situação.
Vamos enviar soldados, não podemos permitir uma nova Ruanda, dizem os partidários da intervenção. Vamos trabalhar por
meio de pressões diplomáticas sobre Cartum, argumentam os defensores da abordagem mais macia. E, entre os extremos, como
sempre, temos a ONU, fazendo
ameaças fúteis, sendo criticada
por sua ineficiência.
É a maneira errada de encarar
os fatos. Deveríamos ter aprendido a essa altura, no mínimo, que
abordagens "tudo ou nada" são
infrutíferas e em geral causam
derrotas. Houve pouquíssimas
crises internacionais recentes que
não fossem bastante óbvias antes
de explodir. E seria possível conter quase todas por meio de pressão preventiva em tempo hábil.
O Sudão é um exemplo clássico.
Alertas quanto a uma catástrofe
iminente vêm-se acumulando há
pelo menos um ano, mas até o
mês passado virtualmente nada
tinha sido feito para pressionar o
governo sudanês ou organizar
medidas assistenciais práticas.
Agora que a opinião pública internacional está preocupada com
Darfur, temos uma súbita intensificação das ações diplomáticas,
mas sem um objetivo claro.
Parte do problema, evidentemente, está na estrutura da ONU,
em sua falta de instalações e organizações permanentes de segurança e assistência, e em sua dependência quanto à formação de
consensos antes de agir. Essas dificuldades foram agravadas pela
Guerra do Iraque. No sentido
mais prático, a Guerra do Iraque
desviou as atenções do Sudão em
um momento crítico, no qual a
ONU e as grandes potências poderiam, de outra forma, ter concentrado seus esforços.
A idéia de uma "batalha de civilizações" engendrada pela invasão do Iraque é tão forte que os
muçulmanos relutam em ver
quaisquer medidas tomadas contra Cartum, por medo de que sejam parte de uma guerra ocidental contra seus correligionários,
enquanto os países da África e outras nações do Terceiro Mundo se
opõem a qualquer intervenção
alegando que isso abriria caminho para interferência ocidental
mais profunda nos assuntos internos de outros países.
Atitudes como essas são a última coisa de que os pobres moradores de Darfur precisam. Tampouco acredito que adiante muito
declarar que a situação deles é um
"genocídio", para forçar a ONU a
agir. O que está acontecendo no
oeste do Sudão não é o mesmo
que aconteceu em Kosovo ou
Ruanda, e não pode ser definido,
estritamente, como genocídio.
É simplesmente uma dessas
confusas tragédias locais e tribais
geradas pela privação e pela falta
de recursos e alimentada por interferência externa, pela presença
de um número demasiado de armas e por um governo que vem
empregando as forças árabes da
Janjaweed no local como prepostos para atingir seus objetivos políticos. Bombardear Cartum não
vai fazer com que a situação melhore. Mas não agir tampouco
propiciará melhoria.
Alguns dos elementos necessários a uma futura solução já existem. É claro que as propostas
atuais são modestas demais e chegam tarde demais, mas, se queremos impedir que esse tipo de desastre continue a acontecer, são
essas as avenidas que precisam
ser desenvolvidas para o futuro.
Tampouco ajuda muito que
procuremos um confronto direto
com o governo sudanês, a essa altura. Exigir que eles desarmem a
milícia Janjaweed imediatamente
é inútil. Cartum não deseja, e possivelmente não pode, fazê-lo. O
que a comunidade internacional
deveria fazer seria concentrar sua
atenção nos refugiados, garantindo mais assistência e construção
mais rápida de acampamentos do
outro lado da fronteira, no Chade,
e provendo forças de segurança
(de preferências não oriundas dos
países ocidentais) para proteger
os refugiados na travessia.
Essas medidas talvez não sirvam para proteger os moradores
de Darfur em suas aldeias. Mas
impedirão uma catástrofe e deixarão claro para Cartum que a comunidade internacional está
pronta para um duelo no ponto
onde isso é mais importante: no
local onde as vidas de civis estão
ameaçadas. Depois será possível
reforçar a pressão sobre Cartum
pela volta dos civis não por meio
de ameaças, mas enfatizando simplesmente que o Sudão não encontrará apoio ou assistência da
comunidade internacional até
que cumpra suas obrigações.
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