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Lógica do terror inviabiliza a paz
do Conselho Editorial
Sempre que há uma perspectiva,
ainda que tênue, de um avanço,
mesmo tímido, no estancado processo de paz, terroristas suicidas
explodem a si próprios, a outras
pessoas e às perspectivas.
O atentado anterior (ao mercado
Mahane Yehuda, em 30 de julho)
ocorreu no dia mesmo em que deveria viajar para Israel Dennis
Ross, enviado especial do presidente Bill Clinton para a região.
Ross tentaria tirar do pântano
um processo de paz que ficara paralisado desde que atentados terroristas minaram, no início de 96,
o governo trabalhista, responsável
pela obtenção de acordos interinos de paz com os palestinos.
O novo atentado acontece a quatro dias da viagem a Israel da própria secretária norte-americana de
Estado, Madeleine Albright, que
faria a sua primeira visita à região
desde que assumiu.
Albright, nas suas próprias palavras, gostaria de "reenergizar" o
processo de paz.
Como funciona a lógica do terrorismo? Basta seguir o raciocínio de
Saeb Erekat, principal negociador
palestino.
Ponto 1 - "O nível de confiança
entre nós e o primeiro-ministro
(Binyamin) Netanyahu está abaixo de zero."
Ponto 2 - "Precisamos de uma
terceira parte (para tirar do solo o
nível de confiança)."
A "terceira parte" seria Albright, que, aliás, havia condicionado sua primeira incursão ao
Oriente Médio ao restabelecimento de um padrão mínimo de segurança. O atentado de ontem demonstra que as partes não conseguiram tal objetivo.
A verdade de cada um
Mas a lógica do terror contribui
de outra forma para minar ainda
mais a confiança mútua entre palestinos e israelenses.
Permite que cada lado diga que
tem razão em seus argumentos.
Netanyahu poderá repetir o que
já havia dito na semana passada:
que o líder palestino, Iasser Arafat,
deu o "beijo da morte" no processo de paz, ao se abraçar com Abdul
Aziz Rantisi, o líder do Hamas.
Foi na segunda-feira da semana
passada, durante encontro pela
"unidade palestina", convocado
por Arafat.
Afinal, o Hamas assumiu, como
sempre o faz, o atentado de ontem.
É inevitável que uma parcela importante da opinião pública israelense veja Arafat de novo como o
"terrorista", e não como o prêmio
Nobel da Paz, que compartilhou
com Yitzhak Rabin, o assassinado
premiê israelense.
Mas os palestinos podem dizer
que o que chamam de "punição
coletiva" que Israel lhes está impondo, desde o atentado ao mercado, não funciona como arma
antiterrorismo.
O bloqueio dos territórios palestinos, a retenção de fundos que
pertencem à Autoridade Nacional
Palestina e são apenas coletados
por Israel, a onda de prisões feitas
nos territórios, após o atentado
anterior -nada disso impediu um
novo atentado.
Incontrolável
Mas a mensagem mais sinistra
emitida pela explosão de ontem é
essa: esse tipo de terrorismo, em
que os autores matam e morrem
no mesmo ato, é incontrolável.
Afinal, passado o primeiro momento de furor após o ataque ao
mercado, Israel e os palestinos reiniciaram a cooperação em matéria
de segurança.
Com um adendo: participa também a CIA (Agência Central de Inteligência dos EUA).
Ou seja, dois dos serviços de inteligência mais poderosos e eficazes do planeta (o israelense e o
norte-americano) não conseguiram, mesmo contando com cooperação palestina, nem identificar
os autores do atentado anterior
nem impedir o novo ataque.
A conclusão é inescapável: se e
quando Israel e os palestinos colarem os cacos da confiança recíproca, nada impede que outros fanáticos rompam tudo outra vez, à força de uma ou várias bombas.
É a vitória da lógica do terror.
(CR)
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